feitos um para o outro?

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Eu costumo observar o amor dos meus pais desde que me entendo por gente.

Quando eu era criança e via eles brigando, eu chorava, e pedia a Deus com toda a minha inocência e pureza de criança para que eles se resolvessem e que seja lá o motivo das discussões recorrentes, que eles parassem. só parassem, e voltassem a se amar e se tratar com carinho. por que as palavras atiradas um para o outro me feriam também, porque eu me colocava no lugar de cada um e era como se eu recebesse facadas cada vez que eles se ofendiam.
a questão é que na minha cabeça de criança, era simples, era fácil, era só eles pedirem desculpas.
e tudo bem.
e então, o tempo passou..
e eu ainda observo o amor desgastante deles.

me machuca ainda
e eu pedi muitas vezes pra eles se divorciarem.
por que na minha cabeça de adolescente era muito fácil resolver o problema deles, sim? se separem!
porque eu só via o meu lado, como observadora da relação.
eu entendi minha mãe
eu entendi meu pai
eles se amam
mas a relação é incrivelmente desgastada.

a questão é que, são 20 anos
20 anos de lembranças, dores, viagens, carinhos, momentos, casamento, filhos, mudanças, juntos. eles.

construíndo tijolinho por tijolinho de uma história
e na minha cabeça de observadora recém chegada, era só eles seguirem seus caminhos sozinhos
mas até então eu não participei da história como protagonista, entende?
era injusto da minha parte querer que 20 anos de vida fossem apagados tão simplesmente.
era injusto pedir a minha mãe que apagasse o zelo e o amor que ela tinha pelo meu pai, mesmo com todas as suas incertezas. eu não tinha o direito de querer os dois longes um do outro.
porque era mais complexo
era uma relaçao com histórias, dependências, como um vício
um hábito, uma rotina.
acordar, olhar pro lado e ter a pessoa lá. com raiva, com amor, e lembranças de dias seguidos do outro.

o amor deles era como uma rosa.
clichê, mas sim, era como uma rosa,
eles acharam essa rosa em um jardim
com milhares de outras espécies de flores, eles se esbarraram, e acabaram avistando a mesma rosa, que atraiu ambos, vermelha, que despertava curiosidade. e em contra partida, cheia de espinhos
ela segurou a flor primeiro.
e a rosa furou o dedo dela, doia, mas ela não abriria mão da rosa que ela queria dentre tantas no jardim.
e continuou segurando, sozinha...
ela incentivou ele a segurar também
mas ele tinha medo, medo de se furar, também. mas foi, para que os dois segurassem juntos aquela rosa.
e eles seguraram. mas os espinhos machucavam, sangravam. mas os dois ali, segurando a rosa. no sol, nas tempestades. por dias... e mesmo machucados, pelos espinhos, o incômodo valia o prazer de admirar aquela rosa crescendo aos poucos.
eles tinham sim, vontade de sair, de segurarem outras flores, de preferência uma que não machucasse tanto.
mas nenhuma, nem uma sequer,. daquele imenso jardim, seria capaz de chegar no nível daquela rosa, nenhuma (em suas cabeças) seria capaz de compensar os dias em que passaram segurando juntos a rosa, com espinhos  seus dedos. mas tendo o prazer de vê-la florescer juntos.
talvez outras flores chegassem perto, mas mesmo assim seria longe de proporcionar os sentimentos que a rosa causava nos dois, ver seu crescimento, sabendo que ela machucava, mas não ultrapassava a força das memórias que tiveram vendo aquela rosa crescer seja lá qual estação fosse.
sua dependência um no outro já era antiga.
mesmo insistido para ambos que não era saudável, já haviam raizes profundas desde antes de eu nascer, eu não tenho força para separar os dois mesmo vendo quanto são machucados pelo outro.

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