coisa mais linda

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- Passar esse negócio no cabelo é um saco, nossa, um saco! - Maria Bethânia, menina nova de dezoito anos, vinda de Santo Amaro; de frente ao espelho do camarim, passava um gel nos cabelos cor de castanho.

- É, eu imagino. Eu não gosto dessa coisa, não. Pó, um negócio muito... Muito sem noção. - Veloso soltava a fumaça do cigarro e o deixava entre os dedos, sentado na cadeira ao lado da irmã a observando.

- Eu conheci um cara esses dias. Ele é bem legal. Bom, ele é tímido, bem tímido, mas já tá se soltando comigo! Vocês se dariam bem.

- Por quê?

- Ele tá aprendendo tocar violão, ele gosta de João Gilberto, Tom Jobim; bossa nova. Curte Clementina de Jesus, Dorival Caymmi, Noel Rosa, essa galera que tu também curte. - A mesma já planejava tornar os dois amantes de bossa em amigos, era um plano. E o executaria perfeitamente.

- Ah, só?

- Ele gosta de Clarice Lispector, ele compõe música, essas coisas, Caê!

- Qual o nome dele? - Caetano se interessou. Não tinha ninguém no Rio como um amigo, somente colegas. Se sentia totalmente diferente de tudo daquela cidade, o fato da xenofobia que sofria ajudava. Se via como um indivíduo que não se pertencia àquele local.

- O nome dele é Francisco Buarque de Hollanda, ou o chame só de Chico. Ele é somente dois anos mais novo que você.

- Hum... - Veloso via a irmã passar um delineador nos olhos, enquanto tragava o cigarro.

- Um dia arrumo um encontro para vocês se conhecerem, o que você acha?

- Ah, pode ser!

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Chico tinha prometido a Bethânia que a viria em seu tempo livre, assim feito. Arrumou-se: colocou uma bermuda, um sapato de couro e uma camisa; iria à casa da Bethânia, não tinha do porquê se arrumar tanto.
Caetano, infelizmente, não estaria. Andava estressado por não conseguir fazer uma pestana no violão e saiu para dar uma volta. O silêncio que percorria na casa dos baianos é quebrado por batidas no portão, Bethânia corre para abri-lo, sabia que era Buarque, gostava de saber que era Buarque.

- Buarque, meu lindo! - Bethânia abraça o moreno que já tinha um sorriso largo posto no rosto.

- Oi, Maria! - Chico concede o abraço e deixa um beijinho no cabelo da mesma. - Seu cabelo tá bem bonito! - Chico afasta-se o suficiente para poder ver as pequenas curvas que se formam no cabelo de Bethânia.

- Obrigada! Por conta do creme ele acabou ficando ondulado.

- Por que 'cê passa esse gel?

- Por "padrões de estética".

- Ah... Tinha que ser.

- Venha, entre! - A menina puxa Chico para dentro, tranca o portão e já estavam conversando na sala, sentados no sofá.

Chico tinha entre os dedos um cigarro, e segurava uma latinha de cerveja com a outra mão. Ouvia atenciosamente as tagarelices de Maria, que somente bebia, não fumava.

- Menino, eu já te falei do meu irmão?

- Acho que já, não lembro ao certo. - Chico olhava para o interior da latinha, mexia com a ponta dos dedos na mesma.

- Bom, na última apresentação que fiz ele estava lá, eu comentei sobre você para ele. Ele falou que topa te conhecer!

- Ah, sério?

- Sim, sim! Ó, o nome dele é Caetano Emanoel Vianas Teles Veloso. - Chico olha Bethânia e se surpreende um pouco com o nome; Bethânia prossegue. - Ou só Caetano, ou Caê. Ele está aprendendo a tocar violão, é somente dois anos mais velho que você, gosta muito de João Gilberto, Clarice Lispector, Dorival Caymmi, as mesmas coisas que você! E ele é leonino! Então... Você já sabe.

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