PRÓLOGO

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Quando o Aristos Achaion finalmente desperta de seu sono, nada enxerga que não fosse as suas próprias trevas. Seu mundo havia se tornado escuro e vazio, e o próprio já não sabia a quanto tempo estava naquela estado. O que eram dias, horas ou anos no Mundo dos Mortos, afinal? A natureza do mundo dos vivos não podia ser aplicada em um lugar como aquele — e muito menos a aqueles que lá habitavam.

A eternidade dos mortos não precisava ser medida, e mesmo que o tempo não corresse, o príncipe sem reino se sentia exausto pela tão eterna espera.

Talvez não fosse questão de tempo, propriamente dito, mas sim do peso da sua própria pós-existência naquele mundo moribundo. Uma vez, quando criança, sua mãe lhe contou histórias sobre mortos que tinha a sua natureza mudada graças aos seus vícios e desejos mais obscuros... seria ele, um deles? Será que o rancor mesclado com o seu arrependimento estariam  tragando aos poucos toda a suavidade do amor que ele havia jurado tanto proteger?

Ele não sabia a resposta, sequer conseguiria pensar em uma se pudesse; a única coisa que poderia fazer era esperar. Esperar pelo fim de uma guerra, pelo o fim de uma vida e pelo fim de uma condenação injusta. O príncipe de Fítia não entendia como, mas havia escapado de sua punição, porém o Pátroclo...

PÁ-TRO-CLO.

Em uma questão de segundo, uma explosão de estrelas aconteceu em seu peito obscuro. Tão brilhante e quente que cegou a sua visão por alguns instantes. Quando a sensação havia abandonado o seu peito, o Aristos Achaion se perguntou se aquela era a sua resposta?

Seria aquela a resposta? O que mais ele poderia fazer a não ser limpar a sua alma às margens daquele Rio Negro? Em nome de quem ele deveria lutar por sua melhora se pelo próprio a muito tempo esquecido pelos vivos? Por quanto tempo mais ele suportaria a escuridão fora e dentro de si mesmo sem se tornar outra coisa?

Ele sorriu, e sentiu uma parte de seu ser desgostoso com a idéia. Afinal, um Aristos Achaion nunca se entregaria tão fácil assim — nunca em vida e muito menos em morte.

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