[02] Eu sou aquele que se retrai

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Oi amores, segundo capitulo da fic!

Espero que vcs estejam gostando :)

Comentários e likes são sempre bem vindos <3


Depois de alguns meses, você já fazia parte do meu círculo de amizades. Nos fazíamos as mesmas aulas e até saíamos em grupo para beber, conversar, escutar música e ir a festas. Coisas que os calouros costumavam fazer na nossa época.

Numa terça-feira, depois da aula de Estética em Publicidade nós almoçamos no bandejão e fomos para minha casa. Estava tão calor que eu te ofereci a única toalha limpa que tinha naquele apartamento que eu dividia com cinco outros caras, para você tomar um banho.

Quando você saiu do chuveiro, seu cabelo estava molhado, a sua blusa estava colada no seu corpo e sua expressão era de medo.

- Que foi, cara?! Tinha espírito no banheiro? - te perguntei com deboche e curiosidade

- Tenho que te contar uma coisa - falava olhando pro chão

- Fala Pedro

Você se sentou no lado da cama, respirou fundo uma, duas, três vezes. Na terceira vez, você pareceu tomar coragem e falar.

- João, eu sou gay. - me olhou como se contasse um segredo de Estado.

- Tá bom - você pareceu surpreso. Não é como se eu não tivesse percebido alguns sinais, mas era bom ter a confirmação.

- Tudo bem pra você, né?

- Pedro, você está fazendo Comunicação na USP. Você acha que é o único calouro gay?

- Não - você riu - Mas, além da minha família e meus amigos mais próximos de BH, ninguém sabia - quer dizer, ninguém sabia por mim, mas acho que todos meio que desconfiam.

- Entendi, obrigada por contar - eu te sorri e você retribuiu o gesto

- E você? - perguntou curioso - Gosta de meninas?

Parei alguns segundos para tentar compreender o que eu sentia e como eu colocava aquilo em palavras. Eu sabia que gostava de beijar algumas meninas. Em Américo, eu já tive alguns dates com umas amigas, mas nunca evoluiu para nada mais profundo.

A gente se beijava numa sessão de cinema vazia, em um filme ruim e depois ia tomar casquinha passeando pelo shopping e falar sobre os filmes, músicas, novelas e tudo que tínhamos em comum e que sustentava o assunto da nossa amizade. Mas, não passava pela nossa cabeça um namoro, era só tesão dos hormônios florescentes da adolescência. Com você era algo novo, você me chamava atenção de uma maneira diferente.

Não é como se bissexualidade já fosse algo bem discutido em 2013, mas eu sabia que definitivamente queria você.

Meu Deus, como eu queria você.

Eu gostava de te ouvir cantar bêbado com os olhos fechados e as mãos pro alto em uma festa qualquer, adorava quando você ria em momentos desconfortáveis porque o constrangimento te excita e não te assusta, do jeito que você envolvia as pessoas na conversa com tanta facilidade que parecia que você nasceu conhecendo todo mundo que já pisou nessa terra.

Eu também te achava o homem mais bonito que eu já tinha visto. Gostava do seu cabelo, dos seus olhos puxadinhos, da sua barriga magra, dos seus braços longos e da sua boca carnuda. Quanto tempo eu ganhei pensando em você e no que eu faria se você me desse 0,1% de oportunidade.

Te olhei pensando no que responder.

- Eu acho que gosto - uma pausa - Só não sei se exclusivamente - suspirei - Tem alguns caras que me atraem - era mentira, até então você era o único que atraia sexualmente, os outros eu gostava de olhar e alguns até invejava, mas nada como você.

- Mas, não sei se estou pronto para definir algo.

- Tudo bem, só perguntei de curiosidade - um tom de constrangimento se estabeleceu no ar e pela primeira e talvez única vez, isso te incomodou.

- Acho que vou indo...amanhã tenho que acordar cedo e tenho que terminar o projeto de Fundamentos ainda - você se levantou e foi em direção a porta da minha casa.

- Tudo bem, a gente se vê amanhã então - eu não soube responder ao seu constrangimento, fiquei com medo de te chatear e te deixei ir.

Talvez eu tenha perdido uma oportunidade de começar nossa história de amor ali. Se eu fosse mais corajoso, teria te beijado apaixonado e descrito todas as sensações que você me fazia ter desde o primeiro dia que te vi. Mas, eu sou esse cara medroso e inseguro.

Honestamente, você era tão bom que eu estava contente só em conviver com você, mesmo que fosse como amigos.

This is not a love story - [PEJAO]Onde histórias criam vida. Descubra agora