H A R R Y S T Y L E S
A música de fundo era baixa, quase imperceptível, mas o silêncio era tão ensurdecedor que era impossível não notar os tons melódicos do consultório.
Descruzei a perna direita apenas para cruzar novamente com a esquerda, tornando a posição mais confortável.
- Harry. - desviei o olhar do chão a encarando. - Eu gostaria de tentar uma abordagem diferente, que tal?
Franzi os lábios vendo a Psicóloga, de 500 dólares a hora, rabiscar no papel.
Aurora era uma mulher jovem, deveria estar na casa dos quarenta, mas pela aparência poderia facilmente passar por menos de 35. Os cabelos loiros estavam sempre presos num penteado quase formal, que lhe dava um ar elegante e sério.
- Um diário. - ela estendeu o papel e eu franzi o senho. Sério? Um diário? - Sei que parece besteira. - Não parece besteira, é besteira. - Mas acredito que, no momento, essa é a nossa melhor opção. - continuei encarando o papel com as instruções. - Harry. - levantei a cabeça encontrando seu olhar no meu. - Essa é a nossa décima primeira sessão, e você não falou uma palavra se quer. - engoli seco. - Eu quero ajudar você, então vamos tentar dessa forma, ok? - sua voz foi gentil e calma, o que de alguma forma, trazia algum conforto.
- Ok. - concordei guardando no bolso o papel.
- Saia daqui e compre uma caderneta, ou uma agenda, o que fazer você se sentir mais confortável. - ela fechou o bloco de anotações e se inclinou para frente ficando mais próxima. - Escreva o que você sente. Escreva todos os motivos pelo qual você sente que sente que deve estar aqui. - ela me analisou por alguns segundos. - Se não conseguir ser específico, escreva palavras aleatórias, apenas... Apenas deixe fluir. E o traga na quinta-feira. Pode ser?
- Pode ser. - Respondi ainda achando uma péssima ideia.
Brincava com a tampa da caneta enquanto observava o papel em branco. O que eu deveria escrever? "Querido diário?" Que ideia ridícula. Rolei os olhos fechando o caderno e jogando a caneta na mesa.
Suspirei e me inclinei para trás observando o teto branco. O barulho da chuva começava a se fazer presente e um ar melancólico se instalava junto.
O toque do meu celular despertou meu transe pelo teto.
- Styles. - respondi levantando da cadeira e indo até a cozinha preparar um chá. O tempo gelado pedia isso.
- Boa noite, Sr. Styles, desculpa incomodar tão tarde.
- Desembucha, Chloe. - resmunguei vendo que viria problema.
- Tivemos um problema com a rede da Style-s, já chamei os técnicos m-mas... o site está fora do ar há 40 minutos e não há previsão de volta. - sua voz ficou mais baixa na última frase.
Respirei fundo e apertei os olhos.
- E você chamou os técnicos? - perguntei para minha nova diretora.
- Sim, eles já estão aqui.
- Certo. Vá me mantendo informado, por favor. - não havia nada que pudéssemos fazer além de esperar.
- Boa noite, Sr. Styles.
- Boa noite, Chloe.
Larguei o celular no balcão e o observei por alguns segundos. Voltei a segurar o aparelho e meus dedos rapidamente apertaram play no voicemail.
- Amor? Você está bem? Por favor, estou preocupada... - sua voz era chorosa - Não importa o que você esteja passando, eu estou aqui para você, ok? - fechei os olhos ouvindo o conforto na sua voz. - Apenas... Apenas volte para casa.
Larguei o celular novamente no balcão sentindo uma lufada de ansiedade me atingir novamente. Encarei a data do voicemail. 01/01. Exatos três meses atrás.
Senti meus dedos apertarem a ponta do balcão e segurei a respiração alguns segundos. De novo não. Contei até 10 calmamente e larguei o ar que prendia. Fechei os olhos e respirei fundo mais uma vez.
Fiquei pelo menos cinco minutos inspirando e expirando até que a sensação passasse. Só então ouvi a chaleira berrando nos meus ouvidos.
Desliguei o fogão e fiz o chá tentando controlar a tremedeira que meu corpo estava.Com uma xícara de chá sentei novamente na cadeira de couro e encarei a folha em branco.
Peguei a caneta rapidamente e rabisquei a primeira folha. Engoli seco quando observei os dois nomes.
- Apenas faça com calma, deixe fluir. Você consegue, Harry.
As palavras de Aurora passaram na minha mente enquanto eu observava as duas palavras que eu escrevi quase que inconscientemente.
Emma
Amelia
Fechei novamente o caderno. Foda-se!
- Você trouxe? - Aurora indagou quando sentei na confortável poltrona em sua frente.
Apertei a capa dura em minhas mãos e estendi para minha Psicóloga que prontamente o abriu.
- Eu não consegui. - falei baixo.
- Você conseguiu. - ela fechou e o colocou em cima da mesa que estava em nosso meio. Seus olhos cuidadosos caíram em mim. - Como está se sentindo hoje?
A observei, mas nada saiu.
- Como foi sua semana no trabalho?
Nada.
Ela continuou a me olhar cuidadosamente.
- Harry... quem são Emma e Amelia? - sua voz foi mais calma que o normal, como se soubesse que estava entrando numa zona perigosa.
Desviei o olhar.
- Porque não começamos com... Emma? - a olhei.
- Eu não quero falar sobre Emma. - me surpreendi quando ouvi minha própria voz.
- E sobre Amelia? Você gostaria de falar sobre ela?
Mordi o interior da bochecha.
- Você acha que os seus episódios podem ter alguma ligação com elas?
- Eu não sei.
- Eu acho que você sabe, Harry. Me conte, - ela tirou a armação dourada do rosto. - Quando foi a última vez que você teve um episódio?
- Terça-feira.
- O que aconteceu com Amelia que fez você ter uma crise de ansiedade na terça-feira? - ela foi direta e eu a encarei surpreso.
- Eu...
- Você conversou com Amelia?
- Não.
- Você a viu?
- Como você sabe que é Amelia que causa? - retruquei.
- É Emma? - ela levantou as sobrancelhas. - Ou de repente é as duas?
Bufei. Que audácia dessa mulher.
- Harry, para eu poder lhe ajudar, você tem que querer se ajudar.
- Eu não mereço.
- Ser ajudado?
- É.
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THE DEVIL WEARS GUCCI - H.S PT
ФанфикE então foi que notei: ele estava me observando atentamente, anotando mentalmente minhas tentativas de ser elegante e adequada, e dando uma certa impressão de estar se divertindo. Condescendente e desajeitada sim, mas medíocre não. Ele foi o primeir...