Eu sou ZEKE INDRA!!!!!
Zeke, em um diálogo casual com sua mãe:
- Pode ter certeza, eu vou ser um grande jogador de futebol, mãe! Sem dúvidas eu vou ser sim!
Em resposta, ela disse:
-- Oh, meu filho! Não se prenda a sonhos inalcançáveis, esse sonho é somente para os abençoados. Prenda-se a ideia de fazer faculdade e estude muito!
- Hmpf! Mãe, se você não acredita, eu vou provar pra você!
Zeke fez o teste para o clube Pakistan Army FC contra a vontade de sua família, que acreditava ser um sonho fantasioso para a sua difícil realidade.Mas Zeke nunca se prendeu aos outros para ser feliz, e com muita determinação entrou para a base do clube como o terceiro jogador mais recomendado pelos olheiros.
Ele era teimoso, mas começou a usar de seu talento para galantear as garotas que estudavam com ele, e funcionou.
Em pouco tempo, Zeke se tornou popular, uma jovem promessa e esperança de uma nação para brilhar além das chamas e espalhar-se além das cinzas.Zeke tinha a garota que quisesse, mas só uma lhe interessava. Ela era alta, e muito bonita, mas lindo mesmo era a intensidade com que os olhos de Zeke brilhavam ao vê-la dançar. Era como uma lanterna no fim dos tempos, como se a escuridão fosse tomada por um reflexo de admiração, e Zeke segurava em seu amor como agarrou seu sonho.
Zeke sempre colocou o amor pelas coisas acima de tudo, e não abriria mão disso por nada.
Em um curto diálogo, Zeke disse a sua namorada:
- Sabe, minha família é incrível, meu irmão mais novo será um grande pianista, eu serei um grande futebolista. Coisas boas esperam a gente! Mas eu queria que meu irmão visse algo além dos estudos de Chopin.
- É que sabe, eu tenho medo de que ele se torne um refém das tristezas alheias, ao contrário de mim que vivo pelo amor, ele vive para transmitir a tristeza daqueles que já se foram, é uma vida difícil, mas eu admiro ele por ser dessa maneira.
E Zeke, apesar de parecer fofinho, nunca demonstrou essas palavras de admiração para mim. Sempre fui um estorvo para o mesmo, é que quem vive por amor se irrita com aqueles que vivem pela tristeza. O tempo todo ele dizia que minhas melodias iriam destruir a minha felicidade, e que não tem como ser feliz vivendo pela tristeza alheia.
Era uma segunda-feira chuvosa, final do campeonato juvenil de futebol. Meu irmão já tinha feito três gols e garantido a vitória para o seu time.Zeke era sem graça, não transmitia emoção como eu, que preferia muito mais que a vitória fosse decidida no final do segundo tempo, mas esse idiota insiste em acabar com a graça.
Então eu sai do jogo escondido dos meus pais e fui até o teatro para tocar, afinal: Eu não precisava ver essas coisas idiotas de futebol para me sentir feliz, tudo que me importo é a música e a minha finalidade.
Mas...
Na região do teatro, estavam instaladas as novas barricadas de resistência ao ocidente, e eu, descuidado como um pianista que só se importa com melodias, tampouco olhei para os lados.
Ao final do primeiro tempo, Zeke veio até a arquibancada para perguntar de mim, e meus pais que imaginavam que eu estava debaixo das cadeiras, como sempre fico, afinal a arquibancada é alta e eu prefiro estar sozinho, ficaram surpresos ao saber que eu não estava lá.
E então, os sons das bombas começam a ecoar pela cidade, meu irmão tenta ligar para mim, porém sem sucesso.
Meu toque de celular era "Requiem em D menor", Lacrimosa. Meu irmão sabia que se eu não atendesse o celular com tal melodia, eu estava teclando no teatro.
E então, falou para os meus pais verificarem em casa, porque eu certamente estaria lá, enquanto ele iria para o mercado comprar isotônicos para a equipe, já que estava no intervalo.
Mas era uma clara mentira dele...Maldito, sempre foi bom em tudo que se propôs a fazer, e com todo o amor de seu peito, foi em busca do seu elo perdido, da sua metade, daquele que buscava a tristeza.
No caminho para o teatro, ele passou a escutar os sons da minha melodia. As explosões que ocorriam ao seu lado, eram imperceptíveis. Ele presenciava o peso de uma Étude. Nem uma mosca era capaz de interceptar o tempo, nem as bombas podiam atingi-lo. O perigo iminente era nada mais do que um empecilho para os sons que ele escutava.
Zeke, assim como quando beijava sua amada, abrilhantou suas írises para a melodia que ecoava pelo local, e adentrou porta a dentro no teatro.
O meu fone dificultava a audição, é difícil se enxergar com os olhos fechados e concentrado. Enquanto o mundo explodia porta à fora, eu estava lá, suplicando ao universo que ouvisse os desfavorecidos.
O som era tocado com amor para representar a tristeza, mas os bombardeios não cessaram e atingiram a pilastra menor perto do piano.
Minha morte era iminente, mas o maldito do meu irmão era um atleta profissional.
Zeke correu em minha direção, me empurrando do piano. Foi quando a concentração destoou e eu consegui observá-lo, junto ao piano sendo esmagado.
Metade do seu corpo esmagado por uma pilastra, diversas partes do seu corpo rasgadas em razão as madeiras do piano que adentraram seu corpo, mas o maldito do meu irmão sorriu e disse:
- Te amo, você tem mais um motivo pra tocar agora.
E fechou seus olhos, com um sorriso enorme no rosto de quem sempre viveu com amor.
Sentei do seu lado, e pela primeira vez os meus olhos brilharam por alguém.
Eu amei meu irmão, assim como eu amei a música. Mas perdi as duas coisas ao mesmo tempo, e agora já não me resta nada.
E então, eu desisti da música naquele instante, em que meu piano se foi junto a meu irmão, abracei seu corpo já sem vida e rumei a minha casa desesperadamente, encontrando palavras para contar aos meus pais o que tinha ocorrido.
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