Nós começamos a ensaiar todos os dias. Passávamos os intervalos juntos na sala de música, assim como as horas depois das aulas. Estávamos nos preparando para uma competição intercolegial de música que aconteceria em alguns meses. Senti que nos aproximávamos mais a cada dia que passávamos juntos e me apaixonei pela pessoa que compartilhou todos esses momentos especiais ao meu lado. Decidi que me declararia logo depois da apresentação, por achar que o sentimento era recíproco.
O dia chegou, e estávamos mais que nervosos. Andávamos de um lado para o outro no camarim, ansiosos pela chance de mostrar os frutos de todo o trabalho duro que tínhamos tido nos meses até o concurso. Esperamos a nossa vez, já impacientes quando finalmente chegou nosso momento no palco. Demos nosso melhor, e os esforços foram recompensados com o prêmio do 1° lugar. Era a hora de contar sobre os sentimentos que afloravam no meu peito a cada dia que passávamos juntos.
Contei tudo, esperando uma reação positiva. Estava com o coração a mil, as bochechas vermelhas e as mãos suadas. Sonhei com aquele momento tanto quanto sonhei com a apresentação, e mais do que nervosismo, eu tinha esperanças. Ao ouvir a resposta, porém, senti como se já não houvesse mais chão abaixo de meus pés. Achei que era recíproco, jurei ter visto em seus olhos a mesma coisa que eu sentia, mas pelo visto me enganara. Percebi naquele instante que somente meu talento era desejado por aquela pessoa.
Tinha visto nela a oportunidade de ser feliz, mas em mim ela vira somente um pianista habilidoso o bastante para acompanhar o vocal do qual ela tanto se orgulhava. Depois de virar as costas para mim, ela foi falar com a multidão que a parabenizava. Já eu, fiquei do lado de fora do teatro, vendo a chuva que começara a cair lavar as lágrimas e as esperanças de ter um final feliz como os das doces melodias que eu tocava.