wonderland.

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AVISO: Conteúdo explícito [+18].




Rachel Sbardelini
Itália


Já é maio e eu mal consigo acreditar.

O sol atravessa as cortinas da janela do meu quarto, onde estive minutos atrás regando os vasos de plantas como fiz todos os dias nos últimos quinze dias. Kaya conseguiu cuidar de tudo nos meus dias em Milão, menos das minhas plantas. Ao menos os outros cômodos estavam arrumados, tentei convencer a mim mesma enquanto salvava as pobrezinhas lhes dando uma boa quantidade de água.

Mas, após esse drama, eu parei em frente ao quadro imenso de madeira. A minha primeira aquisição na Itália: um mural para que eu pudesse grudar alguns lembretes em post it colorido e pendurar fotos. Logo não haviam mais quadradinhos de papel com lembretes, apenas polaroids e as fotos que eu havia… como eu posso dizer, pego emprestado dos álbuns antigos que minha mãe costumava guardar no fundo do seu guarda-roupa.

Haviam fotos que não deixavam o mural. Algumas minha e de Camila pequenas, com meus pais e uma da primeira vez em que pisei em Interlagos anos atrás. Também tinha algumas polaroids antigas das minhas primeiras semanas na Itália, entre outras memórias boas, e lá estava eu tentando encontrar espaço para as mais recentes.

De Bahrein, minha preferida, Mick me abraçava tão forte que era perceptível pela sua expressão. Eu estava tão feliz que meu sorriso tomava conta de toda foto, seus cabelos estavam úmidos quando ele tirou o boné e correu na minha direção após dar entrevistas pós corrida. Logo depois, de Imola, meu maior ídolo nas pistas sorridente enquanto erguia o troféu de segundo lugar.

Fiquei cerca de dois ou três minutos encarando aquela foto. Faziam duas semanas e eu ainda não conseguia acreditar que eu estava no meio da festa que a minha equipe tinha feito naquele fim de semana com Charles e Sebastian no pódio. E a prova estava entre meus dedos, espalhadas pela cama e armazenadas no meu celular.

─ Sabe, você deveria parar de…

Um gritinho deixa minha boca quando sinto meu corpo gelar pelo susto. Encontro Kaya parada na minha porta enquanto seus olhos acompanham a polaroid caindo quase em câmera lenta na sua frente.

─ … deixar sua chave reserva no vaso de plantas. Qualquer um pode entrar aqui, sabia? É perigoso.

Meu coração ainda está acelerado e eu não consigo reagir de forma sarcástica ao seu conselho, mesmo que seja minha maior vontade.

Ela joga a bolsa sobre a poltrona e abre os braços na minha direção.

─ Senti saudades! ─ diz com um sorriso empolgado.

Ainda estou com uma das mãos no peito respirando fundo de olhos fechados.

─ Da próxima vez você pode ao menos anunciar que está entrando?

Kaya se joga na cama no espaço vazio.

─ Eu faria isso se Mick estivesse aqui. Não iria correr o risco de ver algo que me traumatizasse pelo resto da vida.

Reviro os olhos enquanto ela continua sorrindo, dessa vez para a tela do telefone que acabou de tirar do seu bolso. Eu volto a atenção para o mural com o objetivo de ser rápida, mesmo que Kaya não se importe tanto enquanto ri para tela e digita de forma frenética.

─ O que tem de tão interessante aí pra você estar sorrindo desse jeito?

─ Só alguns vídeos engraçados.

Lanço um olhar desconfiado e ela logo disfarça ajeitando sua postura.

─ Deveríamos pedir comida.

BITTERSWEET | MICK SCHUMACHEROnde histórias criam vida. Descubra agora