Existia há muito tempo um gato malhado de castanho e preto, o que passava pelas épocas como quem passava pelos dias, e, sempre que morria, voltava à vida pouco depois num novo ambiente, num novo sítio. Ele assistiu imensas mortes, inclusive ás suas próprias mas o gato nunca chorou.
Uma das vezes, teve como dono um capitão de um navio. O gato odiava água, mas era bem tratado, tinha todo o peixe fresco que queria e toda a bebida que conseguia beber. Num temporal o gato caiu ao mar e o capitão ainda o tentou salvar, mas o gato acabou por morrer.
Noutra vez, o gato pertenceu a um príncipe. O gato odiava a riqueza, mas tinha todas as mordomias possíveis e um banho cheio de espuma dado pelos mordomos. Um dia o príncipe foi para a guerra e lá foi morto. Toda a gente se esqueceu do gato e ele morreu, ali mesmo, debaixo da cama do descendente do trono.
Depois o gato foi criado por uma criança de uma família bem abastada. O gato odiava crianças. A criança era grande para a sua idade e bastante constituída, mas o gato tinha com quem brincar e com quem ficar. Um dia ao ir-se deitar a criança levou o gato com ela, mas durante o sono ela apoiou-se nele e o gato morreu asfixiado pelo corpo desproporcional da criança.
Outra das vezes, o gato voltou à vida mas desta vez não teve nenhum dono; ele era dono de si próprio e, assim, tornou-se um gato selvagem. O gato era charmoso e bonito, o seu pelo mesmo que selvagem era sempre limpo e cuidado, os seus olhos eram profundos e de um preto brilhante. Ele começou a falar dos animais selvagens das suas vidas passadas e como vivia e revivia, que já tinha tido como donos um herdeiro do trono, um capitão de um navio, uma criança de uma família rica. Ele atraia toda a atenção das gatas e inveja dos outros gatos e, por isso, ficou egocêntrico, egoísta.
Um dia o gato malhado viu um gato branco sentado perto de uma macieira. Ele passou e o gato branco nem olhou. Voltou a passar e ele continuou a olhar para as nuvens.
No dia seguinte, o gato malhado voltou a lá passar e outro gato lá estava, mas mais uma vez o gato branco nem reparou no malhado. Este, frustrado, dirigiu-se a ele e falou de tudo: de que revivia, dos seus donos épicos e das mordomias que sempre teve. O gato branco encara-o com os seus olhos grandes e azuis, mas nada disse. O gato malhado desiste e senta-se ao lado dele. Começou por exibir os seus olhos negros e o seu pelo brilhante mas o gato branco continuava a olhar para o céu.
O gato malhado perguntou-lhe, então, porque olhava tanto para o céu, ao que o branco respondeu que estava apenas a ver as formas das nuvens. O gato malhado desviou o olhar daquele pelo branco e observou as nuvens com ele.
Os dias foram passando e o gato malhado ganhou interesse no gato branco. Era a primeira vez que o gato malhado tinha criado uma ligação com alguém. À medida que os dias iam passando, começaram a fazer mais coisas juntos .
Numa das vez os dois foram a zona florestal onde tinha um rio, o gato malhado começou a sentir uma pequena ansia, o gato branco então ao ver isso disse ao amigo se queria ficar apenas na relva, sentados, a falar. O malhado sorriu.
Noutra vez os dois foram á cidade, a cidade era enorme e rica com imensas pessoas a passar, o gato malhado então começou-se a lembra do quarto escuro onde tinha sido deixado a apodrecer, o gato branco pouco após terem chegado disse que não gostava da cidade e os dois foram embora.
Numa tarde meia solarenga um infantário tinha ido visitar a selva onde os dois gatos co-habitavam com os demais animais. As crianças quando se aperceberam da presença do malhado começaram a correr atrás dele para brincarem com ele, ao ver o gato branco simplesmente pôs-se a frente e então as crianças deixaram de perseguir o gato malhado e brincaram com a aquela bola de pelo branco.
Num dia, ao anoitecer, o gato malhado disse ao despedir-se que no dia seguinte iria levar o gato branco a um sítio especial - uma floresta cheia de macieiras e de sítios altos para ver as nuvens. O gato branco sorriu, pela primeira vez, e foi embora.
O dia seguinte chegou e o gato malhado dirigiu-se para o lugar onde se acostumara a encontrar-se com o gato branco. Mas quando chegou encontrou-o deitado de baixo da mesma arvore onde se conheceram. Ele aproximou-se lentamente e encostou-se ao seu lado esperando que ele acordasse.
Passaram horas e o gato branco não acordava. Aborrecido, o gato malhado tentou acordá-lo, mas o outro não reagiu. Tentou então abanar com um pouco mais de força, porém a reação foi a mesma. O gato malhado encostou o seu focinho ao do gato branco, mas não o sentiu o respirar. Apercebendo-se do inevitável, o gato fica a olhar seriamente para o amigo ali deitado, até que começa a escorrer água dos seus olhos. O gato que não chorava há mais de 1000 anos, nem com sua própria morte, estava agora a chorar por outro gato, um gato que tinha conhecido apenas a algumas semanas. Ele ali ficou, chorando, por horas, dias e noites. O tempo passou e o gato ali ficou chorando pela bola de pelo branco agora inanimada à sua frente. Passado 3 dias, o gato cai de cansaço ao lado do gato branco e nunca mais acordou. O gato malhado nunca mais reviveu.
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P.s. Agradeço à Faithful_Liar por ter revisto e feita criticas sobre o texto, obrigado, e por falar nisso ela tambem escreve vão ver as suas histórias tambem.
OBRIGADO A TODOS
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O gato que chorou após 1000 anos
Historia CortaUm gato que morreu e reviveu por inumeras vezes mas em todas elas nunca derramou uma unica lágrima.