CAPÍTULO 2 - ACIDENTE BIZARRO

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(Daniel Velasques)

Maldito acidente bizarro.

Não conseguia manter minhas pernas paradas no lugar, empurrei um copo de café sem açúcar pela garganta enquanto aguardava no banco de espera do pronto-socorro mais próximo. Aquela mulher apareceu mandada para frustrar o meu plano de vingança. Quase pude ouvir a voz doce de Elisabeth me repreendendo pelo que eu estava prestes a fazer horas atrás, antes de acertar a mulher com o carro. Às vezes ela aparecia em meus sonhos, tentando me fazer desistir de buscar a única coisa que podia aplacar ao menos um pouco o meu sofrimento, vingança.

- O senhor está com a jovem acidentada? - O olhar desdenhoso da enfermeira velha e cansada me encontrou enquanto ela mascava um chiclete.

- Sim. - Respondi. - Como ela está?

- Estável, mas ainda apresenta alguns lapsos de memória por conta do choque. Normalmente o quadro melhora em questão de dias. O senhor já pode vê-la.

Vê-la? Meu plano era sair dali o mais rápido possível, minha missão de hoje estava perdida, mas eu ainda poderia encontrar os caras para planejar os próximos passos. Maldito acidente sem sentido que atrapalhou tudo.

- Me acompanhe, por favor. - Sem muitas opções, eu segui a mulher de pijama azul pelo pronto-socorro. A mulher que eu tinha atropelado estava deitada em uma cama, mas seus olhos estavam bem abertos. Havia pequenos curativos em seu rosto, em um de seus ombros e também em uma das pernas.

A iluminação do hospital me permitiu ver o que não consegui na hora do acidente. A mulher era bonita. Muito bonita. Seus olhos grandes e esverdeados pareciam maiores do que deveriam ser e estampavam medo. Perguntei-me se já tinham chamado a polícia ou se ela já tinha dito algo a alguém sobre o atropelamento.

- A senhorita vai passar a noite em observação e pela manhã será liberada. - A velha resmungou antes de sair.

Respirei fundo, eu podia esquecer a possibilidade de ir encontrar os caras essa noite.
Essa garota tinha atrapalhado completamente os meus planos e eu me negava a acreditar que Lisa continuava influenciando minha vida mesmo não estando mais aqui, mas por vezes, era exatamente isso que eu sentia.

Me joguei na cadeira de espera enquanto a mulher observava minha movimentação.

- O que fazia entre a vegetação no meio da madrugada? - Usei o mesmo tom que eu usava em interrogatórios.

A mulher virou-se para mim, seus cabelos se desprenderam da presilha frágil e caíram como um véu negro em ondas sobre os ombros até a sua cintura. Se ela achava que ao fazer cara de pobre coitada iria conseguir me ludibriar estava muito enganada. Inclinei o corpo para frente, querendo intimidá-la.

- Do que você estava fugindo?

- Eu não estava fugindo. - Pronunciou em um fio de voz.

- Então você fala. - Mostrei-lhe um sorriso irônico. - Não tente mentir para mim, sei exatamente quando estão ou não me falando a verdade.

- Eu não me lembro... - A mulher negou. - Não lembro bem o que aconteceu.

Estreitei os olhos, ciente de que essa era uma estratégia dela para se esquivar. Ela precisaria de mais do que uma beleza incomum e uma voz doce para me fazer de bobo.

- Qual é o seu nome? - Ela hesitou ao ouvir a minha pergunta.

- Iara. - Um sorriso irônico me escapou.

- Como a sereia do folclore brasileiro? Se considera uma sereia? É assim que atrai os homens? - Mesmo que ela estivesse receosa, pude ver uma pequena chama se acender no verde de seus olhos.

(Degustação) Doce Redenção - Livro 1 da Série "Doce Amor" Onde histórias criam vida. Descubra agora