CAPÍTULO UM

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     Quando Adrien acorda, o seu mundo está acabando. E embora a sua mente soubesse que aquilo não passava de um sonho, o seu corpo permanecia em crise. Sempre levava um tempo até ele perceber que não estava em perigo.

   Não sabia exatamente quando essas manhãs apocalípticas haviam começado em sua mente, mas desde muito novo se lembrava da estranha sensação que parecia se infiltrar em seus sonhos quando adormecia — e de como amanhecia em chamas, impossibilitado de se mexer.

   Agora que tinha dezenove anos esperava que a sua crise infantil o deixasse em paz, mas obviamente aquela manhã não havia sido diferente das outras. Seu corpo está tremendo, os pulmões arvando, desesperados pelo ar que lhe fugiam a cada segundo que seu corpo se agarrava aquela falsa sensação de perigo.

   Olhando pela única, porém enorme, janela do seu quarto, Adrien percebe que, de fato, não haviam motivos para o seu colapso: O mundo permanecia o mesmo — brilhante, quente, verde e vivo.  A primavera mal havia chegado e os vasos descansados na soleira de madeira de sua janela já sentiam o efeito da mudança de estação.

   Agora, olhando para sua mão direita, com seu leve tremor, Adrien a ergue e leva direto para dentro de sua blusa fina desabotoada — ignorando o próprio descontrole para sentir os pequenos ataques sofridos direto ao seu peito. Tentou se lembrar dos princípios da respiração, em vão, já que nunca funcionava.

   Com os olhos fechados e sua mão pressionada de leve sobre o peito esquerdo, Adrien se imaginou deitado em um campo aberto, tranquilo e em silêncio. O cenário paradisíaco relaxava o seu corpo, a cidade grande não conseguiria o alcançar alí, em seu refúgio mental, mas então ele o encontrou, o âmago daquela crise — o medo escondido em suas memórias misturadas a um caldeirão de confusão que sua mente não entendia.

   Um par de olhos castanhos o encaravam, seguidos por uma risada familiar e uma risada que ele não ouvia a tanto tempo. Por mais que os traços lhe fossem familiar, Adrien nunca conseguia captar o rosto em si, mas a essência dele... o perturbava.

   Com os olhos ainda fechados, se distanciando cada vez mais do seu paraíso, Adrien entoou a si mesmo que aquilo não passava de um sonho, um delírio, e que ele não perderia nada pois aquela não era a sua realidade, apenas um sonho.

   Abra os olhos e respire profundamente.

   Quando abriu os seus olhos, o mundo permanecia o mesmo e ele também. A crise rotineira havia passado, agora lhe restava apenas retomar a sua rotina e levantar da cama para mais um dia comum atrasado na universidade.

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⏰ Última atualização: Feb 17, 2023 ⏰

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