Vou sentir sua falta.

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" Querida Natalie Ibanez,

Felicidades! Gostaríamos de informar-te que você foi aceita na Webster University. Ficamos impressionados com suas habilidades, dedicação e inteligência. Espero que celebre bastante com a nova, e boa notícia. Switzerland te aguarda. Classe de 1987!
Webster University."

"O que foi?" —Ele me perguntou.
"Não é nada"
"Me fala"
"Eu não sei como te falar, pois nem eu mesma estou acreditando...no início do ano fiz vários testes para diversos intercâmbios e universidades, para que quando acabasse os estudos aqui já tivesse vaga em outro lugar. Acontece que...eu fui aceita então deveria ficar feliz, mas pelo visto vou ir para a Suíça."
"Para a Suíça?"
"É, vou ficar 1 ano lá."
"1 ano?!"
" Eu não sei o que fazer em relação à nós."
"Mas...a gente acabou de começar nosso relacionamento."
"Eu sei, mas o que a gente vai fazer? Relacionamento a distância?"
"Não, não vai dar certo relacionamento a distância. Além da passagem ser cara, são 8 horas daqui até lá."
"Você tá certo. Eu não ia ter dinheiro para ficar vindo aqui te ver todo mês. Então isso quer dizer que...?"

"... eu acho que é a única opção Nat"
—Ele se levantou da cama com a respiração densa e um olhar melancólico, se atreveu a tentar falar algo mas se calou antes mesmo. Ele saiu do quarto e eu ainda estava sem reação, impossível que acabou assim. Jason era um cara o qual eu planejava casar-me. E o pior que a culpa foi toda minha de ter esquecido de avisar a ele.

Comecei a relembrar tudo que já fizemos neste último ano. Eu do início do ano ficaria tão, mas tão decepcionada ao saber que a culpa foi minha. Fico tensa só de pensar em um futuro próximo onde eu me casaria e teria dois filhos com um homem qualquer e me arrependeria amargamente de ter perdido o garoto dos meus sonhos.

Comecei a chorar com o rosto enfiado no travesseiro. Tinha a memória fotográfica muito boa, o que me permitia lembrar de cada toque, conversa, situação que já vivi ao lado dele. Ele era muito importante para mim, nunca tive a chance de me declarar e nunca terei. Lembro-me como se fosse ontem o dia que fomos à Paris, ou quando brigamos, ou quando fomos na premiação, quando ele me pediu em namoro, ou...uma hora atrás quando ele estava sentado na mesa, jantando quando contei aos meus pais que estávamos namorando. Será que ele sequer sabe que foi meu primeiro namorado?

E que foi o único garoto que amei de verdade?

Comecei a chorar muito até ouvir a porta se abrir, minha mãe apareceu e trancou a porta atrás dela.
"Por que está chorando?"—Ela perguntou se sentando na beira da cama.

"Eu fui aceita!"
"Onde?....Ah, na Webster?" —Balancei a cabeça como sinal de sim.
"Mas está chorando por que está feliz?"
"Não"
"O que houve?"
"O Jason, eu terminei com ele!"
"Mas, vocês brigaram? Vocês começaram a namorar a tão pouco tempo!"
"Como que eu vou namorar com ele estando na porra da Suíça?!"
"Ah...desculpa filha, eu sei que vai ser difícil mas, você é muito inteligente e não pode nem pensar em perder uma oportunidade única dessas!"

"Eu nem ligo para a porcaria desta escola, só queria estar com ele!"
"Acho que você se arrependeria ao trocar esta oportunidade por um garoto, namorados mudam, você sabe disso pois já gostou de outros garotos. Daqui a um ano nem lembrará mais dele..." —Esquecer ele é uma coisa que pretendo nunca fazer.

"Não! Não vou esquecer ele!"
"Você por acaso liga para o Jake?"
"...não é a mesma coisa."
"Como não?"
"Jake foi...não foi amor, não tinha sentimentos por ele eu só...sei lá! Não é a mesma coisa. Eu não choraria por ele, não planejava futuro para nós dois. Jason foi um dos únicos garotos o qual eu queria para o resto da minha vida, que já me viu de todas as maneiras, ele me viu aos prantos, feliz, em meu primeiro show, foi um dos únicos o qual eu deixei chegar perto do meu corpo. Brigar com ele foi a coisa mais difícil que eu fiz, me senti mal por semanas, já o Jake, eu poderia brigar com ele quantas vezes quisesse que eu nem ao menos ligaria. Eu nunca vou esquecer aqueles cabelos longos e castanhos dele, os cachos perfeitamente enrolados, os cílios longos, os olhos brilhantes e aquela cara idiota que ele tinha que me fazia feliz."

Ela nem ao menos disse nada, apenas sorriu e me abraçou por uns minutos. Quando se levantou vi sua camisa manchada pelas lágrimas quentes que percorriam minhas bochechas. "Boa noite filha"
Ela disse melancólica ao sair de lá.

Continuei chorando a noite inteira até meu corpo se secar. Quando acordei cedo de manhã meu rosto estava vermelho e inchado. Não havia conseguido dormir, passei a noite em claro. Peguei uma garrafa e coloquei chá mate com algumas pedrinhas de gelo, tomei durante as aulas para conseguir ficar acordada.

Estava lendo meu livro enquanto esperava a professora escrever todas aquelas equações no quadro, obviamente não iria copiar. Mary, uma amiga que senta ao meu lado, sacudiu meu ombro com força.
"O que foi?"
"Aqui!" —Ela me entregou um folheto.

"Para todos os formandos que tanto aguardaram,
23/11 vai acontecer sua tão esperada comemoração, esperamos todos! "

Estava prestes a falar a novidade para o Jason mas encontrei uma amiga sentada no lugar dele.
Guardei o panfleto em meu bolso, não vou.
Para que ir a uma festa dessas e ficar sozinha no "snowball dance", olhando todo mundo dançar músicas lentas enquanto estou sentada num banco sem ninguém?

Voltei para a casa de bicicleta enquanto Heaven—Bryan Adams, tocava em meu Walkman. Encostei a bicicleta em frente à garagem e ia entrar em casa. Mas me arrependeria, tanto, mas tanto, se não fosse falar com o Jason. Se for para nós dois terminarmos e nunca mas nos vermos, pelo menos quero o falar o quanto ele foi importante para mim. Fico angustiada só de pensar em nunca mais falar com ele.

Bati duas vezes na porta de madeira, ansiosa e nervosa esperando ele abrir a porta.
Assim que ele abriu a porta sentia como se fizessem meses que não o via, meus olhos se encheram de água novamente mas eu "engoli" as lágrimas.

"...Nat?"
Apenas o abracei, ele retribuiu o abraço e fomos andando para trás até entramos dentro de sua casa. Ele me abraçava tão forte que pensava que nunca mais iria me soltar.

Estava tão afoita que mal conseguia pronunciar uma palavra sequer. Mas só de estar em seus braços novamente, as lágrimas voltaram a descer meu rosto feito ontem.

"Eu te amo. Me desculpa não falar isso sempre. Eu te amo muito, você não faz ideia o quão importante você é para mim. Sinto saudades de você a todo instante. Me mata por dentro pensar em te ver com outra garota, Jase. E eu também não conseguiria ficar com outro cara sabendo que meu coração ainda é seu. Deveria ter me declarado antes, e dito tudo que sinto por você, enquanto você ainda estava aqui, comigo. O futuro me assusta, me assusta não te ver mais, não te ter mais, não ouvir tua voz ou sentir seu toque. Foi minha culpa não ter te avisado antes. O problema é que não vou conseguir progredir minha vida sem você."—Voltei a soluçar de tanto chorar, incapaz de completar o que ia dizer.

Ele cuidadosamente passou seus dedos calejados por baixo de meus olhos retirando as lágrimas que estavam caindo sem parar.
"Eu ainda estou aqui, Nat. Por você. Não se culpe, a culpa não é sua, tenha certeza que sofri tanto quanto você só em pensar não te ter. Mas eu temo que esse seja o certo. E talvez eu seja destinado a sofrer e te amar eternamente. Você merece ter um futuro bom, é muito inteligente e não quero te atrapalhar na sua vida. Você precisa ir, é uma oportunidade que eu não poderia te proporcionar. Eu te amo, não se preocupe em me ver com outra pessoa, sempre vou te amar."

Seus olhos se encheram de água e os meus idem.
Nos abraçamos novamente, chorando no ombro um do outro. Não tenho ideia do que fazer.

Segurei seu rosto com as duas mãos e selei seus lábios com os meus, o gosto salgado de nossas lágrimas se misturavam em nossas línguas.

Fomos até seu quarto e sentamos em sua cama abraçados. Ficamos assim por um bom tempo, acariciando um ao outro e trocando beijos.
Ah...como eu iria sentir falta de estar em seus braços.

𝓣𝓱𝓮 𝓑𝓸𝔂 𝓝𝓮𝔁𝓽 𝓓𝓸𝓸𝓻 -→  𝓙𝓪𝓼𝓸𝓷 𝓝𝓮𝔀𝓼𝓽𝓮𝓭 Onde histórias criam vida. Descubra agora