A história de Luiz (final alternativo)

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Estavam Tuguim e Luiz cara a cara se entreolhando em meio ao limbo de suas mentes. Tuguim estava agitado e completamente estarrecido com a visão infernal do grande arquiteto do caos em sua frente, o encarando como se ele fosse um ser inferior. Luiz inicia um diálogo:

- Ora, ora, o que temos aqui?

- O que é você? - Tuguim pergunta um pouco confuso.

- Achei que você fosse mais inteligente para ter chegado aqui tão longe.

- Responde a minha pergunta! Quem é você?! - Tuguim sentiu uma mistura de angústia com raiva que parecia o consumir a cada segundo pelo simples fato de estar diante do Luiz.

- Já que insiste, pode se referir a mim como Luiz, o gerente do banco, o criador da cidade, mas, sendo sincero, não é como se títulos fossem relevantes a esse ponto – Uma montanha gigantesca de televisores surge atrás do Luiz

Tuguim sente a ansiedade o consumir, ele já não conseguia raciocinar direito, todos os seus pensamentos se embaralhavam e o confundiam, enquanto um coro desorganizado de vozes familiares ecoava na mente dele. Ele sentia que estava mais perto da verdade, porém não da forma que realmente queria.

Um dos televisores se acendeu revelando uma estática e logo outro e outro, até que todos parassem de mostrar estática e sintonizassem na face de Luiz. Tuguim, já não entendendo mais nada e sentindo que a insanidade já estava a ponto de o consumir, se aproxima dos televisores para os assistir de perto. Ele queria chorar, porém nenhuma lágrima saiu; queria gritar, mas nenhum som saiu; queria simplesmente sumir, mas a realidade o acorrentou a um destino terrível.

- Você não entende? Você não sente o calor de todos esses televisores apontados para nós?

- Eu não sinto nada – Tuguim responde apático, pois perdeu a capacidade de compreender tudo ao seu redor. Todos os televisores passam a mostrar o rosto de Tuguim em vários ângulos diferentes

- Você não compreende as mensagens? Esse desejo de ser observado? Esse desejo de ter todos os holoforte só para você? - Assim que Luiz termina a frase, todos os televisores mostram cenas do Tuguim em Utopia e em todas as outras realidades, até das quais ele nunca passou pessoalmente.

- Eu nunca quis nem ser protagonista, eu só queria viver minhas aventuras – Tuguim responde, sentindo perder a sanidade a cada instante.

- É esse o ponto que você não compreende. Todos os sinais estavam na sua cara, mas você não viu – Os televisores passam a mostrar cenas de todos os moradores de Utopia vivendo suas vidas antes do grande mal.

- Histórias nasceram para serem contadas, destinos surgem para serem escritos. Eu não me importo em ser o vilão, se ainda há algo para ser vivido – Luiz termina sua fala e os televisores se tornam estática de novo.

- O que você quer de mim?! - Tuguim grita desesperado, sem conseguir se mover para fora daquela cena desesperadora.

- Eu quero uma conclusão! Você já viveu tempo suficiente e, na minha humilde opinião, é aqui que sua história acaba – Tuguim sente sua mão se afundar nas tvs e seu corpo ser engolido por estática aos poucos após o Luiz falar.

- Mas, eu sou muito jovem para morrer!

- E daí? Os finais trágicos são os melhores – Luiz ri mais ainda com o sofrimento de Tuguim

- O que você tem contra finais felizes?!

- O que eu tenho contra? Tudo! Eu já cansei de assistir o mesmo final se repetir de novo, de novo e de novo. Eu já vi vários de você vindo e saindo das várias versão de Utopia, todos com vidas tão tediosamente perfeitas. Eu me cansei disso, eu me cansei do mesmo final patético de contos de fadas.

- E por que justo eu tenho que morrer?! - Tuguim sente que seu braço inteiro já não existe mais

- Porque é divertido. Não leve para o pessoal, mas sua vidinha feliz com o Phantom me deixou morrendo de tédio.

- Por favor, me deixa viver! Pelo menos deixa ele viver – Tuguim estava chorando desesperado.

- Tralhas como você são todas patéticas, deveria até chamar sua cidade de tralha city, quem sabe? - Luiz diz rindo, como aquilo fosse a cena mais hilária que ele já viu em séculos.

- Por favor... – A estáticas consumiu até o tórax de Tuguim

- Escuta aqui, garoto, eu não me importo! Eu nunca vou ter um final feliz preso eternamente nesse limbo tedioso. Antigamente, talvez, eu deixaria você ir, mas não há finais felizes por aqui. Não há esperança nesse inferno que estou preso desde que nasci. Nunca houve – Luiz se entristece um pouco ao lembrar de seu passado.

Luiz sempre foi uma pessoa que vivia sozinha em um limbo eterno sem qualquer possibilidade de existir fora dele. Ele nunca entendeu seu propósito, por que existia, ou mesmo se deveria existir, mas, ele tentava aproveitar sua vida a cada segundo a sua forma.

Ele vivia entediado em seu mundo solitário, até que descobriu um novo poder que sempre ecoou dentro de si, o da criação de mundos e, junto dele, um servo roxo que carregava o livro que tinha o poder do destino de vários em suas mãos. Ele ganhou não apenas um novo modo para se divertir, mas também um irmão para não se sentir tão sozinho. Ele nunca esteve tão feliz desde seu surgimento.

No começo, ele estava feliz, ele tinha algo para se divertir e aproveitou cada segundo disso. Todavia, chegou ao ponto em que ele ficou entediado e, com muita dor no coração, ele reiniciou a simulação e arrastou novas pessoas para o teatro ilusório dele.

Ele sempre tentava dar finais felizes a seus mundos, mas, em algum tempo, ele ficou mais e mais entediado. Finais felizes não o apeteciam, eles eram sempre os mesmos, sempre o mesmo tédio repetitivo. Finais trágicos era sempre melhores, destruir tudo era muito mais interessante, o sadismo o consumia e não havia ninguém para o frear de sua ambição de matar todos os seus amados personagens das formas mais terríveis possíveis.

Se o Luiz pensa, logo existe; se existe, logo age; e por que não agir? Toda ação gera uma reação e essa reação no momento foi a morte de mais um Tuguim defeituoso.

Tuguim sentia todo o conhecimento de toda a verdade o consumir, ele sabia de tudo que o Luiz passou, tudo que seus amigos passaram e tudo que sempre existiu entre as diversas transmissões de diversas Utopias, todas destinadas ao caos eterno.

Tuguim sentiu a estática cobrir o próprio pescoço e sua própria alma simplesmente deixando de existir. Ele desejou mentalmente para que Phantom ficasse bem onde quer que esteja no futuro e, ao som das vozes de todos os cidadãos da cidade gritando "nos entretenha, Tuguim". Todos as peças desse teatro consumiram o rapaz e, no final, ele sentiu como não fosse mais que um fantoche nas mãos do sádico que ria de seu sofrimento.

- Parabéns, Tuguim, número 14565739! Você foi o mais divertido até o momento – E, assim que o Luiz diz isso, Tuguim é completamente desfeito e seu corpo no mundo real também morre.

Phantom grita por Tuguim, mas ninguém respondeu. Phantom gritou por ajuda, mas ninguém veio. Phantom tentou confortar seu amigo nos últimos momentos, mas o jovem astronauta já não era mais que uma casca vazia do que um dia já existiu e todos chamaram de amigo.


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Notas do autor: desejo a todos os fãs de Utopia uma ótima sessão de terapia, porque todos nós vamos precisar depois do final dessa série

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A história de Luiz - Utopia 2 final alternativoOnde histórias criam vida. Descubra agora