CAPÍTULO VIII

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Passei vários meses fabricando venenos, servindo de cobaia em situações tão perigosas que várias vezes achei que fosse morrer, Arlen parecia divertir com a situação mas ao menos era honrado e me pagava exatamente o que devia, nem menos nem mais.

Voltamos para casa depois de um longo dia exaustivo, estávamos sujos e ensanguentados até eu estava ensanguentada e nem sei como consegui que tanto sangue estivesse sobre mim, na missão de hoje precisei me passar por uma amante barata e seduzir um elfo em Milo, foi difícil não sentir meu coração se estilhaçar em milhões de pedaços ao retornar ao meu antigo lar, ao ver onde comi torta de mirtilo pela primeira vez, todas aquelas lembranças me quebraram por inteiro, mas agora estou de volta ao lugar no meio do nada junto com assassinos que não dão a mínima se vivo ou se morro e preciso suportar tudo isso.

- Argh! - Kotta resmungou irritado - Todo esse sangue me dá nojo, mal vejo a hora de vestir roupas limpas e perfumadas.

- Por favor coloquem as roupas do lado de fora - pedi - Já estou descendo para o riacho para lavar.

- Mas estou faminto, não pode ir antes de preparar uma refeição. - Arlen diz sorrindo informalmente.

- Como é? - perguntei indignada, eu estava suja e cheia de sangue.

- Tire as roupas sujas e troque por limpas, depois que me fizer algo para comer pode ir ao riacho.

- Eu estou suja Arlen.

- Então lave as mãos, estou com fome princesa e até onde me lembro pago a você para preparar as refeições, a menos que queira que eu mesmo prepare mas terei que descontar do seu salário.

Olhei para Arlen com ódio e ele sorriu docemente exibindo as presas longas e afiadas. Nunca senti tanto ódio por ele na vida.Troquei minhas roupas sujas e coloquei roupas limpas, então fui preparar a refeição que ele tanto queria.

Na cozinha estávamos a sós, pedi educadamente para que ele me deixasse sozinha até a comida estar pronta mas ele se recusou, disse que queria me ver cozinhando exclusivamente para ele, revirei os olhos e comecei a picar alguns legumes ignorando tudo o que ele falava.

- Não pode me deixar falando sozinho princesa. - permaneci em silêncio - Olha... não sei se percebeu mas desde que veio morar comigo...

- Correção: desde que você me sequestrou. - ele acena com a mão mostrando que isto era irrelevante.

- Desde que veio morar comigo - repetiu - Está mais bonita. - parei de cortar, odiei que ele estivesse certo. Não estava mais pálida e magra pelo contrário, minha pele adquiriu um tom moreno bronzeado pelo sol e ganhei peso, mas não muito, apenas o suficiente para me devolver minhas curvas. - Até você concorda.

- Eu não concordei.

- Mas sabe que é verdade, olha só essas curvas, que delíci.... - ele nem teve tempo de terminar pois joguei uma panela em sua cabeça, o impacto foi tão forte que derrubou Arlen da cadeira. - Porra! Por quê?

- Me chame assim outra vez e não será uma panela. - digo segurando uma faca.

- Ai! - ele esfrega o local que sangrava - Acho que fez um corte, se esqueceu que agora tem a força de um imortal?

- Mas eu não sou imortal. - cruzo os braços.

- Mas tem a força de um. - ele se aproxima e afasta a mecha de cabelo suja de sangue da testa - Tá cortado? - aceno com a cabeça - Meu rostinho! Meu lindo e charmoso rostinho! O que fez com meu belo rostinho.

- Nenhum de vocês pode curar?

- Claro que pode, mas vai ficar a cicatriz.

Pego a panela do chão e Arlen se afasta bruscamente.

- Nem ouse usar esse panela.

- Então me deixe sozinha.- ele se recusa - Qual o seu problema? Eu não vou fugir caramba! Só quero fazer a droga da sua comida em paz.

Arlen solta uma gargalhada enquanto pressiona o ferimento, gargalha tão alto que me sinto constrangida, nunca vi algum deles rir assim.

- Não me preocupo que fuja princesa. Testei seus venenos e percebi o quão potente eles são, não precisa ser um gênio para imaginar que pode tentar me envenenar e eu só iria perceber quando entrasse na minha outra vida.

- Talvez eu tente.

Arlen se senta novamente e me observa terminar a refeição.

Então me dou conta de algo, pensei em diversas formas de fugir, estou me submetendo a trabalhos exaustivos e perigosos e nunca pensei no poder maravilhoso que tenho em meu quarto e em meu poder.

Não preciso fugir ou comprar aquele pedacinho de terra, posso fazer mais, posso fazer algo ainda mais incrível e extraordinário, posso não apenas me livrar mas também livrar o mundo desse demônio.

Passei tantas noites chorando até pegar no sono com minha arma bem ao meu lado e dentro de mim e nunca nem cheguei a cogitar essa possibilidade dada pelo ser que mais odeio na face da terra.

Posso simplesmente me apossar da guilda e livrar Caliandra de todo esse sofrimento, posso fazer com que os inocentes deixem de serem mortos injustamente por causa da ganância de um elfo medíocre narcisista e com um ego inflado.

Eu irei estourar seu ego e acabar com todo seu império, irei destruir tudo o que ele conquistou e não terei piedade assim como ele não teve piedade de nenhum elfo que ele matou.

- Sua comida. - dou um sorriso frio.

- Quer se juntar a mim?

- Acho que prefiro ir para o meu quarto.

No meu quarto analiso as variedades perfeitas e incríveis de veneno que eu mesma desenvolvi usando o poder do domínio de Cadman para criar ervas venenosas poderosas. Uma única dose é capaz de derrubar um cervo, então o que um pode inteiro pode fazer com um único elfo?

Meu sorriso se abre só de pensar na possibilidade de ver Arlen morto aos meus pés enquanto todo o controle da guilda vem para mim.

Prometi a mim mesma que jamais mataria outra vez, que não me tornaria igual a ele, mas Arlen não pode continuar vivo... Arlen precisa morrer e só uma pessoa pode fazer isso e serei eu.

Eu irei matar Nortis.

A BATALHA FINALOnde histórias criam vida. Descubra agora