Às vezes acho que ele é um alienígena 2013

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Sempre a mesma discussão quando o sol se escondia entre tons laranja antes do anoitecer em Tormes. Nem Cristina nem Felipe — o irmão quatro anos mais novo — queriam ir comprar os pastéis que o pai tanto amava. Normalmente era ela quem sempre ia comprá-los. O irmão preferia não ir sozinho, tinha medo de passar na frente da casa do velho Miller, ou como todo mundo na vizinhança o chamava: o alemão. O local ficava sombrio a noite, a iluminação pública não acariciava a escuridão formada pelas árvores na fachada. Sempre parecia estar abandonado, e de noite nem uma única luz era vista de fora.

No início dessa noite, Cecília, a mãe de ambos, mandou-os a padaria comprar os pastéis para Luciano, s eu marido. Saíram de casa resmungando. Queriam continuar assistindo WWE, seu programa favorito, e no final do programa fazer o mesmo de sempre: correr ao quarto dos pais para imitar alguns dos golpes acrobáticos que assistiam com brilho nos olhos. Logicamente, em suas imitações épicas, Cristina sempre vencia, seus 13 anos a tornavam mais forte.

A padaria não era longe. Ambos caminhavam sob as luzes bruxuleantes dos postes. De vez em quando Cristina brincava de pega-pega, só para correr o mais longe possível do irmão e ouvi-lo gritar: Me espera! Se ela não o esperasse, ele contaria para a mamãe que o havia deixado para trás. Ela correu rápido, dobrou a esquina e continuou até a padaria deixando o irmão para trás. Logo ele me alcança, pensou ela.

Ao chegar na esquina, sem fôlego, Felipe parou para encher os pulmões. O cheiro adocicado da árvore de jasmim repousando no jardim — parecia não ser podado há séculos — da sombria casa de madeira do velho Miller, entrava fundo em suas narinas. Estava quase cara a cara com um de seus maiores medos. Engoliu em seco. Não tinha coragem de olhar a casa. Caminhou com pressa, uma energia pesada parecia pousar em seus ombros.

Faltava poucos metros para passar pela fachada da casa quando...

— Felipe!

Procurou de onde vinha a voz, mas não conseguia encontrá-la. Olhou para todos os lados. Era a voz de Cristina chamando-o. Prestou atenção. Não era possível! A voz vinha de dentro da casa do velho Miller. Ele virou-se lentamente tentando reunir coragem para encarar um de seus maiores medos.

Surpreso, viu como a silhueta da irmã assomava-se lentamente na janela, criando forma aos poucos naquela densa escuridão do interior da casa. O que sua irmã estava fazendo lá dentro?

— O que você está fazendo aí? — O olhar quase saindo do rosto.

— Você deveria vir aqui.

— Eu não vou, tá louca. Vou contar pra mamãe que você tá me assustando.

— Venha aqui, seu medroso.

Medroso, com certeza ele era isso, mas a curiosidade típica da idade o empurrou para o caminho desenhado no jardim, que mais parecia um matagal cuja altura passava da cabeça de Felipe. Ele adentrou com passos tímidos e uma mistura de sentimentos em seu pequeno ser.

— A porta está aberta — avisou ela da janela com um sorriso.

— O que você tá fazendo aí? — a voz dele estava um tanto quebrada pelo medo. O mais curioso era o sorriso torto esboçado nos lábios da irmã, nunca vira esse sorriso.

— Entre aqui. Me mostra que você não é um cagão!

— Tá muito escuro.

— Entra e você não vai ser mais um medroso.

E mesmo com o medo lhe mordendo a pele, entrou.

A casa do velho Miller estava escura como um dia de tempestade quando eles estavam em casa sem luz.

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⏰ Última atualização: Jan 31, 2023 ⏰

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