Notas: Classificação indicativa +16, possui gatilhos. Desejo boa leitura.
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Helaena nunca imaginou que teria um amante. Quando Alicent ofereceu a mão da garota a Aegon, ela criou em sua mente a ideia de um casamento feliz com alguém em que poderia confiar. A princesa se visualizou calma e tranquila, desfrutando as tardes da exata mesma forma de sempre, e sem a preocupação de precisar agradar um lorde desconhecido e que de certo zombaria de seus passatempos. Ela imaginou Aegon como o pai de várias crianças e, mesmo que não esperasse muito tato, acreditou que ele seria presente. Também acreditou que em sua noite de núpcias não seria forçada a se deitar com ele, afinal, Aegon poderia esperar por ela e cativá-la aos poucos.
Talvez a visão idealizada de seu irmão fosse obra das frases benevolentes e omissas de Alicent para com ela, ou fosse o esforço de Sor Criston Cole e Aemond em contornarem situações fora do alcance dos muros do castelo. O fato era que Helaena não esperava por uma ruptura tão abrupta entre o cenário que teceu em sua mente e a realidade de seu casamento.
Aegon bebeu durante toda a festividade que precedeu o matrimônio e, honestamente, ela havia percebido a falta de sobriedade do marido em meio a cerimônia. A princípio a Targaryen culpou o nervosismo, cogitando que Aegon provavelmente estava se sentindo ansioso com o casamento e beber era algo que o ajudava a superar o sentimento. Contudo, a medida que taças e mais taças de vinho eram servidas, Helaena se deu conta de que seu irmão estava fazendo o possível para se esquecer de que estava lá. E ele não parecia nem um pouco feliz com o fato de desposá-la.
Por isso não foi um choque quando Aegon a humilhou em frente a todos do salão, despejando falas grosseiras sobre sua aparência e personalidade quando ela o convidou para uma dança. Ainda sim, seu coração ficou dolorido pelas palavras e pela arrogância de Aegon. Talvez ela devesse ter agradecido a Aemond por ter dado um basta em tudo aquilo durante a festa, mas Helaena foi impossibilitada quando logo em seguida – como forma de vingança – seu marido ordenou que as tradições fossem cumpridas. E ela ficou tão em pânico quando começaram a tirar suas roupas em meio ao salão e a conduziram para o quarto, que se mal pode processar todos os acontecimentos até estar a sós com Aegon.
Helaena se lembrava de ter lágrimas escorrendo no rosto quando o irmão agarrou seu braço e a empurrou na cama. Mais uma vez sua fantasia se desfez quando ele não esperou por ela ou fez o mínimo para cativá-la. Depois disso, não era exagero dizer que seus sonhos morreram.
A ideia de que Aegon fosse ser um bom marido e um bom pai para seus filhos desapareceu no abismo de sua mente. A ideia de que precisava afastá-lo de seus aposentos surgiu mais forte que qualquer outra coisa e, para isso, Helaena se deu conta de que precisava conceber herdeiros o quanto antes para se ver livre da obrigação.
Ela tentou. Tentou ser agradável para Aegon e se deitar com ele apesar da dor e da lástima. No entanto não havia prazer ou qualquer contentamento em fazer isso, e logo também se tornou evidente que estava falhando em engravidar. O desespero tomou conta dela durante semanas. Ela sentia que precisava acabar com aquilo. Precisava de um filho crescendo em seu ventre. Precisava de qualquer coisa que afastasse Aegon de si.
E ainda sim, Helaena nunca havia pensado em ter um amante, pelo menos não até Aemond implorar que eles fugissem para longe. Eles poderiam pegar seus dragões e abandonarem todos os seus deveres; Aemond estava disposto a tudo para que ela fosse feliz, mesmo deixar toda sua vida para trás.
A princesa estava prestes a dizer o quão grata estava quando se deu conta de que os sentimentos que moviam Aemond não eram apenas o carinho de um irmão por sua irmã. Ao notar isso, sua mente se perdeu nas possibilidades horríveis e assustadoras que vinham com o plano: e se estivesse sozinha com Aemond em um mundo desconhecido? E se ele a maltrata-se? A força-se? Fizesse coisas com ela que eram semelhantes ou até piores que Aegon?
Então ela precisou dizer não. E mesmo com a insistência pedante de Aemond, mesmo com o homem aos seus pés implorando para que ela reconsiderasse, quando o tempo deles acabou Aemond respeitou sua decisão. A sensação de ter escolha sobre isso a fez gostar ainda mais dele, embora soubesse que o havia magoado.
Helena não fazia ideia de quais sentimentos moviam Aemond em sua oferta, ela já havia compreendido que não era somente amor ou carinho que poderiam existir entre um homem e uma mulher, e fosse isso ou desejo e luxuria, a princesa não estava disposta a aceitar naquele momento. Todavia luas se passaram sem que ela esperasse um filho e tudo ao seu redor degradava-se lentamente: sua relação com Alicent e Otto, a saúde de Viserys, sua fé nos Sete, o casamento forçado que a condenou a ser companheira de Aegon. A única coisa que se mantinha estável era Aemond e sua gentileza encoberta de ressentimento por Aegon.
A percepção de Helaena sobre Aemond mudou desde a sugestão da fuga; ela se tornou mais atenta para os olhares raivosos do irmão, sua fúria despejada em treinamentos e voos, sua exaustão ao presenciar Aegon bêbado e sua mãe mentindo para si mesma sobre mudanças que não aconteceram. Também atentou-se para a forma como ele a olhava, sempre variando entre algo acalentador e passional. Foi essa percepção que a impulsionou a ir até o quarto dele em uma das noites quando Aegon chegava bêbado demais para erguer o rosto dos travesseiros da cama que compartilhavam.
Não havia guardas depois que os encarregados pela segurança de Aegon o colocaram dentro dos aposentos; Helaena descobriu que todos se chateavam por precisarem compartilhar a obrigação de cuidar de um príncipe ocioso e desagradável. Assim como sabia que Aemond nunca tinha guardas em frente ao seu quarto, pois considerava esse tipo de proteção desnecessária para alguém habilidoso como ele. A ideia era presunçosa, mas Helaena não pode reclamar quando isso foi de encontro com suas ações. Ela caminhou pelo corredor e parou em frente a porta, cogitando se deveria ou não anunciar sua entrada com batidas.
O silêncio foi preferível e dessa forma ela apenas se esgueirou para dentro da maneira mais ágil que conseguiu. Seus olhos já estavam ajustados à escuridão quando ela teve a impressão de que Aemond reconheceu sua silhueta antes de se mexer na cama e resmungar algo em alto valiriano que Helaena não compreendeu perfeitamente. Ele estava ignorando sua presença, então a Targaryen imaginou se teria ouvido a palavra "sonho" ou se era apenas algo em que quis acreditar. Fosse isso ou outra coisa... Se Aemond acreditava que Helaena era a parte de algum sonho, ela deixaria que ele pensasse assim. Deixaria que houvesse pouco a ser dito e nenhuma sombra de suas vidas impedisse o que estava para acontecer.
Em passos lentos, a Targaryen se aproximou da cama do irmão e fez com que sua camisola deslizasse de seus ombros e caísse por todo seu corpo até que o tecido se amontoar aos seus pés. Deitando-se na cama, a princesa puxou os mesmos lençóis que cobriram Aemond sobre si e chamou por ele em um sussurro. O príncipe se virou para ela sem abrir o olho e Helaena contou algumas respirações intercaladas entre eles antes de tocar o rosto do homem com as costas da mão. Mais uma vez, ela chamou o nome dele. E então selou os lábios de Aemond com os seus.
Aegon não gostava de seus beijos ou de carícias delicadas, não gostava de seus raros suspiros e nem de olhar em seu rosto quando estavam na cama. Aemond a correspondeu com paixão. Ele a beijou e repetiu toques e carícias, a puxou para si e se atentou a cada suspiro de Helaena. Fez amor com ela olhando em seu rosto e a idolatrando em gestos e palavras. A fez gerar um filho em uma única noite que foi muito mais prazerosa que todas que ela já teve antes dele.
E quando soube da notícia de sua gravidez, ele implorou novamente para que eles fugissem, mesmo sabendo que seria impossível para qualquer um descobrir que o filho não era de Aegon. Aemond implorou porque queria Helaena mais do que queria seus títulos. E aceitou quando ela disse que tudo que tinha a oferecer eram suas noites e companhia.
Então Helaena tinha um amante. E tinha herdeiros. E o marido que Alicent escolheu para ela. E sua família e a falsa sensação de pertencimento. E todos os deveres que ela burlou secretamente.
E posteriormente às noites e a companhia de um amante, Helaena também teve alguém que a amava e que ela conseguia retribuir sem restrições ou idealizações. Ela tinha Aemond ao seu lado, e isso bastava.
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Lovers - Helaemond
FanfictionHelaena nunca imaginou que teria um amante. Pelo menos não até Aemond implorar para que eles fugissem para longe.