A Terra dos Favos - O Descendente

Capítulo 18

Akemi andava pela floresta e procurava algo para comer. De onde estava, viu uma estrada e dos lados dela estavam campos limpos. Apenas uma árvore destoava na paisagem. Era uma figueira que apresentava folhas robustas e vistosas. Geralmente isso era sinal de figos. Faminta, se aproximou da árvore. Subiu nela e começou a procurar a fruta. Nada! Não havia um figo sequer. Ficou desapontada. Então ouviu uma voz, que a surpreendeu.

– Estás procurando figos?

Ela olhou para baixo e eis que havia um senhor. Tinha o rosto coberto por um lenço.

– Sim, estou faminta.

– Não há nenhum figo nessa figueira, apesar de sua aparência.

– Percebi isso agora – disse ela descendo. Já ia voltar ao seu caminho quando o homem continuou a falar, fazendo-a retornar.

– Não te parece estranho uma figueira tão vistosa não ter frutos?

– Na verdade não, pois não é tempo de figos – Akemi diz por educação, porém querendo cortar o assunto e ir-se embora. Mesmo assim, ele continuou a falar.

– Também sou um viajante que vim aqui descansar e procurar alimento nessa árvore. De que me adianta toda esta sombra se não posso me aliviar da fome?

– Adianta que pode descansar como queria.

– Não há descanso nenhum para quem está faminto – ele tinha uma voz compassiva e aveludada. Falava com certo carinho, como a uma filha.

– Há descanso para os pés.

– Isso basta? Sabes o que vejo nesta árvore, minha jovem?

– Não, senhor, não sei. Gostaria muito de descobrir, mas tenho muito o que fazer. Com licença.

– Espera, jovem, para que tanta pressa? Tua família não vai a lugar nenhum, tens tempo para ouvir-me antes de encontrá-los.

A frase a admira.

– Como sabe que vou encontrar minha família?

– Minha querida – ele fala com ternura –, isso não importa agora. Vês que esta árvore aparenta uma coisa que não é. Aparenta ter frutos que não tem e desaponta todo viajante faminto que passa por aqui, assim como eu, assim como tu. Isso me faz lembrar as pessoas que são desse mesmo modo.

– O senhor tem toda razão… Bom, acabo de vir de uma cidade onde a corrupção reina. E o pior de tudo é que vi essa corrupção se formar, assim como o povo também viu. Um governante que fala suavemente, com voz de cordeiro. Acariciava os ouvidos do povo dizendo palavras bonitas, proporcionando divertimento, enquanto dava um golpe por trás. Ali também há soldados que deveriam proteger a vida das pessoas, alguns que fazem parte do próprio povo, e em vez disso os maltratam, agridem.

– Sim, querida jovem, mas isso não é tudo. Há pior que isso. Pior que o inimigo é o amigo que se faz de bom.

Ela achou estranha essa comparação, pois acreditava que ele se referia ao que andava acontecendo em Izdihar.

– E como sei quem é o amigo leal e quem é o falso?

– Prove-os! Não deves confiar em palavras soltas ao vento. Deves buscar algo sólido.

– Me lembrarei disso.

– Nos campos existem árvores frondosas que não dão fruto nenhum, enquanto há árvores aparentemente fracas que com seus poucos frutos servem saúde a todo aquele que a encontra. Assim também são as pessoas. Quando passar pela floresta, irás encontrar uma macieira pequena e frágil, com poucos frutos. Mas seu fruto é bom e saudável. Rubro como a cor dos teus cabelos. Minha jovem Akemi, tu tens um dever e fico feliz que saibas qual, tens consciência. Serás como a maçã da floresta, que está fixada junto às águas, que seu fruto é bom e agradável e nasce no tempo certo. Se quiseres, terás sucesso, se fizerdes conforme o que é correto. À árvore da floresta a ordem é florescer e prosperar; à árvore da estrada, a ordem é secar e nunca mais enganar ninguém. Só te digo uma coisa, não deixes que a figueira falsa corrompa teu coração. Ele é valioso demais para se perder assim. Lembra-te de que a sabedoria é plena de misericórdia e bons frutos, sem fingimentos. E é só em paz que se semeia a justiça.