Olimpíadas

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Ninah:


O primeiro tempo começou.
Tokio é um lugar maravilhoso. E como faz pouco tempo desde que me formei no curso de técnicos de futebol, é o primeiro jogo que consegui assistir pessoalmente. É isso aí, a filha do Tite quer seguir os passos do pai.

Me chamo Ninah Bacchi, acabei de completar 21 anos. E hoje vim assistir à final das olimpíadas. Estou tão animada que nem consigo conter a minha emoção. As arquibancadas estão vazias por conta da covid, mas digamos que o treinador André gosta muito de mim. Acho que isso se dá principalmente por eu ser a melhor amiga da única filha dele. Que inclusive está bem aqui do meu lado.

- Acha que vamos vencer? - Ela me pergunta enquanto abre uma garrafinha de água. Luíza Jardine, uma garota morena com um sorriso incrível.

- Com certeza, pelo menos as chances estão ao nosso favor.

- Queria que você tivesse vindo antes, você perdeu jogos memoráveis. - Eu também gostaria de ter vindo antes, mas eu ainda não tinha terminado o meu curso.

- O curso me prendeu muito. - Eu digo - Ficava sempre trancada no quarto estudando.

- Você não devia estudar tanto para isso. Não é como se houvesse muita concorrência no cargo de técnico para uma mulher. - Ela diz sutilmente sarcástica.

- Preferia que tivesse. Pelo menos eu saberia que teria uma chance. Mas o mundo do futebol ainda é tão machista com essas coisas.

- Eu não sei muito de futebol além do que você me conta, mas tenho certeza de que se você conseguir se tornar técnica da seleção, você vai fazer história.

E ela está certa. Se um dia eu conseguir realizar o meu sonho, então vou mesmo fazer a história. Ainda mais se eu conseguir fazer a seleção ganhar uma copa.

- Espero conseguir chegar até lá primeiro.

Voltamos a prestar atenção no jogo. Estamos jogando contra a Espanha, que é uma das minhas seleções favoritas da Europa. Já se passaram 20 min do jogo e nada. Até que as coisas começam a ficar animadas quando o camisa 10 passa a bola para o Douglas e quase, por pouco, ele não faz um gol.

Mais alguns minuto e agora o Guilherme Arana levanta a bola e quase foi golaço. O juiz dá pênalti pra gente. Quem vai cobrar é o camisa 10, não conheço ele direito. Só pelos jogos mesmo, mas nem consegui gravar o nome dele. Ele parece uma mistura de confiança e foco, mas chuta alto demais. Agora sim posso pensar que a gente perdeu uma grande chance.

- Foi muito alto. Por que ele jogou tão alto assim? - Luíza sempre me pergunta esse tipo de coisa quando estamos assistindo algum jogo juntas.

- Não sei, Luli. - A gente nunca se chama pelos nomes. Eu sempre chamo ela de Luli ou Luna, e ela sempre me chama de Nih. - Acho que ele só chutou forte de mais. - Desde que cheguei aqui tive a impressão de que a arena não é tão grande quanto outros estádios, talvez seja apenas loucura da minha cabeça, ou talvez o camisa 10 tenha pensado a mesma coisa.

- Parecia um gol tão fácil. - Ela suspira.

- Não é culpa dele. - Defendo o estranho. - Ele deve ser o que mais tá se esforçando para fazer um gol. E também o... Como é o nome dele mesmo?

- Richarlison. Você não sabia? - Luiza pergunta como se estivesse surpresa de saber algo sobre futebol que eu não saiba.

- Não. Quer dizer sim. É que eu esqueci. Não é como se eu tivesse pesquisado sobre todos os jogadores daqui, mal tive tempo de respirar quando eu estava fazendo o curso. O que eu ia dizer é que pelos últimos jogos ele tem se saído muito bem.

- Então, você acompanhou bem ele nos jogos, não é?

- Eu... Não! - já sei o que ela está pensando.
O problema de ser amiga da Luli é que ela é muito emocionada, muito mesmo. Canceriana é assim. - Para com isso Luna. Eu amo futebol por isso eu assisti, meu sonho é ser técnica por isso eu sempre presto muita atenção em cada detalhe e em cada jogador. Sem falar que meu pai me pediu pra ficar de olho, eu e meu irmão vamos ajudar muito ele na copa.

- Eu não disse nada, você que está aí se defendendo que nem uma advogada.

- Você é completamente lunática! - A gente ri.

Nos acréscimos do primeiro tempo o Richarlison tenta mais dois gols. Ele pode não ter conseguido nenhum até agora, mas ele obviamente está determinado a conseguir.

A bola está quase saindo, mas Daniel traz ela de volta pra arena. O que facilita para o Cunha que domina a bola e faz um gol. Nosso primeiro gol, me levanto e dou um grito de felicidade que percorre por toda a arena. Dou um abraço feliz na Luíza e contínuo em pé batendo palmas e comemorando.

Início do segundo tempo, Antony tenta fazer um gol e não consegue. Eu gosto do Antony desde quando ele jogava no São Paulo. Mesmo sendo Corinthiana doente. Já até conversei com ele algumas vezes, poucas, mas conversei. Logo depois Richarlison domina a bola e tenta chutar pro gol, mas vai na trave. Na hora até me levantei por impulso, mas me sentei rapidamente.

Já passou mais um tempo e a bola fica passando de jogador pra jogador. Mas eles estão se aproximando muito da nossa área, o que é perigoso. E quando eu menos espero, a Espanha faz gol. O pobre Daniel até tentou chegar a tempo, mas não conseguiu. Tudo que consigo pensar é "por favor, não desanimem".

Está cada vez mais próximo do final desse jogo. Eles quase fazem outro gol, mas foi na trave. Estamos tendo mais domínio da bola agora, sinto que vamos conseguir. E estou certa, Malcom marca o segundo gol que nos traz a vitória. E quando acaba o jogo, os jogadores se reúnem e ganham as suas medalhas. Fico tão feliz por eles, e claro pelo pai da Luli.

Fui direto para o quarto do hotel e comecei a anotar tudo que eu lembrava da partida e de cada jogador. A copa de 2022 vai ser a última que meu pai irá ser o técnico. Há muita pressão e esperança em cima dele. Então eu quero fazer ele ganhar, quero ajudá-lo a levar o hexa pra casa. Mas no meio de todos esses jogadores um me chama atenção. O camisa 10 das olimpíadas. Vou no Google e pesquiso pelo seu nome. Richarlison. E eu nem consigo acreditar em tudo que eu leio. Richarlison não é só um jogador incrível, ele é um grande apoiador de causas sociais.

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