Insônia

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 Em uma noite sombria, perdido nas marés do tempo, e no vazio de um sentimento a muito abandonado. No escuro na morte da penumbra, numa jaula de eterno crepúsculo. Vagava uma alma devorada pela noite; a alma de um garoto que a pouco fora humano e agora era um pedaço do véu negro que veste a dama do anoitecer.

— Ainda está acordado!? — Pergunta uma voz que parecia de uma frágil garota. Parecia desesperadamente preocupada.

— Ei! Está me ouvindo! Não adormeça! Não feche os seus olhos! Ou ele nunca vai te deixar ir embora! Abra os olhos! — A voz não cessava gritando gritando "acorde".

O pequeno menino abre seus olhos para se encontrar no que parecia um campo de flores brancas, frágeis margaridas... Rodeavam toda a extensão daquele lugar, sobre um céu sereno e nebuloso, que tinha uma estranha cor de vinho. 

— Não durma! Não feche os olhos! Não feche os olhos! — Era difícil, as pálpebras do pequenino estavam pesadas, sentindo-se arrastado para um sono profundo, um sono eterno.

— Eu falo sério! Se você fechar os olhos denovo ele vai te manter, ele nunca mais vai deixar você ir! Ele vai comer você! Mantenha os olhos abertos! — O menino tenta se concentrar na misteriosa voz feminina que o guiava a não adormecer, por mais difícil que fosse.

Uma sensação profana se apossa da frágil criança, dois pares de mãos enormes pareciam envolve-lo, formando um círculo, elas eram frias, mas de repente se tornaram quentes e reconfortantes, elas circuncidavam todo o corpo do garoto, a sua textura passara de áspera para macia de uma hora para outra, e pareciam sussurrar uma canção de ninar, dentro da cabeça do jovenzinho.

— Não durma! Não deixe ele pegar você! — Grita mais uma vez a voz interrompendo a "paz". A voz estava abafada agora, sendo ligeiramente barrada pelos dedos e palmas que envolviam a pequena criança.

— Sssssh — Chia de dentro das mãos uma voz rouca e distorcida novamente, a mesma voz que interpelara a noite — Não tenha medo de mim... Adormeça criança e esqueça toda a dor, esqueça tudo, ceda para a noite.

— Não escute! Ele só quer devorar sua vida! — Grita a voz imprudente, e um delicado vislumbre atravessava as frestas entre os dedos que envolviam o menino.

O garoto abre imediatamente os olhos, se vendo preso naquele círculo de carne escura azulada, os trechos luminosos inundaram seus olhos, e as mãos começam a perder a firmeza. A voz começa a cantarolar com uma melodia fúnebre e ao mesmo tempo reconfortante.

Durma pequenino
Esqueça este mundo aclarado
E venha ser amado
Numa terra anoitecida
Onde sonhará com o sono
E o sono sonhará em você
[...]

A estranha voz vai perdendo a notoriedade até se dissipar totalmente. Enquanto o pequeno menino olhava para a luminosidade que invadia as garras, as mãos então se tornaram translúcidas, até deixarem de existir completamente, e o menino é solto contra o campo de margaridas. Dando um leve gemido ao impactar contra o solo. Diante dele estava uma figura e tanto.

— Olá! Qual o seu nome? — Pergunta a voz que acordara o menino do escuro interminável. Com um largo sorriso e uma postura simpática.

Não tenha medo do escuroOnde histórias criam vida. Descubra agora