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— Nome?

— Jeon Jungkook.

Jungkook estava ciente do que tinha feito. Sabia que estava condenado à morte. Era tudo questão de tempo.

O cheiro de café recém feito se misturava de uma forma estranha ao desinfetante barato que a funcionária da limpeza esfregava no chão, fazendo seu nariz coçar.

— Idade?

Os flashs das câmeras direcionadas a si minutos atrás, ainda estavam frescos em sua memória. Sua cabeça doía e sua visão ainda estava meio turva. Eram dezenas de fotógrafos famintos pela exclusividade daquela notícia, e o triplo de curiosos ali na sua porta. Não sabia diferenciar os gritos em apoio à ele, dos xingamentos de pessoas que facilmente o matariam. Seu estômago estava embrulhado, ele poderia desmaiar a qualquer momento.

— 21 anos.

Seu braço ainda doía da forma como os policiais o arrastaram de forma abrupta, quintal a fora, mesmo que Jungkook não tivesse resistido em momento algum. Toda aquela brutalidade, xingamentos baixos, o olhar de desprezo de sua mãe... Aquilo ainda o deixava chateado. Ser tratado como um criminoso era demais para si.

Mas afinal, não era isso o que era? Um assassino?

Então devia ser tratado como tal.

Mal sabia ele que a população não demoraria muito para se dividir entre aqueles que idolatravam Jeon Doyoung e que não descansariam até Jungkook estar morto, entre aqueles que passariam a idolatrá-lo e vê-lo como um verdadeiro herói.

Mas afinal, o que ele era? Um assassino, ou um... Herói?

Se formos analisar pelo pensamento da maioria da população, a cabeça de Jungkook seria facilmente servida em uma bandeja.

— Oh, garoto... Aposto que você não era o único que queria o Doyoung morto. Podia ter deixado esse trabalho para os radicais. — Disse o policial que o avaliava, com um olhar que Jungkook não sabia dizer se era irônico ou acolhedor. — Agora para se safar dessa... Nem se você for o cara mais sortudo desse mundo.

Era irônico.

Mas querendo ou não, era verdade. Doyoung não viveria por muito tempo, não na situação atual.

Amigo de infância de Jo Hanchul, atual presidente da Coreia, sempre tiveram a mesma mente perversa. Mas, diferente de Hanchul, Doyoung era quem fazia o trabalho sujo, quem dava a cara a tapa. Hanchul sempre fora o filho certinho, o aluno destaque que o único defeito era andar em más companhias.

Depois de crescidos, continuaram unidos, cada vez mais indignados com a política atual que parecia caminhar cada vez mais para o que parecia ser o vilão da época; O socialismo.

Mas o que parecia ser apenas uma opinião política, se tornou algo bem maior quando estes adentraram esse mundo, se deslumbrando com cada resquício de poder que lhes era atribuído, fazendo com que todas as idéias mais sórdidas não parecessem tão impossíveis.

E então eles se aproveitaram disso.

Lavagem de trilhões de wons, lista de pessoas mortas direta e indiretamente chegando a milhares, quebra de diversas leis governamentais, e o maior dos problemas; O início de uma ditadura militar no país, que já durava cerca de 12 anos. Não podemos esquecer também, o extermínio dos radicais e de minorias das quais eles consideravam uma ameaça, sequestros de crianças para testes laboratoriais, mulheres sendo tiradas de suas famílias para se tornarem bonecas sexuais da elite... Mas nem com isso, Doyoung se contentou. Hyuna não escapou.

Mas ao menos ela já era filha dele, não precisou ser tirada de lugar nenhum e nem morta. Já vivia seu próprio inferno em casa.

Mas ainda era melhor do que passar pelo aquelas mulheres passavam. Afinal, nem as da elite viviam uma vida digna. Ela ainda estava no lucro.

Jungkook já não pensava assim. Odiava seu pai desde que se entendia por gente. Sempre pensou diferente. Ele seria facilmente alguém infiltrado que ajudaria a derrubar toda aquela merda, e ele até tentou ser, mas não conseguiu esperar. Teve que matar aquele filho da puta primeiro.

A verdade é que aquele governo autoritário estava prestes a cair por terra. Não ia demorar muito, porém, demoraria tempo o suficiente para que Jungkook fosse julgado.

Mas Jungkook não se arrependia, nenhum pouco. Se pudesse voltar no tempo, só teria feito o que fez o mais cedo possível, evitando que sua irmãzinha passasse pelas coisas terríveis que fora obrigada a passar.

— Vou te levar pra sua cela provisória agora. — Disse o delegado que o interrogou, com um sorriso um tanto estranho no rosto.

Jungkook se levantou para acompanha-lo. Sentiu vontade de fazer uma careta quando se mexeu, pois ainda estava algemado, e as algemas estavam apertadas demais - talvez, propositadamente - mas se conteve. Se recusava a esboçar qualquer tipo de reação.

Não sabia se aquele homem estava contra ou ao seu favor, realmente, era um cara estranhíssimo.

Achou mais estranho ainda quando o delegado passou pela porta, mas deu um passo para trás e fechou parcialmente a porta, deixando só sua cabeça para fora. Ouviu alguns murmúrios, mas não conseguiu entender uma palavra sequer.

Depois de trinta segundos, que lhe pareceu minutos, conseguiu escutar: — A ordem é essa.

O delegado voltou, dessa vez, sem o riso irônico nos lábios. Virou para si.

— É, Jeon, você não está com muita sorte hoje. Recebemos ordens para te mandar direto para a cadeia.

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⏰ Última atualização: Jul 19 ⏰

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