O pilar celeste

61 13 15
                                    

        Reza a lenda, em que uma noite fria de inverno, um objeto mágico ou amaldiçoado pelos demônios, foi encontrado no campo florido entre reinos distantes e já inexistentes. Boatos de forasteiros e aventureiros que ousaram justificar a queda de nações por causa do estranho pilar em ruínas, isolado no meio do pasto cheio de vida. Outros mencionaram o surgimento de uma praga espacial que seria responsável pelo varrimento dessas sociedades na história do mundo. Poucos diziam ser a salvação, e poucos acreditavam nas barbaridades criadas e repassadas por cada geração.

        Porém, o pilar negro de quatro metros existe e eu emergi dele. Sou o desespero, o medo, o fracasso e as frustrações dos seres vivos responsáveis pelo nascimento de uma nova raça corrompida desde minha origem macabra e miserável. A questão em mente era saber qual o objetivo da minha existência naquele plano tão complexo, se toda minha essência foi moldada pelo ódio e a tristeza de uma criatura viva de cada um dos três reinos.

        Sobre o primeiro a emergir, aconteceu quando a primeira criatura vinha do Sul, passando pela maior floresta da região até o campo, cansado e perdido; o ser achatado e empoeirado era uma caixa, um papelão vivo que vagava sem rumo após perder todos os membros de sua família em uma recarga recente em sua morada. Tinha dias que se poderia dizer que ele era muito forte, como se dentro de si possuísse uma rocha bem firme e indestrutível, e tinha dias que até uma criatura frágil iria conseguir lhe ferir, como se fosse totalmente vazio por dentro.

 Tinha dias que se poderia dizer que ele era muito forte, como se dentro de si possuísse uma rocha bem firme e indestrutível, e tinha dias que até uma criatura frágil iria conseguir lhe ferir, como se fosse totalmente vazio por dentro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

       O segundo indivíduo vinha do Norte, era uma árvore sem folhas em seus galhos finos, ela atravessou as maiores montanhas da região até o campo, resistindo ao vento frio e todas as quedas durante o caminho pela sua sobrevivência. Em seu reino, ela era a única que os animais recusavam chegar perto devido ao seu cheiro, suas marcas no corpo  fora do padrão, tornando-se isolada e criticada pelo próprio povo. Depois de tanto andar, sentiu seu pé batendo na base do pilar em sua frente e parou de exigir tanto de si mesma.

        Quando ela se sentou, notou alguém repetindo o mesmo comportamento, ficando feliz em saber que dessa vez algo ou alguém não fugiu pelas suas diferenças. Ao seu lado, era uma gata espelhada, a terceira criatura que vinha do Leste, também ia ao chão, chorando irritada pelo trabalho injusto passado pelo grupo; ela jogava toda a culpa em suas costas. Olhando um pouco para o lado, sentiu inveja da árvore sem rosto, pois ela nunca precisará ver essa sociedade hipócrita; não escutará ordens, não irá sentir o cheiro do perigo... 

        Não sabia como ela se comunicava, tinha medo de tentar e ser machucada ou machucar a si mesma. Infelizmente os seus "companheiros" ofuscaram o seu brilho, percebeu que nunca ia ser feliz ao lado deles e de mais ninguém, caso dependesse de sua autoestima.

        Reunidos em volta do pilar, a caixa e a gata olhavam para cima, refletindo sobre o amanhã, enquanto a árvore manteve-se imóvel para não assustar aqueles seres ali perto, pois não queria se sentir sozinha novamente. Assim, as três luas se alinharam e a gata começou a cantarolar o que sentia para sua deusa, encantando o papelão amassado, fazendo-o dançar em volta do pilar, lembrando dos melhores momentos com os amigos reciclados, já que os de verdade, um dia perdeu por seu orgulho. Agora, pela primeira vez, via o mundo além de seu reino, estava diante de dois estranhos desanimados esperando que a morte trouxesse o alívio dos seus problemas. No entanto, a caixa não queria vê-los assim.

O pilar Celeste - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora