Era carnaval em Maceió, os bairros já estavam cheios de gente disposta a se embebedar. De amores, de álcool, de vivências e sensações. A cidade estava tomada pela festa, as pessoas vestiam roupas coloridas, glitter pelo corpo, maquiagens extravagantes e músicas altas ressoavam nas caixinhas de som.
Era o primeiro carnaval de Amélia e Maria Júlia juntas, e naquele dia em especial, iriam para o famoso bloco do pinto da madrugada. Maju estava vestida de diabinha, clichê, mas não perdia o encanto carnavalesco. O corpo bonito estava coberto por short vermelho curto e justo e um top na mesma cor revestia os seios, ao passo que uma tiara de diabinha lhe enfeitava os fios. Amélia vestia uma fantasia de anjinha, os cabelos crespos soltos e o riso de canto costumeiro preso em seu lábio enquanto assistia a namorada terminar de se arrumar. Sua roupa era composta por um top branco e uma saia de tule no mesmo tom, tendo em suas costas asas de anjo.
Namorada.
A palavra brincava em seus lábios, serpenteava em sua língua, viajando pelas papilas gustativas e tornando aquilo mais real. Era carnaval em Maceió, mas nada se comparava a escola de samba que Maria Júlia fazia no coração de Amélia. Estavam oficialmente juntas a pouco mais de seis meses e seria a primeira vez que passariam a festa somente provando uma da outra. Não haveriam outras bocas, outros corpos, haveria somente as duas mulheres mais apaixonadas da cidade.
Estavam no apartamento que dividiam, se preparando para sair por aí, se metendo em bloquinhos carnavalescos, se beijando pelas vielas, e vivendo o carnaval na boca uma da outra. Elas sabiam o que diziam sobre amores que começaram no carnaval, mas o delas não havia começado naquela festa anual, mas sim muito antes, nas praias de Maceió, em meio a caipirinhas e petiscos de beira de praia.
Já prontas, Amélia e Maria Júlia pediram o Uber que as levaria para a orla Maceioense, onde a maioria das prévias carnavalescas se concentravam. O carro não tardou, e logo estavam na beira da praia, apreciando a música animada e aquela energia gostosa de carnaval. O cheiro característico da orla era bom e a sensação de estar ali era melhor ainda.
Tinha confete pra tudo quanto é lado, a música alta gritava em caixas de sons enormes e gente bonita passava por ali o tempo todo. Amélia gostou das cores, da vivacidade, gostou de ver beijos roubados em meio a multidão e gostou mais ainda da liberdade e segurar a mão da sua garota. Com tanta gente ali, Amélia não achava que iriam sequer prestar atenção nas duas.
ㅡVem, vamos comprar uma cerveja.ㅡMaju lhe puxou para perto de uma vendedora bonita que ali estava, comprando duas latas de cerveja para ambas.
A bebida desceu geladinha na garganta de Amélia, que esperou Maju tomar um gole da sua própria para roubar um beijo sem vergonha da boca dela. Porra, era carnaval em Maceió, mas quem fazia festa era Amélia, porque ela estava beijando a mulher mais linda da avenida, a mulher mais linda do bloco todo. Tocou a cintura coberta pelo tecido vermelho, a puxando para a si. Na avenida mais movimentada de Maceió, rodeada por gente se apaixonando, por gente se embriagando, ela beijou sua mulher.
Era a primeira vez que a beijava tão intensamente em público e ela sentiu o gosto da liberdade escorrendo por seus lábios. Maria Júlia ria em meio ao beijo, uma das mãos enfiadas no cabelo crespo da namorada e a outra segurando a latinha de cerveja.
ㅡGosto quando me beija de surpresa. ㅡMaria a confidência, meio risonha. Ela era toda alegria em sua fantasia batida e olhos brilhantes.
A paulista tocou o nariz dela com o seu, sorrindo de lado.
ㅡGosto de te pegar de surpresa. Você fica molinha, molinha.ㅡ Sussurrou a última frase ao pé do ouvido dela, sentindo-a derreter sob seu toque firme.
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Sobre todos os bloquinhos que você fez em mim
Short Story"Foram poesia quando dançavam de olhos fechados, e não havia nada mais poético do que duas mulheres lindas e donas de si provando do sabor da existência. Era bom porque elas estavam ali, no meio da avenida, com o cheirinho de mar adentrando suas nar...