Coração não alienígena

Registro 1: A primeira batida

Eu me lembro da primeira vez que te vi. Abri os olhos e lá estava você, ao lado da minha cama, checando a bolsa de soro. Minha visão estava embaçada, mas eu pude notar que você era a pessoa mais bonita que eu já tinha visto, você era um espécime perfeito da raça humana (não que eu pudesse admitir isso na época).

Soltei um gemido, de dor.

Você me perguntou se eu estava bem, como eu estava me sentindo. Já haviam me feito essas perguntas algumas vezes desde que eu cheguei neste mundo. Mas nunca significaram nada para mim. De onde eu vim essas perguntas nunca são feitas, porque são desnecessárias, porque lá ninguém se importa com isso. Então, toda vez que me perguntavam isso, eu simplesmente respondia "Sim, estou bem!", e as pessoas me deixavam em paz. Foi apenas uma vez para fins de pesquisa, que eu respondi "Não, eu não estou bem" e então, uma nova rodada de perguntas começou: "Por quê? O que você está sentindo? Posso te ajudar com alguma coisa?" e por aí vai. Como não tinha respostas, apenas balancei a cabeça de modo confuso e tudo que sei é que depois disso fui parar no hospital, na frente de um doutor, tentando responder mais um monte de perguntas. Alguns exames depois, eles me colocaram numa lista de espera. Eu voltei para o lugar onde estava morando e esperei. O que quer que eu tenha feito nesse meio tempo, realmente não importa.

O que importa é que, quando você me fez aquelas perguntas, eu senti vontade de chorar. E eu não sei o porquê. Acho que você percebeu a minha confusão, porque começou a me explicar todos os procedimentos pelos quais passei, e um monte de outras coisas que, honestamente, não conseguia entender. E então aconteceu, uma lágrima caiu do meu olho.

Você segurou a minha mão e me disse que a cirurgia tinha sido um sucesso, e eu ficaria bem.

E pela primeira vez na minha existência, eu senti algo. Estava batendo dentro do meu peito, era um coração.

Um coração humano!