Eles eram cinco. Jean, Marco, Connie, Sasha e Niccolo. Cinco amigos que moravam juntos.
O primeiro a ser infectado foi Marco. Um dia ele estava todo radiante e feliz, deitado de mãos dadas com Jean na cama, e no dia seguinte ele estava pálido e incapaz de falar. Ele não ria mais das piadas de Connie, tão pouco retribuía aos sorrisos carinhosos de Jean, e não comia mais as deliciosas comidas de Niccolo, nem mesmo quando Sasha as oferecia tão alegremente. Então ele simplesmente parou de sair do quarto. Todo mundo estava preocupado. Então, certo dia, quando Jean foi o verificar, Marco parou de respirar. Seu coração lentamente parou de bater, e ele deitou em sua cama, abraçado com o namorado que chorava tanto quanto qualquer vez em sua vida.
Seu quarto, que antes era cheio de desenhos nas paredes e fotos polaroids, agora é apenas vazio depois de sua morte.
O segundo foi Connie. Ele tinha parado com as piadas de tiozão, parecia incapaz de se concentrar. Incapaz de sentir. Lentamente, ele ficou mais pálido e mais magro. Com suas enormes olheiras e ossos quase aparecendo de tão ressaltados, parecia estar morrendo de fome. Ele parou de sorrir, parou de rir, e então parou de aparecer também. Connie morreu quando Sasha começou a adoecer.
E então o quarto deles, que dividiam porque eram melhores amigos, agora tinha apenas uma Sasha chorosa nos braços de Niccolo e caixas empilhadas no lado que costumava ser de Connie.
A terceira era Sasha, e Niccolo sabia disso. Assim como viu os outros dois amigos se afundarem lentamente, viu quando Sasha parou de sorrir também, quando parou de dançar, de falar, de comer... e de viver. Foi ele que, com pesar, escutou seu último suspiro, e beijou seus lábios uma última vez, sabendo que aquele cômodo mais vazio ainda ficaria.
O quarto já agora bem espaçoso dos dois melhores amigos ficou ainda mais frio, e agora apenas fotos deles residiam nas paredes, e eles não existiam mais.
Foi quando Jean percebeu que não tinha nenhuma solução. Ele havia procurado uma razão para a morte de Marco, mas nada. Ninguém sabia de nada. Nem os médicos, nem Niccolo, nem ele e nem ninguém. Connie e Sasha apenas confirmaram. E uma vez que ele percebeu isso, Niccolo ficou doente. Ele deixou de cozinhar, parou de falar, às vezes no meio de suas frases, e deixou de pensar em Sasha. Ele não conseguia mais manter seu raciocínio por muito tempo e então parou de reagir. Comidas, receitas, panelas... Niccolo simplesmente parou.
E quando ele se arrastou até a porta de Sasha, como um último lapso de memória e consciência, e morreu deitado ao lado da foto dela, seu quarto já solitário parecia ainda mais vazio.
Jean continuou visitando seus quartos. Como ele não poderia? Passava horas incontáveis deitado sozinho no quarto de Marco, rindo sozinho na parte de Connie e sorrindo sozinho no parte de Sasha, conversando sozinho no quarto de Niccolo, e fingindo sozinho em seu próprio quarto. O seu único sentimento agora era medo. Medo do mundo. De sua própria casa. De esquecer seus amigos... Medo de si mesmo. Ele não entendia mais. Jean queria escrever, desenhar, fazer alguma coisa, mas Marco não existia mais para ser sua inspiração. Jean queria ficar alegre, queria rir, mas Connie não estava mais ali com seus trocadilhos e piadas ruins. Jean queria dançar ou pular no colchão, mas a cama de Sasha era apenas vazio assim como ela. Jean queria ter uma conversa sincera, um conselho fervoroso enquanto prova uma sopa quente, mas Niccolo era apenas o nada. Jean só tinha medo.
Ele olhou para seu próprio reflexo. Até isso parecia assustador. Estava pálido, estava magro, estava quase não respirando. Jean estava tão vazio quanto aqueles quartos. Ele sentiu a dor aguda em seu estômago mais uma vez, então a dor em sua cabeça. Ele não tinha mais ninguém e sentia que estava perdendo também a si mesmo. Ele não podia lidar com isso. Ele olhou no espelho mais uma vez, sua vista embaçada o enganando com a alucinação de todos eles à sua volta. Foi demais. Aquilo tudo era demais.
Acabou agora. Jean estava deitado em sua cama. Ele não tinha ideia. Nenhum sentimento. Nenhum pensamento. Sem medo. Ele mal respirava. Ele estava mais pálido do que nunca. Ele sentiu dor em todas as partes de seu corpo. Nada fazia sentido. Qual era o significado de fazer sentido, afinal? Tudo parou. Ele parou de respirar, qual era o ponto de qualquer maneira.
Jean foi o quinto, mas todos descobriram tarde demais, quando o quarto estava cheio de pó, móveis velhos empoeirados e ossos podres sobre a cama, mas ainda assim, vazio.
Eles não eram cinco. Eles são cinco.
Cinco quartos vazios.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quartos Vazios
FanfictionJean, Marco, Connie, Sasha e Niccolo são cinco amigos que dividem uma casa durante uma pandemia mortal. ~ One Shot ~ !!DeathFic - gatilhos!!