Capítulo VII-A Canção de Fogo

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Em retrospecto, era como se Aemond enxergasse a própria morte. Era aterrorizante reviver seu próprio trauma, ainda que o sentisse longe do conforto de ter posto termo ao sofrimento e sim vendo aquela que amava rumo ao fim.

No entanto, a paralisia não durou mais que alguns segundos. O príncipe voou com Rhaegal enquanto Drogon planava alto, cuspindo fogo e cumprindo sua missão de dissipar as trevas. Em sua mente, sua preocupação era resgatar Daenerys. E conseguiu fazê-lo milagrosamente. Mas ao invés de ficar para as comemorações, Aemond a levou de volta a Pedra do Dragão.

E foi lá que ele colocou Daenerys, inconsciente, na antiga cama que um dia os ancestrais de ambos deitaram. Aemond chamou as criadas e pediu que a limpassem enquanto ele verificava a segurança do lugar.

A cena de Daenerys pulando de Drogon e cravando peculiar adaga—teria sido a mesma em que sua mãe usou para ameaçar Rhaenyra na ocasião em que perdeu o olho?—no rei da Noite passava por trás de seus olhos como flashes. Nem aquele inimigo esperava por tal ação. E o grito que ela deu era indescritível.

Havia dor e angústia. O som de quem tinha perdido tanto nos últimos anos, de quem libertava a raiva depois de ser forçada a engoli-la.

Aemond não era diferente. Ele tinha gritado o mesmo quando, voando com Vhagar, queimava os apoiadores de Rhaenyra e lutava por Aegon. Não sentia orgulho do que fez, mas sua mãe sempre disse que eram família.

"Aos olhos do mundo, somos unidos. Esbofeteiem-se se quiserem, mas em particular. Ninguém deve saber o que se passa, entenderam?!", tinha dito Alicent rispidamente antes de suavizar. "Meus meninos, são irmãos. Por que se odiarem assim? Nasceram de mim, que sempre sacrifiquei tanto por vocês. Sabem o quanto me entristece ver seus comportamentos?"

Foi o dia em que Aemond entendeu o que era dever e sacrifício. Dois conceitos que, embora sempre exigiram dele sem nada a lhe dar em retorno, moldaram seu caráter. O grito de Daenerys expressava esse lado dele também.

O dia em que morri foi quando gritei pela última vez. Sacrifiquei-me por meu irmão, por uma guerra travada por nossa mãe e saber hoje em dia que tudo isso foi em vão. Não obstante, a dinastia deve ser preservada e farei isso por eles. Por Daenerys. Por nós.

Encontrou Sor Barristan, afinal. O velho cavalheiro juramentado à dinastia Targaryen teria ficado para trás, para defender Pedra do Dragão. Quis Daenerys que assim fosse, pois não se arriscaria a deixar o local desprotegido.

"Lorde Aemond", Sor Barristan o avisou e o cumprimentou, surpreso. "Mas voltaram tão cedo? Confio que as notícias são positivas?"

"De fato, em muitos aspectos são", disse Aemond, sério. "Vencemos criatura diabólica e salvamos os sete reinos."

Sor Barristan arqueou as sobrancelhas.

"Sinto que há algo de ruim a acrescentar."

Aemond deu de ombros, mas não precisava de muito para que se entendesse sua exaustão. O cavalheiro o levou ao salão de reuniões de Aegon o Conquistador e ali serviu uma jarra de vinho para ambos. O caolho que ostentava um olho de safira aquiesceu, assentindo em agradecimento. Foi somente depois de beber um gole do vinho que ele contou tudo o que aconteceu a Barristan.

"Compreendo", o mais velho coçou a barbicha, reflexivo. "Acho que nossa rainha vive, milorde. Você verificou alguma ferida que a tenha afetado?"

"Confesso que não vi nada demais", ele admitiu. "Minha maior preocupação foi trazê-la antes que tombasse como o rei tombou, e ele quase a levou junto."

"Enviarei nossos melhores curandeiros."

"Obrigado." Mas Aemond tinha algo a mais a dizer. "Precisamos montar nossa estratégia para derrubar a regência do usurpador na capital enquanto há tempo."

A Ascensão dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora