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   03       PRIMEIRO MERGULHO

Kiri foi despertada de supetão por um par de mãozinhas ansiosas sacudindo-lhe.

Tuk.

⏤ Kiri. Kiri!

Abriu os olhos aos poucos, resmungando com mais precisão conforme ia terminando de acordar de fato pela segunda vez.

⏤ Que foi? Que foi? ⏤ Com a testa franzida, sentou-se sobre o tatame enrolado no marui.

Não enxergava claramente ainda, as íris âmbar estavam acostumando-se com a claridão repentina, mas já poderia confirmar a presença da calorosa manhã às recebendo e inundando sua nova casa com aqueles fios finos e suaves do primeiro raiar do Sol.  Piscou, refletindo.  Podia senti-los em sua pele, irrigando-a com energias, se espalhando num fervor como faria uma erupção.

Ah, o Sol.

Ah, Eywa.

A feição da adolescente relaxou em míseros milissegundos.

⏤ Bom dia ⏤ respondeu simples e sorridente.

Kiri abriu os olhos e riu fraco.

⏤ Bom dia, Tuk.

Do outro lado do imóvel, paralela à ela, a matriarca Omatikaya manifestou-se com um sorriso gentil, sem abandonar as porções de alimentos cujo a família havia trazido de sua viagem qual manipulava nas mãos.

⏤ Bom dia, minha querida ⏤ anunciou, dando-lhe ao mesmo tempo uma cumbuca recheada de frutas, com algumas folhas temperadas e um par de teylus fritos de complemento.  Alegremente, a menina agarrou e começou a comere.

Ao lado de Neytiri, estava Lo'ak e Jake. Neteyam se encontrava a alguns centímetros da irmã do meio, separado unicamente por Tuk, que deliciava um fruto de yovo.  Lo'ak estaria de forma semelhante se não encarasse meticulosamente Kiri e, assim, abandonasse pelo transe as mordidas à marmita entregue pela mãe.

O rapaz franziu o cenho.

⏤ Por que ela pode dormir mais que eu? ⏤ Com vestígios de comida na boca, revoltou-se, abanando os braços aos ares na direção dela.

⏤ Lo'ak, não fale de boca cheia ⏤ Jake cuspiu entre os lábios em resposta, juntando os resto não comestíveis num saco improvisado de folhas.

O menino grunhiu. Kiri,  no entanto, gargalhou ⏤ tampando a boca, é claro.

Neteyam riu fraco. Num pulo, foi de onde estava até à outra, avançando por suas costas silenciosamente até dar-lhe um susto colocando as mãos sobre as costas da garota, a qual saltou instintivamente. Se redirecionou de supetão para ele.

Suspirou ⏤ Neteyam… Que susto.

O sorrisinho zombeteiro não desaparecia de seus lábios.

⏤ E aí, teve bons sonhos? ⏤ indagou, pouco importando-se para o assunto anterior, e sentando-se bem ao lado de sua irmã.

⏤ Mas é claro.

Na verdade, Kiri mal havia dormido naquela noite.

Era típico: nos momentos de estresse, era perturbada pela insônia. Só que era boa em esconder.

Ou achava isso.

Enquanto ela e Neteyam aproveitavam a companhia um do outro, entreolhando-se com risinhos e desfrutando do desjejum, o pai deles começou:

PHILOCALIST ⺀ KIRI SULLYOnde histórias criam vida. Descubra agora