[04] Eu ia conhecer o amor e deixaria ele ir embora

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Meus olhos ficaram marejados no momento em que eu te vi sendo arrastado e sumindo na multidão.

Malu pareceu perceber, mas logo puxei-a pra pista de dança e ela pareceu seguir minha deixa.

Nós cantávamos todas as músicas de forma exagerada com os braços pra cima e de olhos fechados. Cantávamos com nosso inglês errado e nossa falta de ritmo. Cantávamos as letras que conhecíamos, as que não sabíamos e até aquelas que não tinham letras.

Nossa, como era bom ter uma amiga como ela.

- Malu, vou ao banheiro. Você me espera aqui?

- Amigo, vou com você - ela dizia analisando a situação da festa - Está meio vazio aqui e não quero ficar aqui sozinha

Nós fomos em direção ao banheiro e em uma das paredes do prédio que queríamos entrar, estava você e Ramon em um beijo que parecia muito agressivo para o meu gosto.

Eu e Malu nos entreolhamos e seguimos para o prédio.

Na volta do banheiro, ela parou na escada.

- Amigo, cê ta bem?!

- Estou, não bebi tanto - fingi não entender o que ela quis me perguntar

- João - ela aprofundou o tom - Tem certeza? Eu vi o jeito que você olhou para eles quando entramos

- Eu sei, só fiquei surpreso dele ter arrumado alguém tão rápido - Falei em um só fôlego - Nunca vi isso acontecer - minhas palavras saiam da minha boca como um desabafo profundo - honestamente, não acho que seria capaz de fazer isso

- João - ela respirou fundo - Eu sei que você está chateado, mas é a coisa mais normal as pessoas se beijarem numa festa - o tom dela era uma crítica ao meu ciúme infundado

- Eu sei, mas não me vejo como alguém confiante ao ponto de chegar em alguém em uma festa - Eu vomitava minhas palavras - Ou como alguém tão bonito a ponto das pessoas chegarem em mim

- Amigo - ela me olhou e pegou no meu rosto com as duas mãos de forma carinhosa - Você é lindo- eu olhava agradecido - Qualquer dia desses vou precisar te trancar no seu quarto para ninguém te roubar de mim e você descobrir que tem gente mais legal que eu nessa faculdade.

Ambos sorrimos com esse discurso bonito que ela tinha improvisado para ajudar com minha autoestima.

Coloquei minhas mãos no rostinho dela, admirei aqueles olhinhos de jabuticaba e deixei um beijo nos lábios dela.

Não foi um beijo longo e nem profundo. Demos um beijo doce e superficial, muito diferente do que eu tinha visto ela dando mais cedo no Lucas. Esse era estritamente sobre nossa amizade, sem nenhuma segunda intenção.

Foi um gesto de carinho para demonstrar o carinho que eu sinto por ela.

- Gente ?!?

Você assistiu o nosso beijo em choque no pé da escada

- Oi Pê - Malu disse largando meu rosto - Vamos embora?

- Por mim pode ser, estou com sono - respondi, olhando pra baixo

Fomos até a saída do prédio, esperamos o ônibus por alguns minutos e quando esse chegou, entramos os três. Malu morava mais perto da Faculdade do que nós dois, então depois de algumas paradas ela se despediu e nós continuamos nosso caminho.

- Gostou da festa, João? - você parecia mais sério que o normal

- Sim - respondi - Até que foi legal - Mentira. Tinha passado a maior parte dela pensando em como eu sou um otário por ter deixado aquele cara te roubar de mim

- Você e Malu se divertem juntos, né? - O que você quer dizer com isso?

- Sim - eu respondo - Hoje ela salvou minha noite - Se não fosse por ela, eu teria saído correndo chorando pelos corredores da ECA por te ver com outro cara.


Eu quis te dizer.


Mas não disse.


- E você e aquele cara? - Eu cuspi o nome daquele indivíduo.

- Ramon?

- Sim - tomei coragem para fingir que não estava me incomodando - você gostou de ficar com ele?

- Acho que sim - pareceu pensar - Ele é legal, mas não conversamos muito.

Só de lembrar de vocês se beijando naquele corredor, na frente de tanta gente. Ugh. Embrulha meu estômago. Até hoje.

- Que bom que você encontrou uma companhia - Ok, eu estava ficando bom nesse negocio de mentir- Bem que você disse que tínhamos que arrumar alguém

- Sim e você não ficou por baixo né?

- Oi?!

- Você e a Malu, até que vocês combinam - você não poderia ter errado tanto

- A gente só é amigo, Pedro - Porque isso parecia te incomodar?

- Claro. - Você estava bem sério.

Naquela época eu não sabia, mas você tem uma expressão bem característica de quando é contrariado, mas não tem argumentos que defendam sua insatisfação. As suas sobrancelhas se franzem, seu maxilar trava, seus olhos se cerram e sua boca se move muito pouco mesmo quando você fala.

- E você e aquele menino? Tem algum futuro nisso? - Perguntei curioso

- Não sei, mas acho que não. Não quero me envolver com o primeiro cara que beijei na faculdade.

Fiquei satisfeito com a resposta, não queria te perder tão fácil assim. Mas, sabia que tinha que tomar alguma atitude pra você saber o quanto eu te queria.

A sua parada de ônibus chegou e eu quis te puxar pelo braço e te dar um beijo muito melhor do que aquele cara te deu.

Ao invés disso, eu te assisti descer do ônibus e procurar as suas chaves no seu bolso em frente ao teu prédio.

Nossa, como é difícil a vida de otário.

This is not a love story - [PEJAO]Onde histórias criam vida. Descubra agora