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SELENA

É um fato curioso, nunca antes havia sentido esse nervosismo tendo os olhos de alguém presos em mim. Muito menos a pele arrepiada por uma leve vergonha, e até mesmo, um frio na barriga por completo nervosismo. Ninguém me tira a fala dessa forma, não consigo entender porque me senti assim em todas as poucas vezes em que seus olhos me encontraram. É estranho.

Me inclinei na cadeira, me sentando da forma correta enquanto olhava para ele esperando que dissesse algo. Mas na verdade, era eu quem tinha que dizer, mas eu tinha a sensação de estar com a boca costurada.

—Claro — murmurei — Pode falar.

Ele se inclinou para frente, colocando seus braços no balcão. Foi inevitável não olhar para as suas mãos e não me assustar com algumas cicatrizes na mesma. Parece que ele obteve isso em alguma briga, não tem outra explicação.

Era daqueles machucados que você faz nos nós dos dedos quando soca algo com força, e também tinham cicatrizes de alguns cortes nos dedos.

Bom, ele tinha uma aparência triste e melancólica mas não me parecia do tipo que arruma confusão por aí. Se bem que, as aparências enganam.

—Eu poderia perguntar para outra pessoa, mas como já tivemos uma breve conversa ontem, pensei que talvez não tivesse problema em perguntar para você — explicou — Eu queria perguntar algo, pode parecer estranho mas é importante para mim saber.

—Tudo bem — confirmei. Ele falava de uma forma, estava me sentindo uma confidente — Se eu souber, respondo sim.

—A noite que meu pai morreu, sabe me dizer o que aconteceu?

Pelo o que parece, os irmãos não contaram nada a ele. Eu pensei que a morte do pai poderia ter amolecido o coração deles, mas parece que não.

Acontece que isso é algo que eu ouvi das pessoas na rua, não posso simplesmente afirmar para ele o que aconteceu com o pai sem saber se de fato aconteceu.

—Eu ouvi algumas coisas, mas não seria melhor que seus irmãos te contassem?

—Na verdade, seria, realmente. Mas é complicado explicar, você não pode mesmo me ajudar?

Eu não gosto de fofocas, odeio repassar informações que eu não sei se de fato são reias. Mas isso não é fofoca não é mesmo? O problema é que não sei se a história é verídica.

A melhor forma seria que os irmãos contassem para ele. Mas também entendo que ele não consegue essa informação vindo deles.

—Tudo bem. Mas se lembre que eu não sei se isso realmente aconteceu da forma que eu ouvi, as conversas por aqui as vezes podem ser totalmente modificadas enquanto são repassadas — expliquei. Ele apenas concordou com a cabeça — Pelo o que parece, seu pai começou a passar mal sentado na calçada, os vizinhos chamaram seu irmão, ligaram e explicaram mas ele demorou muito para chegar e quando chegou foi sem o carro e até voltar na casa para buscar, já era tarde demais. Seu pai já estava praticamente morto.

Eu não entendi isso muito bem. Desde o momento em que ele soube que o pai estava passando mal, deveria ter corrido com o carro para levá-lo para o hospital.

O médico disse que se ele tivesse ido para o hospital mais cedo, pode ser que o pai tivesse se salvado.

—Ele poderia ter salvo meu pai se tivesse chegado no hospital antes, não poderia?

—Bom, uma pessoa que trabalha no hospital disse que sim. Que o médico falou que se tivesse chegado um pouquinho antes, ele poderia estar vivo.

Ele me olhou com uma expressão diferente quando terminei de falar. não era mais um rapaz melancólico, ele parecia estar consumido por pura raiva.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2023 ⏰

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