CAPÍTULO VIII

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Quando chegou a praia Ao'nung já estava lá.

– Esperou muito?

– Na verdade acabei de chegar, você prefere ir agora ou quer esperar um pouco?

– Tudo bem a gente pode ir agora.

Ao'nun entrou na água chamando seu Ilu e Neteyam fez o mesmo. Foram todo o caminho até os recifes sem mergulhar para evitar que Neteyam tivesse uma reação semelhante à do dia anterior. Ao chegar ao local Neteyam desfez com cuidado a conexão e mergulhou deixando apenas parte do corpo submersa enquanto a outra se apoiava em seu Ilu.

– Está tudo bem, eu vou ficar aqui o tempo todo se alguma coisa acontecer eu trago você de volta, você só precisa lembrar das aulas, entendeu?

O Omatkaya fez um breve aceno com a cabeça indicando que sim fechou os olhos e respirou fundo, enquanto se preparava para mergulhar lembrou do que Tuk havia dito no dia antecedente. De fato, a fila permitia compartilhar os sentimentos, ver o mundo através da ótica do outro, ele sabia o que a irmã quis dizer com aquilo e essa poderia ser a solução para o seu problema, mergulhar durante a ligação tornaria a experiência do mergulho menos tensa.

Quando mergulhou no dia anterior era apenas ele e seus sentimentos, mas agora seria diferente ele veria o mar como seu Ilu vê sentiria o que ele sente ao estar na água, estava ciente de que seus sentimentos também seriam passados para o animal, mas esse era um risco a se correr.

Ele voltou a montar o Ilu refez a ligação e em seguida mergulhou, no início foi desagradável e o animal estava agitado, mas aos poucos seu corpo foi se acostumando a sensação da água fria que fazia seu coração desacelerar, a baixa temperatura da água lhe causava uma leve dormência evitando que ele sentisse qualquer desconforto enquanto estivesse lá embaixo.

Quando finalmente sentiu a necessidade de respirar Neteyam retornou a superfície sob o olhar atento de Ao'nung, ao alcançá-la sentiu o ar entrar rasgando pelos pulmões, a primeira lufada de ar era sempre a mais dolorosa.

– Acho que fui bem.

– Você foi muito bem. – Apesar de não querer demonstrar Ao'nung estava orgulhoso dele.

– Obrigado, você foi incrível – O garoto Omatkaya agora tinha voltado sua atenção para o Ilu e sorria enquanto acariciava o pescoço do animal que retribuía com guinchos e movimentos com as nadadeiras.

– Mais uma vez! – Ao'nung indicou com um gesto para que Neteyam mergulhasse novamente.

Fizeram isso algumas vezes e vez ou outra Ao'nung mergulhava para acompanhar Neteyam de perto.

– Por hoje chega, amanhã tentaremos novamente sem o Ilu.

Neteyam concordou e em seguida os dois se dirigiram para a vila.

Eles não se viram o resto do dia, Ao'nung tinha tarefas a fazer e Neteyam foi ajudar seus irmãos nas tarefas deles já que não havia recebido nenhuma tarefa específica.

A noite quando a família terminou de jantar Lo'ak saiu com Tsireya, Kiri estava indo deitar e Tuk estava com os pais.

– Tem certeza que não quer ir comigo Kiri? Vai ser legal dar uma volta na praia.

– Obrigada irmão, mas hoje estou muito cansada.

– Tudo bem então.

Ao passar pela porta Neteyam cumprimentou os pais e Tuk estava com eles.

– Eu vou com você. – A garota saiu correndo do colo da mãe e foi para o irmão.

– Não senhora, já esta tarde e você vai dormir – Neytiri não precisou nem olhar para fazer a garota parar de andar.

DEPOIS DA TEMPESTADEOnde histórias criam vida. Descubra agora