Knox!

2. Amanhecer de um soldado

"E assim fez o Rei: jogou o traidor frente a uma manada faminta por sangue e coberta de ódio como forma de punição"

Especulações do mensageiro Kirk, o Botas de Pena, para uma multidão que o assistia na Praça do Surdo .

O dia que me convocaram para ser um soldado knoxiano foi inesquecível, de uma maneira ruim, óbvio. Todo jovem de dezesseis anos é suscetível a ser chamado para o Império Knoxiano. Era um plano de chamada e de estratégia para manter o efetivo de paz do Império, mantendo um número mínimo de soldados (ou subordinados; escravos, o que vocês quiserem chamar a gente) para ficarem a favor do Rei.
  
Existem dois Impérios em nosso mero país, e cada um constitui uma característica específica de guerra: Império Knoxiano (Cavalaria) e o Império Rutenberg (Infantaria). Ambos Impérios faziam esse plano de chamada, treinando seus soldados e os preparando para qualquer eventualidade que pudesse acontecer. E esse ano, eu fui chamado. 

O começo de tudo foi um inferno. Tive que ficar indo todos os dias quatorze dias em um período chamado “Introdução às práticas e costumes militares" na qual todos os soldados que estão começando na vida militar são obrigados a passar. Nos primeiros sete dias, somos introduzidos a “Ordem Unida” que seria uma formação habitual de marcha de uma tropa disposta em um dispositivo. Aprendemos a cadenciar nossos passos, obedecer a comandos e, também, como se comportar mediante a um superior.
  
No restante dos dias, eles nos ensinaram a como manusear espadas, machados, escudos e como se comportar em território inimigo.               
 
Neste período de quatorze dias, também, somos destinados a qual lugar trabalharemos no Império. Eu fiquei com a sala da forja, junto com Kruel, o anão ferreiro.
  
Até o último dia desses quatorze infernais dias estava tudo ocorrendo como o planejado. Claro, seria melhor se eu não estivesse nessa porcaria de lugar, até que nosso superior, o Cavaleiro de Aço Hills, chegou. Ele fez todos os soldados ficarem em um lugar da entrada do Império, perto dos estábulos dos cavalos que eram usados em tropas para marchas e inquisições, sentados, e começou a falar sobre o que iria acontecer no decorrer do ano na qual estávamos vivendo

- Senhores, bom dia. Devo dizer que estou impressionado com cada um de vocês. Esses dias que vocês passaram conosco foram um teste a fito de verem se vocês são capazes de seguir a rotina knoxiana. E olha, devo dizer que eu estou surpreso, um tanto quanto até satisfeito com nossos soldados.
   
Dizia Hills, com uma cara de ironia, mas no fundo do globo ocular dele dava para ver que ele estava um tanto quanto preocupado com alguma coisa.
   
- Esse ano estamos enfrentando uma crise enorme em nossa cidade. O trigo e o joio não estão rendendo mais do esperado, além do que as cabeças de vacas e bois estão dando um prejuízo enorme para o Império. O Império de Rutenberg está conspirando contra nós knoxianos. Eles viram a fragilidade atual e querem tentar nos roubar. Então vocês, como soldados, devem estar cem por cento atentos e em condições para uma eventual guerra. Bom, acho que já falei demais. Levantem-se, todos. - Disse ele, aumentando seu tom de voz.

- Não irei falar mais sobre isso, deixarei a cargo do Cavaleiro Pouts, que poderá explicar aos senhores bem mais detalhado. Soldados engajados a comando do Cavaleiro Negro Pouts.   

- Agrupamento a meu comando, permissão do Cavaleiro Hills. - Dizia Pouts, prestando continência e fazendo um movimento de ordem unida com uma espada de aço linda da cavalaria.

- Concedida, Cavaleiro Pouts. - Replicou Hills, prestando de volta a continência.

- Agrupamento, ordem, sentem-se todos.
  
O Cavaleiro de Aço Hills e o Cavaleiro Negro Pouts tem origens idênticas, porém, quadros de serviço diferentes. O Cavaleiro de Aço Hills nasceu em Knox e desde cedo se integrou ao militarismo, na qual seu pai também foi um soldado knoxiano. Se interessou, mais tarde, em aprofundar seus conhecimentos já dentro do Império, se tornando um Cavaleiro. O processo até chegar a esse posto é demorado e dolorido. O soldado tem que passar por alguns cursos: curso de soldado; curso de especialização em quadros militares; curso básico de cavaleiro; curso avançado de cavaleiro. O processo todo demora, em média, dez anos para ser concluído. No meio do curso de especialização em quadros militares, Hills escolheu ser o Cavaleiro de Aço, quadro em que este trabalhava na sala da forja. De porte físico magro, quase anêmico, Hills era aqueles que não serviam para a estratégia de guerra, nem tão pouco para fazer a linha de frente, mas sua inteligência era de se invejar. Para muitos soldados, era melhor que Kruel, o Anão Ferreiro. As espadas que ambos faziam eram de matéria prima de primeira qualidade. Dos ferros e aços das minas alvejantes; dos carvalhos das florestas de Knox; do fogo brando da grande forja da sala da forja e suas habilidades em desenhos rupestres eram os ingredientes para uma bela espada knoxiana.
 
Já o Cavaleiro Negro Pouts escolheu outro caminho. Durante o curso, Pouts se especializou em combates furtivos e inteligência de guerra, os chamados “Cavaleiros Negros” por conta do uso de sombras no terreno hostil para se infiltrar em territórios desconhecidos e eliminar o inimigo. Ele não era de nenhuma seção, apenas fazia todos os períodos básicos dos soldados mínimos recém engajados. Era ele que sabia de todos os procedimentos de ação e reação para uma possível investida inimiga. O Rei gostava dele porque ele treinava todos para uma possível guerra de tronos, deixando-os sempre preparados para qualquer eventualidade. Pouts era um cara grande, de porte físico avantajado, sem cabelo, e usava uma armadura de pano por baixo de um gibão com penas de algum animal que ele deveria ter matado no decorrer do curso dele.
- Senhores, faço das palavras do Hills as minhas. Essas duas semanas mostraram-nos que os senhores serão capazes de enfrentar o internato, que começará
amanhã, inclusive, além de vocês terem que ficar sob nossa cautela e…