Um girassol, um maldito girassol.
O girassol estava vivo, em meio a escombros, corpos e gritos desesperadores. O girassol brilhavam enquanto eu pegava a bicicleta de meu irmão, e se destacava em meio a fumaça que sufocava a todos, mas não aquele girassol.
Ele brilhava, como os três gols do meu irmão, como um estudo de Chopin. Ele vivia como meu irmão, que prometeu viver pra sempre na música que eu prometi desistir. A música tirou tudo de mim, apesar de eu ter dado tudo aquilo que tinha pra ela.
Ou será que quem ofereceu tudo a ela e ficou sem nada fui eu? Precisou a vida do meu irmão ser tirada para que eu entendesse que o mundo não é justo como eu pensava, e que nem mesmo a melodia da imensidão que eterniza os mortos e aqueles que sofreram, pode encontrar a justiça.A música é transmissão de sentimentos, mas aqueles que já se foram não podem sentir o peso da minha música.
Ao chegar em casa, minha mãe me abraçou ao ver sangue em minha camisa, e eu não precisei ditar sequer uma palavra para que ela entendesse o que aconteceu.
Acho que assim como eu, meus pais entenderam que a felicidade de um país em guerra é temporária. Que os sonhos de seus habitantes são tomados aos bombardeios, e que o ocidente nunca cansou de retirar nossos pertences, até os mais preciosos.
Eu havia questionado a ela:
- Não vamos buscar o mano para enterrá-lo?
Mas meu pai foi quem tocou o ombro de minha mãe para que se virasse, e disse:
- Nenhum pai deveria ter que enterrar o seu filho, vamos esperar que a sua vida feliz e o amor que buscou por todo o sempre, floresça no solo e aqueça os corações daqueles que já se foram.
E rumou a porta, já com as malas arrumadas e um largo descontentamento ao franzir do cenho.
A melancolia bateu na minha porta no único dia que encontrei o amor, e perdi o amor no dia em que encontrei a melancolia. Adeus Zeke, meu ying.
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