A reunião

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Ninah:


No início do ano de 2020, a cidade de Manaus se viu em um caos. Não havia oxigênio suficiente, e as pessoas estavam morrendo por causa disso. Eu me lembro de ter ficado tão aflita que resolvi que devia fazer alguma coisa. Liguei para todas as pessoas que poderiam me ajudar dizendo como eu poderia ajudar. E recebi várias respostas, mas precisava começar em algum lugar. Fui até o Twitter e tudo começou aqui, em seguida doei 25 oxigênios. Aos poucos, outras celebridades começaram a fazer o mesmo. O que eu nunca percebi, é que o camisa 10 das olimpíadas também participou disso. Quase ao mesmo tempo que eu. Participei da campanha USP Vida, a mesma que ele participou. E eu nunca ouvi falar dele nessa época. Talvez eu tenha ficado tão envolvida que acabei nem prestando atenção em todas essas coisas que o Richarlison fazia.
Quando aconteceu a morte de George Floyd fiz meu pai conseguir um avião para me levar até os Estados Unidos para que eu possa participar dos protestos nas ruas. Quando o João Alberto foi brutalmente assinado no Carrefour eu decidi nunca mais pisar lá. Eu me posicionei, fiz de tudo que eu podia, participei dos protestos e dei meu máximo. Ou então, no caso do João Pedro um menino de 14 anos, negro, que foi morto dentro de casa, por um tiro, enquanto estava brincando.
O meu twitter está cheio de posicionamentos. Não tenho medo de escolher quem eu apoio. E gostaria de ter feito mais. Eu fiz muito, mas queria fazer mais por essas pessoas.

Minha mente volta a realidade no momento em que meu celular toca. Atendo e escuto a voz de meu pai.

- Minha garota, como você está? - Meu pai sempre me dá apelidos.

- Estou bem, Papai. Assistiu a final daí?

- Assisti sim, todos nós. Aposto que o André está saltitando de emoção. - Ele ri.

- Ele está muito orgulhoso do trabalho dos meninos.

- E você? O que achou dos meninos? - pego os papéis que eu estava escrevendo e começo a listar tudo.

- Todos tem muito potencial.

- Mas? - ele pergunta.

- Uns mais que outros.

- Tá legal, não me diga nada por enquanto. Prometi a sua mãe que não ficaria fazendo essas perguntas para você agora. Mas vou marcar uma reunião com seu irmão, assim você vai poder nos falar as conclusões que tirou.

- Ah não se preocupe, meu voo está marcado para amanhã de manhã.

- Ótimo! Confesso que estou ansioso para ouvir o que você tem a dizer. - Falo também com meus irmãos e minha mãe. Depois, me arrumo e vou jantar com Luli.

Quebra de tempo: 1 dia depois.

Agora, são exatamente 14:00. E a reunião que meu pai marcou acabou de começar. Não é exatamente uma reunião, apenas eu e meu irmão fomos chamados.

- Como vocês sabem, a copa do mundo vai ser ano que vem e eu preciso ter o melhor time. Ninah, quer começar nos contando o que viu lá em Tokio?

- Bom, como eu disse na ligação, todos são muito bons. Se não fossem não teriam ganhado. Vamos começar com o capitão do time, Daniel Alves. Ele foi muito bem, auxiliou em alguns gols e fez uns também. Mas não tenho certeza se vai ser uma boa ideia convocar ele por conta de sua idade. Obviamente, ele vai se cansar mais rápido.

- Até que eu gosto do Dani. - Meu irmão diz. - Já é de idade, mas é um bom jogador.

- Prossiga. - Papai fala.

- Talvez eu seja suspeita pra falar, mas o Martinelli deve ser convocado. Nem que seja na equipe dos reservas. Vocês o conhecem, ele joga muito. - Martinelli é um dos meus grandes amigos. Conheço ele desde a época do Corinthians. Sempre acompanhei meu pai nos treinos, e mesmo o Gabriel não jogando no time principal, a gente se encontrava e conversava. - A comissão técnica já vem falando do Antony e do Vini Jr, então, só queria reforçar que esses dois tem que ir pra copa.

- E sem dúvidas eles vão. - Olho para meu pai e ele está sorrindo por algum motivo. - Você teve boas observações, Nih.

- Se papai não convocasse o Vini eu diria que ele está finalmente louco. - Matheus, meu irmão diz e nós rimos.

- Muito engraçado, senhor Matheus. Era só isso, Ninah?

- Na verdade... - Quase me esqueço. - Tem um jogador em específico que eu ainda não vi ninguém da comissão falando sobre ele. E eu tenho certeza de que ele se sairia muito bem na copa.

- E quem é?

- Richarlison de Andrade.

- Ele é bem... jovem. - Meu pai diz.

- O que é ótimo para a copa. Ele é determinado, focado, além de ser uma ótima pessoa.

- Já conversou com ele? - Matheus pergunta.

- Não, mas ele se envolve em causas sociais e...

- Causas sociais não vencem a copa, meu amor. - Meu pai se aproxima. Ele não está me julgando, está apenas fazendo seu trabalho como técnico.

- Sei disso, mas... Olha, é a minha opinião. Eu não tenho muita experiência, mas... - Gaguejo algumas vezes. - Se tem alguém que merece estar na copa é ele. Deem a camisa 9, já que a 10 é do Neymar. Observem ele nos treinos e em jogos antigos, vocês vão ver que estou certa. Eu meio que investigue todo o caminho que ele percorreu até chegar aqui. Richarlison é um bom jogador e é uma boa pessoa. Os dois separados são bom, mas os dois juntos são ainda melhor.

- Acha realmente que esse garoto deve estar na copa?

- Acho sim, pai.

- Então, pode ter certeza de que o nome dele será falado dentro da comissão técnica.

"Isso!" Comemoro na minha cabeça. Nem sei por que estou comemorando. Mas sei que Richarlison merece estar na copa. Acho que isso já me deixa feliz.

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Oiii gente, capítulo novo finalmente. Espero que vocês gostem. O começo da fic pode estar meio chato e parado, mas agora as coisas vão começar a melhorar. No próximo capítulo teremos o tão esperado encontro. Então, é isso. Bjs

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