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SELENA

Encarei a mesa com quatro garotas bem no meio da lanchonete. Elas gesticulavam e falavam alto, tão desesperadas por atenção. Especialmente, atenção dos garotos do futebol que estavam do outro lado, conversando entre si e rindo como se não existisse mais nada ao redor. Voltei meus olhos para a mesa das meninas me dando conta de que todo o esforço delas por atenção estavam sendo em vão. Estavam atraindo olhares sim, mas de julgamento igual o meu.

Me virei no balcão olhando dentro da cozinha, eu estava tão cansada dessa repetição que a minha vida se tornou.

Acordo às seis, chego no trabalho as oito em ponto, fico aqui até às nove da noite atrás de um caixa e não posso sair, até porque eu sou a única dos funcionários que sabe devolver o troco corretamente. Então, meu único entretenimento é olhar para as pessoas percebendo o quão patéticas algumas são e o quão monótona é a minha vida.

A selena de oito anos estaria extremamente desapontada com a de vinte, quando criança, me imaginava viajando o mundo e conhecendo os lugares mais lindos espalhados por aí. Queria me aventurar, viver a vida ao máximo aproveitando todos os prazeres que esse mundo é capaz de oferecer. Mas na prática é totalmente diferente.

Não pensei que iria perder minha adolescência atrás de um balcão, é, estou aqui desde os quinze e não sei como ainda não fiquei completamente louca. Mas sei que estou perto de surtar e virar uma maluca de carteirinha com direito a pensão do governo.

Me virei novamente para frente, observei uma das garotas sentadas na mesa se levantar e ir até um dos garotos do futebol. Ela se inclinou na direção dele e deram um selinho, ele a olhou sorrindo enquanto tirava os cabelos castanhos que caiam sobre o seu rosto.

Tenho para mim, que nenhuma mulher precisa de um homem para ser feliz, mas não posso não pensar que talvez a minha vida fosse diferente se eu tivesse um namorado. Alguém para conversar no decorrer do dia tedioso, alguém me esperando na porta quando eu saísse do trabalho. Uma pessoa para sair nos dias de folga.

As vezes só queremos ter alguém.

—Tudo bem? — me virei para Agatha que estava repondo as coxinhas — Parece estar no mundo da lua.

Agatha é a única pessoa com quem eu converso aqui. Além de ser a minha única amiga, só tenho ela.

—Pensando em como queria ir para longe daqui.

—Eu planejo isso desde quando comecei a trabalhar nesse lugar — ela esticou o braço mostrando algumas queimaduras no ante braço — Não aguento mais isso, não quero passar mais um ano fritando coisas e morrendo de calor dentro da cozinha de uma lanchonete.

Agatha está aqui a um ano e meio. Tem somente dezessete anos, fico imaginando que entrei aqui com quinze, a cinco anos atrás. Espero que ela não fique igual eu.

Ela voltou quase correndo para cozinha quando gritaram o nome dela. Pelo menos eu não vivo nessa correria, o que é um pouco confortável.

Puxei a cadeira de rodinhas e me sentei, girei a mesma no pegueno espaço me lembrando de quando fazia isso na biblioteca da escola. Tudo parecia tão mais fácil naquela época.

Antes de dar tudo errado, a cinco anos atrás.

Olhei mais uma vez para os adolescentes a minha frente, cheios de oportunidades para ter uma vida incrível. Nesses momentos me sinto uma velha, como se minha vida fosse um círculo onde as oportunidades se encontram totalmente fora dele.

—O que está acontecendo? — Agatha parou ao meu lado, me olhando com aquele olhar de que sabia que algo não estava bem — Sua tristeza está tão visível.

Depois deleOnde histórias criam vida. Descubra agora