distanced

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A sala de estar estava repleta de risos, conversas e perfumes.

— Querem algo para beber? — Ouvi meu pai perguntar educadamente.

Eu não ouvia a voz de Mon, mas podia sentir o mesmo perfume que senti no jardim há um mês.

— Essa é Samanun. — Minha mãe me apresentou, chegando mais perto das visitas. — Minha única filha.

— Oh! — ouvi uma exclamação feminina. Sra. Saeheng, conclui, sorrindo. Eu usava os óculos escuros, por isso, ela não podia saber se eu olhava ou não para ela. — Ela é linda. Mon me falou sobre ela há algum tempo.

Meu sorriso diminuiu.

— Vocês já se encontraram, querida? — Minha mãe apertou meu ombro levemente. Sua voz era de curiosidade.

— Sim — Não fui eu quem respondeu e sim Mon e sua voz doce. Ela estava perto. — Nos encontramos no jardim, por acaso.

— Entendo... — Ouvi minha mãe responder simpaticamente, mas eu sabia que ela estava surpresa — Que bom que já se conhecem. Sam não tem muitas amigas...

— Mãe. — Murmurei séria, tentando não fazê-la falar demais.

— Bem... — Ela continuou mudando de assunto. — Vamos nos sentar.

Meu pai, provavelmente já havia levado o Sr. Saeheng para conhecer seu escritório e coleções de livros, pois não ouvia suas vozes. Só ficaram Mon, minha mãe, a Sra. Saeheng e eu na sala.

Sentamos-nos. Minha mãe me acomodou no sofá maior e eu pude sentir alguém sentar-se ao meu lado.

— Está estudando, Mon? — Perguntou minha mãe, provavelmente sentando-se no sofá de frente para o qual eu estava.

— Sim. Estou no ultimo ano. — Respondeu ela, que para minha surpresa, estava ao meu lado.

— Mon logo estará fazendo os exames para entrar na Universidade — Comentou a Sra. Saeheng orgulhosa da filha. Eu podia imaginar seu sorriso. — Sam pretende fazer os exames?

Franzi o cenho. Ela só podia estar brincando comigo.

Minha mãe ficou quieta, talvez não conseguisse responder, assim como eu. Houve um incômodo silencioso, onde eu me permiti ficar quieta para não ser grossa. Minha mãe pigarreou.

— Acho que já podemos jantar. — Minha mãe devia ter levantado, pois houve uma locomoção de voz — Simone já deve ter posto a mesa. Vamos, Sam, eu te levo.

Estendi minha mão para pegar a de minha mãe, mas ao invés da mão macia a qual eu já estava acostumada a receber ajuda, senti que outra menor e um pouco gelada pegou a minha.

— Eu a levo a sala de jantar, Sra. Anuntrakul. — Mon se levantou e me ajudou a se levantar.

A mão de Mon me fazia sentir-se arrepiada.

— Obrigada — Murmurei mesmo que sentisse necessidade de ela largar minha mão.

— Peço desculpas pela minha mãe — Ela disse num tom mais baixo, enquanto caminhávamos para a sala de jantar.

— Não creio que seja você quem deva fazer isso — Respondi normalmente.

— Tem um degrau aqui.

— Eu sei.

— Minha mãe sabe que você é...

— Cega. — completei.

— Exato, mas acho que talvez ela... — Percebi que ela tentava arrumar alguma justificativa, sem ter sucesso.

— Não se preocupe. Você não devia estar fazendo isso e eu não me sinto ofendida.

— Você é sempre tão esquiva? — Perguntou Mon de repente, parando no meio caminho me fazendo parar também.

— Esquiva? — Repeti em tom de voz entediado. — Por que fala isso?

— Pedir desculpas é sempre um modo de aproximação. — Ela disse. — Já tentei te pedir desculpas algumas vezes, mas você sempre tem a língua afiada o bastante para fazer meus pedidos de desculpas parecerem ridículos e fora de hora. Você é sempre assim com todos que se aproximam de você? É por isso que não tem amigos? Acha que as pessoas se aproximam de você por pena, porque é cega?

Abri a boca para responder, mas a voz não saiu. Mordi os lábios, contrariada. Garota idiota! Ela não tinha razão em nada. Claro que não tinha! Mas se ela não tinha, por que eu sentia tanta vontade de chorar naquele momento?

— O que vocês duas estão fazendo aí, paradas? — Ouvi a voz divertida de meu pai e um riso alto, logo atrás dela. — Sam, aqui está Jake, pai de Mon. Pelo que me parece, já ficaram amigas.

Eu apenas sorri ouvindo o cumprimento de Jake.

— Vamos jantar? — Os braços de meu pai passaram pelas minhas costas e Mon soltou meu braço, instantaneamente. Eu não sabia dizer por que, mas eu me sentia aliviada por isso.

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twitter: @cmiladebnam

be my eyes - monsamOnde histórias criam vida. Descubra agora