Muito grande 2011

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Flávia tremia só de olhá-lo. O corpo do seu tio não era mais um corpo. Era algo gorduroso. Os mais de 200 quilos esparramando pelos lados da cama. Seus pais não queriam que ela entrasse no quarto depois do que aconteceu. Ainda bem que morreu! ela escutou seu pai falar um dia. Isso era bom? Claro que era bom! O infeliz só incomodava, e o Coitado do Danilo, pai dela não tinha dinheiro suficiente para tratá-lo. A panificadora dos seus pais gerava dinheiro para manter à família, mas... manter uma bola de sebo? Ah não, aí já era pedir muito. Flávia não lembrava muita coisa. Ela tinha uns 10 anos. Só lembrava que era um sábado e seus pais fechavam o negócio às 21:00. Ela devia ficar o dia inteiro com seu tio. Agora ele tinha um quarto. Não ficava mais naquele sofá. De vez em quando ele dava uns gritos para ela lhe trazer algo para comer. Flávia devia correr para ele não se irritar.

Nesse dia ela estava assistindo um vídeo no youtube, usava fone de ouvidos. Ao longe acreditou ter escutado alguma coisa. Não deu bola. Estava concentrada no vídeo. Como qualquer criança, tinha esquecido de sua responsabilidade com o tio Lovato. Só esqueceu um pouco. Ela tirou os fones acreditando que era seu tio gritando, pedindo um pedaço de torta de carne. Só podia ser ele! Tirou os fones. Levantou-se da cadeira bufando. Foi à cozinha batendo os pés. O sangue esquentando sua pele. Tirou a torta de carne. Cortou um pedaço significativo. Enquanto cortava a torta, estranhou o fato da bola de sebo não estar xingando-a pela demora. Será que ela tinha se enganado? Bem, isso não importava. Se fosse engano talvez levar um pedaço de torta serviria para agradar àquele insuportável e depois ela poderia ficar bem de boa no computador. Além do pedaço de torta, serviu em uma tigela umas 5 bolas de sorvete kibom.

Ela caminhou com presa ao quarto do tio, ainda estranhando o fato dele não estar xingando-a pela demora. Estava na frente do quarto. Devia colocar a bandeja no chão para poder abrir a porta. Agachou-se, deixou a... Merda! Engoliu em seco. Caiu sentada. Empurrou-se com os pés para afastar-se da poça de sangue que brotava da fresta inferior da porta. Quis gritar, mas não encontrou força suficiente para fazê-lo. O medo em sua garganta era um nó.

A porta se abriu.

Os olhos de Flávia esbugalharam-se.

A imagem durou segundos, mas foi como se tivesse durado horas. Seu tio era estraçalhado por... O que era aquilo? Garras? Presas? Um ser sem forma puxava os intestinos do seu tio. Tripas voavam por todas as partes misturando-se à gordura amarelada. O interior do quarto tinha se tornado vermelho. O que fosse aquilo, devorava as tripas, devorava a carne. Ela gritou. A criatura a olhou , mesmo sem ter olhos, e uma força jogou-a contra a parede. Ela bateu a cabeça e desmaiou.

No outro dia acordou no hospital. A sorte dela? Não lembrava da carnificina, mas lembrava do seu tio. Bem, para seus pais não foi difícil falar que ele tinha morrido. Claro que falaram que ele tinha morrido de uma parada cardíaca. Flávia acreditou e agradeceu. A única lembrança do tio era aquela antes de vê-lo morrer. Uma coisa gelatinosa e gordurosa sobre a cama. Grande. Muito grande. 

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