Bárbara

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Caetano acordou cedo. Os cabelos desgranhados, a cara de sono, óbvio. Olhou para os lados e viu que nem Dedé e nem Moreno estavam mais no quarto, presumiu que ambos já tinham acordados, mas tão certo? Bom, tem ultimamente sido assim.
Veloso se levanta e lembra que teria de se apresentar com o Chico novamente. Isso o animou, Caê foi direto tomar banho, não queria perder tanto tempo mesmo que só fosse para o teatro as seis da noite. Essa empolgação foi por um instante, até quando lembrou que havia rejeitado o abraço do Chico.

Suspirou fundo, e, como em London, London, recolheu-se num abraço. - Hoje eu tento dar um abraço mais longo nele. Foi bem... Bom, talvez tenha sido um pouco babaca da minha parte. Eu converso com ele sobre isso. - Veloso termina o banho, e passa um bom tempo no banheiro finalizando o cabelo.
Desceu até a cozinha, sem antes dar um selinho em Dedé e um beijinho no Moreno, claro; comeu qualquer coisa na ansiedade de ver Chico.

- Caetano, por que cê tá muito apressado?! É cedo ainda, calma!

- Eu tô ansioso! - Disse de boca cheia.

- Deu para perceber... - Dedé continuou batendo o pé levemente no chão, com Moreno sentado em sua perna.

Chico fez igual. Estava com saudades de Caetano, mas aquele abraço rejeitado ainda estava na sua cabeça, não parava de pensar no Caetano falando que estava bom de abraços. Pensava ser por conta do passado. Que Veloso ainda sentia uma certa rejeição por conta da tropicalia, que havia acabado. E Chico imaginava que o psicólogo e a mente de Caetano ainda estava bagunçada, então não julgava, mas não podia negar que aquilo o magoou. Pensava em nem mais fazer nenhum tipo de contato físico com Veloso, mas achava isso radical até demais, Caetano só rejeitou um abraço, não havia que se importar. Mas... Era Caetano...

- Será que eu continuo sendo o namoradinho secreto dele? - Chico perguntava mexendo o café com uma colherzinha. Colocando-a na boca depois, e logo se perguntando outra coisa. - ... Por que eu tô preocupado com isso?

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- Chico, bem que você poderia cantar "com açúcar, com afeto" de novo, né?

- É... Talvez. - Ambos fumavam no camarim. Chico acabara de apagar o cigarro, sentado de frente ao espelho, e Caetano, de pé, continuava tragando o cigarro. - Tenho uma melhor.

- Qual?

- Bárbara.

- Hum... - Veloso soltava a fumaça e olhava Chico. - Por quê?

- Para escandalizar um pouco, bom, a música fala sobre uma relação homossexual... - Buarque olha a Caetano e desvia logo em seguida. - Entre duas mulheres...

Veloso riu e apagou o cigarro no cinzeiro, ao lado de Chico, repousando sua mão no ombro do moreno. - Vai ser ótimo! - Caetano olhou para Chico, mantendo um sorriso no rosto. - Eu gostei do seu cabelo assim.

- Gostou?

- Uhum! Ficou ondulado, ficou bonito. Gostei do bigode também.

- Hum, obrigado. - Disse com vergonha e abaixou um pouco a cabeça. - Seu cabelo ficou longo também. Ficou bonito.

- Obrigado! - A mão de Caetano, que estava no ombro direito, foi-se para a esquerda, lentamente. - Daqui a pouco a gente vai...

- É... - Chico arrepiou-se um pouco.

- Eu nunca fiquei com algo ruim quando subia em palco, mas ultimamente eu sinto um certo medo, sabe?

- Eu também, Caê... Mas vai dar certo, tá?

- Eu espero... - Veloso olhou Chico pelo espelho e começou a acariciar o ombro do mesmo. - Chico, eu queria me desculpar por ontem.

- Hum? Como assim?

- Eu ter rejeitado o abraço...

- Ah... Não, tá tudo bem.

- Não, Chico! Eu vi você tristinho... Desculpa. É que eu tenho me sentido meio... Meio estranho a certas coisas desde a prisão, então... Desculpa.

- Caê, tá tudo bem, eu entendo se você não se sentiu bem no abraço.

Caetano deu um beijinho no cabelo de Buarque. - Me desculpa, mesmo...

Aquele pequeno toque de Caetano fez o coração de Chico palpitar. Não sabia o porquê. Até sabia, mas preferia não acreditar nessa opção. - Tá bom, tá tudo bem...

//////////////// ♬ ////////////////

"Bárbara... Bárbara... Nunca é tarde, nunca é demais. Onde estou, onde está? Meu amor, vem me buscar." Cantaram juntos, cantaram em partes, mas cantaram como se eles fossem as mulheres da música. Muito menos Caetano, mas Chico sentia que Caetano era a Bárbara, e que Chico caminhava desesperada e nua.

A apresentação de ambos foi igual a anterior, somente com pequenas mudanças, mas não deixava de perder a ideia.

Ao terminares, Chico não perdeu tempo e convidou Caetano para sair com ele em um dia em que os dois estiverem livres. Caetano aceitou para compensar aquele abraço rejeitado, e agora quem não parava de pensar nisso, era Caetano.

- Bom, amanhã eu vou estar disponível, mas depende de você.

- Que coincidência Chi... Eu também!

- Então dá para a gente sair amanhã?

- Dá sim! Quer ir para onde?

- Não sei... - Tragou o cigarro. - Topa ir para praia?

- Eu topo. Me dá sua mão. - Chico estendeu a mão para Caetano. Caê pegou uma caneta do bolso e anotou na palma da mão do Chico, seu número e endereço. - Aqui!

Chico soltou a fumaça e olhou para sua mão. - Sua letra é bonitinha. Bom, amanhã eu te ligo, tá?

- Uhum!

Aquilo suou como uma despedida, mas Buarque fez questão de dar uma carona até a casa de Caetano. Ambos se despediram, agora definitivo, com um beijinho na bochecha.

- Até amanhã!

- Até, Caê! - Chico acenou e deu partida no carro, enquanto Veloso apenas olhava o carro de Buarque sumir ao virar uma esquina.

Veloso entrou de casa e rapidamente foi tomar um banho. Tirar o batom e dispensar todas aquelas roupas. Almoçou e ficou um pouco acordado brincando com Moreno.
E Chico, fumando na rede, brincava com Sílvia também.

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