1967

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Caetano, junto de Gal, haviam ambos lançado seu primeiro LP, "Domingo", ano passado. As composições eram de Veloso, e boa parte das músicas eram cantadas por Gal Costa, com a voz calma, lenta, como a de seu ídolo e o de Caetano, João Gilberto. Lançaram o disco no Rio. Gal, diferente de Veloso, era louca para ser cantora, a baiana sempre quis ser artista. Já Caetano não; Caetano queria mesmo é trabalhar com desenho e cinema, mas pintura deixava de lado por: "considerar melancólica a alternativa entre fazer coisas para burgueses pendurassem nas paredes", cinema deixou de lado também pela disposição para levantar financiamento, e tratos com pessoas. Foi para música.

Chico, ano passado, havia também lançado seu primeiro disco, "Chico Buarque de Hollanda". "A banda", "sonho de um carnaval", "Olé, Olá", "A Rita", entre outras músicas, foram um sucesso. "A banda" principalmente. Buarque chegou a participar do festival de MPB no mesmo ano, ficando em primeiro lugar.

Chico e Caetano continuaram se encontrando, às vezes pouco, às vezes muito; já chegando a se verem por duas semanas seguidas, já chegando a se verem depois de dois meses, coisa que ambos detestavam. Em 66, Toquinho, Chico e Caetano sempre eram vistos no Patachou, um restaurante francês na rua Augusta. Chico, que era nascido no Rio, mas criado em São Paulo, vez de Veloso alguém menos apavorado enquanto a São Paulo. Algo muito comum de se ver nessas andanças, era Caetano subir em algum ipê ou pitangueira. Já chegou a ganhar uma serenata de Chico, onde Buarque cantava, Toquinho tocava e Veloso ficava sentado no galho da árvore, observando os seus amantes. Veloso costumava chamá-los assim, e isso era algo até que comum de Veloso, homens em que sentia um certo interesse estético, recebiam esses "elogios". Um exemplo era o próprio Toquinho, Caetano ficava levemente gamado em suas coxas e a pele morena do rapaz, o que deixava Caetano meio alegre em alguns pensamentos homoeróticos que surgiam ocasionalmente na sua cabeça, brincando e chamando Toquinho de "meu noivo". Algo que, para quem recebeu o elogio de namoradinho secreto, ver o amigo sendo chamado de noivo... Era de se esperar que sentisse ciúmes. Caetano notava esse ciúme e ria com isso, sentia-se alguém malvado, por assim dizer, sabendo que causava esse ciúme no amigo. Caetano lembrava da vez que, os três bebiam na mesa do restaurante, e Caetano começou a chamar seu noivo de noivo, e se notava claro e evidente o ciúme de Buarque. Fechava a cara, revirava os olhos e tragava com um certo incômodo. Veloso notava isso e gostava tanto de vê-lo assim, que às vezes fazia só para provocar. Nesse certo dia, Chico estava igualzinho das outras vezes, não olhava nem para própria cara, quem dirá para de Toquinho e Caetano. Quando sentiu uma mão reconfortar seu joelho, ouvindo uma voz aveludada, com o sotaque baiano interiorano nela; "relaxa que você ainda tem um lugar especial no meu coração, 'mó.", O suficiente para fazer Chico parecer um morango de tão vermelho.

Foram se falando poucas vezes quando começaram a ganhar uma certa fama, ficavam ocupados com o trabalho, às vezes Caetano ligava para Chico e conversavam um pouco. Caetano tinha um olhar tão saudosista quando falava com Chico. Buarque queria Caetano, mas tinha medo de ligar por achar que o rapaz estava ocupado. Ambos estavam casados também. Chico com Marieta e Caetano com Dedé.

No mesmo ano ocorreu outro festival de MPB, onde Caetano foi convidado e ficou em quarto lugar com a música "alegria, alegria". Junto foi Gil e os mutantes, ficando em segundo lugar cantando juntos "alegria no parque", algo, calmo como uma bomba, estava surgindo nesse festival. Com Caetano cantando uma música tão oposta as de seu primeiro álbum, as roupas loucas dos mutantes, o pífano nordestino de Gil em mistura de outras coisas. Buarque cantou "roda-viva", uma música de protesto contra a ditadura, ficou em terceiro lugar.




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