Memórias Póstumas de um simples borboleta

Capítulo Único

Memórias póstumas de uma simples borboleta

O último bater de asas que vivi, sentindo o ar escapar pelo que acredito ser meus pulmões, (se é que tenho pulmões). Sentirei saudade da brisa da manhã, da simplicidade de admirar as flores pela tarde com outras borboletas... aaa que lindas borboletas. Já vi borboletas de todas as cores e estampas, algumas imensas e outras tão pequenas, que uma mosquinha pudesse atormentá-la.

Agora que parti, percebo que a minha minúscula vida foi a melhor que pude ter, vivi tudo aquilo que poderia, eu fui livre do meu pequenino casulo até a minha morte, em nenhum momento deixei de aproveitar o que eu tinha, mesmo que fosse durar só por uma semana.

Brinquei com várias flores e borboletas, me prendi a uma teia de aranha e escapei com vida, pousei no nariz de um cachorro fofo e ele deu um espirro mais fofo que ele, descansei em uma janela de um quarto, era de uma garotinha de 3 anos que ficou admirada com as minhas cores, fiquei rodopiando no ar para ver ela rindo.

Ouve um dia, em que algumas crianças correram atrás de mim, com potinhos em mãos e rindo. Voei o mais rápido e alto que pude para não me pegarem. Minha vida era muito curta para um simples capricho infantil. Minha vida era preciosa demais para perdê-la. Perder a minha liberdade.

   Flores, o que mais sentirei saudade serão as flores, tive 7 dias e 6 noites de vida e metade dela foi ali, naquele jardim cheio de rosas, margaridas e as minhas favoritas, as papoulas. O jardim era de uma senhora, acredito que tinha 72 anos quando ela se foi, ela passava horas regando as plantas e sentada num banco, admirando-as, gosto de pensar que também me admirava. Hoje, a neta dela deve cuidando da casa, conheci ela pequena, ela visitava a avó dia sim dia não, corria e pulava pelo quintal sorrindo e rindo como sininhos tintilando. Espero que ela esteja cuidando bem das papoulas.

Não estou triste de ir, espero ir para um lugar lindo, igual a casa daquela velha senhora.

Maria Rasera