Com um movimento brusco, ele prostrou-se de joelhos diante dela. A pele suada pelo nervosismo a incomodava, enquanto suas súplicas a irritavam profundamente. Para ela, era repugnante, uma fonte de agonia insuportável.
-Por favor... Não me mate...
Lágrimas pesadas escorriam por seu rosto, afogando-o em angústia.
Os olhos dela se entreabriram, e suas sobrancelhas se ergueram, transmitindo uma mensagem clara: "Ele já se deteve!?"
Gaguejando com aflição e mergulhado em um mar de lágrimas, ele continuou a implorar:
-Por favor... Não o farei novamente! Minha vida será diferente, eu juro!
Um sorriso surgiu no rosto dela, indício de que verdades seriam expostas. Ela jamais retrocedia em sua palavra, concedendo oportunidades... mas jamais desistindo de sua decisão.
-Então, trato é trato, acordo é acordo! A justiça não falha, compreende!? Você já teve suas chances de se apresentar à justiça sem erros. Consequentemente, a culpa é inteiramente sua!
Olhando ao redor, momentaneamente distraída, buscava pelos soldados incumbidos de levar o condenado para a execução.
Sua postura demonstrava uma calma impressionante, como se a tarefa fosse uma atividade banal do cotidiano.
O desespero consumia-o, sua respiração desordenada e ofegante, seu coração palpitando, causando uma sensação opressora... Ele de fato não estava preparado para enfrentar a morte.
Uma prancheta foi entregue às mãos da ministra, juntamente com uma caneta, e ela apôs uma assinatura firme.
-Autorização concedida! - afirmou o soldado.
Outros oficiais conduziram-no até a maca, e mesmo nesse momento ele ainda buscava o olhar da ministra.
-Éramos amigos... - sussurrou.
-Eu o considerava um amigo, porém sua posição em relação a mim é incerta. Contudo, isso não é relevante agora.
Minutos se passaram, e tudo estava pronto; a substância para a eutanásia estava prestes a ser injetada em sua veia.
-Tudo tão simples e desprovido de empecilhos, concordam!? - indagou a ministra, direcionando o olhar aos soldados.
-Certamente, Vossa Excelência! - responderam eles prontamente.
Ela prosseguiu:
-Esta intervenção ocorre há anos, oferecendo chances adicionais, além das estipuladas pela Lei. Ainda assim, preferiu trilhar o caminho errôneo.
Sem dúvida, somos conscientes de que os humanos cometem equívocos! Porém, desde há cinco anos, notamos que erros contínuos nos conduzem à ruína. Fato inquestionável! Apenas após um ápice de discórdia é que tal constatação veio à tona.
Respirando aliviada, continuou:
-E não se trata de uma ação abrupta! Foram emitidos avisos e concedidos contratos de autorização... Era notório que indivíduos com um QI inferior a 100 estavam submetendo a reputação humana a um estado de ridicularização. A situação atingiu o auge quando alguém tentou mitigar a crise mundial de escassez de água por meio de um "refrigerante"...? Qual era o nome daquela abominação!?
-Um suplemento à base de eletrólitos, Senhora! - prontamente respondeu o soldado.
A ministra reprimiu um riso sarcástico:
-Vejam só! Esse tal "eletrólitos" sequer existe! Inúmeros pereceram devido à desidratação e escassez de alimentos, tudo em nome da ganância por cédulas de papel...
Erguendo-se da cadeira, proclamou:
-Cessei de discorrer! Apenas posso afirmar que retornamos à época em que os seres humanos realmente exerciam sua capacidade de raciocínio. Sinto vergonha em admitir que essa intervenção somente ocorreu após a quinta geração consecutiva com QI inferior ao de seus progenitores.
Ouviram-se batidas na porta:
-Vossa Excelência, o líder solicita sua presença em sua sala.
No corredor, seus saltos ecoavam enquanto caminhava com pastas e documentos em mãos.
Um soldado abriu as portas da sala:
-Excelentíssimo Senhor!
-Sente-se!
Ordenou o líder.
-Para que devo a honra de sua presença!? - indagou ela.
-Conferir dados! Algo que Vossa Excelência aprecia, não é verdade?
Ela ajeitou os óculos:
-Está corretamente informado!
O líder acomodou-se em sua cadeira:
-Sem rodeios... A taxa de óbitos após condenações, em decorrência da intervenção mundial RMH (Renovação Mundial Humana), não está de acordo com as expectativas! E, na verdade, esse não é o principal problema. Algumas condenações já finalizadas voltam a surgir em nosso sistema após certos acontecimentos, e as sentenças são retiradas.
-Devo informar que problemas no sistema são improváveis dada nossa tecnologia avançada. Logo, tais alterações só podem decorrer de modificações efetuadas por alguma autoridade com acesso ao sistema. Possui Vossa Excelência algum envolvimento nisso? - questionou o líder, observando-a com olhar perscrutador, à procura de respostas.
Sem hesitar, ela respondeu:
-Sim!
O líder a encarou, exibindo uma feição de incômodo:
-Não compreendo seu jogo! Vossa Excelência foi uma das primeiras defensoras dessa intervenção! "Eliminar o inútil, resgatar o ato e o direito de pensar!" Essa era a sua premissa, não era!?
No rosto da ministra, um sorriso se formou, genuíno, sinalizando que a verdade seria exposta:
-Sim! Estou ciente de todos os meus feitos! Porém, não tente esconder o óbvio! Todos sabem da escassez de água e alimentos. Mais humanos na Terra, ou melhor dizendo, mais humanos que tiveram seu direito de vida concedido por mim sem serem avaliados de forma honesta, estão fadados a morrer sem a chance de demonstrar o que são capazes de fazer para justificar sua sobrevivência!? Não tente ocultar sua ganância, pois, sem dúvida alguma, possuímos toda a tecnologia e capital para resolver esse problema. O intento de eliminar metade da população mundial, a maioria dos quais são pobres, a fim de resolver a crise, já está ultrapassado!
O líder rebateu:
-Não tente apelar para sentimentos agora, pois você tem sangue em suas mãos! Isso não pode ser escondido.
A ministra se levantou:
-Sentimentos não habitam em mim, e nunca o farão. Porém, a ganância e a corrupção não serão cometidas novamente! Com sua licença, Excelentíssimo Senhor!
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A LÓGICA
Historia CortaA humanidade vinha de um ciclo vicioso. Plantar, colher e morrer. Procurar conhecimento, aplicá-los e esporadicamente praticar um pouco de bondade. Em outro plano quando falamos em ganância e indiferença surpreendemos o esperado, tanta atrocidade qu...