Capítulo Único

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  Era noite. Mais especificamente dizendo, por volta das oito horas, e Joui Jouki caminhava pelas calçadas isoladas. Estava se dirigindo a casa de seu melhor amigo, vulgo aquele que amava secretamente, Cesar Cohen. E bem, o que isso quer dizer? Quer dizer que ele estava indo o visitar para passarem um tempo junto, já que o mesmo teria dito que estava sozinho e havia comprado um novo game para experimentarem. Estava ansioso como nunca, seu coração palpitava com força e um sorriso empolgado nunca saía de seu rosto, seus pés se movimentavam com agilidade…

  Até parar, de frente a uma grande residência, bem arquitetada e destacada das outras do bairro. Afinal, sabia que a família Cohen tinha uma boa herança, e sentiu o nervosismo florescer em sua pele como vinhas quando tocou a campainha. Uma de suas pernas balançava para frente e para trás, como se não fosse parar nunca, tentando aliviar todo o tipo de pensamento que lhe fizesse desistir e correr de volta pra casa. E enquanto pensava em todo o tipo de bobagem, escutou o ranger da porta a sua frente ao abrir e revelar um rosto familiar.

  — Noite, Jo. - Comprimentou, abrindo a porta para lhe dar a passagem. - Pode entrar.

  — Obrigado, Cesar!.. - Adentrou - Como está? 

  — Melhor. - Deu um sorriso curto e sem graça. - E você? Tá pronto?

  — Pronto para o quê? - Perguntou, genuinamente confuso.

  — Ué? Pra me ver jogar a nova sequência do Força G Adventures, pô! - Dizia Cesar com certo triunfo, soando até mesmo um pouco exagerado. - Essa é a terceira edição, completando a trilogia. E aparentemente tem uma nova ending. - Pegou a capa do CD que mostrava uma ilustração do jogo, e com um sorriso de canto a abriu e colocou o item dentro do videogame. - Quer pegar algo pra comer?

  — Eu já jantei, relaxa. 

  — Então… Pega um energético ae? Tá no freezer.

  — Tá bom… - O asiático, em direção a cozinha, pega a bebida e volta para a sala, ainda distante do outro. - Se eu jogar a lata daqui, você consegue pegar?

  — Ah, sei lá… Quer testar?

  — Pensa rápido! - Jogou o energético em direção ao programador, que estendia a mão, mas por algum erro de reflexo do mesmo a lata veio ao chão. - Ah!

  — Porraaaa… - Resmungava, enquanto pegava a lata do chão, olhando-a tristemente.

  — Me desculpa…

  Suspirou: — Não esquenta não, vem cá. Bora jogar?

  — Uhum!

  Joui se sentou no sofá ao lado de Cesar, que segurava um controle na mão, e ficou como telespectador da tela da televisão, que transmitia a tela inicial do jogo.

  O Cohen começou a jogar, e era um jogo de RPG, logo era esperado que não tivesse formato multiplayer, mas o Jouki não se importava: adorava ver o outro jogar, ouvir seus resmungos, escutar suas opiniões e, melhor ainda quando ganhava alguma batalha e gritava sem limite algum, enquanto suava como se realmente tivesse lutado contra um monstro terrível. Claro que, se fosse essa a tal realidade, infelizmente o hacker estaria em um lugar melhor, mas o asiático gostava de imaginar como se ele realmente estivesse conquistando vitórias e aprendendo com suas derrotas, o que era bastante inspirador para o mesmo. Além de que Cesar só ficava animado de verdade quando estava diante da tela. E Joui amava ver seu sorriso.

  Tempo ia, tempo vinha, mais e mais latas vazias de energético iam para o chão e o jogo estava na sua etapa final. 

  — Eae Jo, o que você ta achando do… - Se virou para falar com o Jouki e o encontrou dormindo, encostado ao seu ombro. - Ah… Porra.

 Ver ele dormindo daquela maneira o fez lembrar que Joui tem uma rotina bastante rígida de sono, e seu horário já estava ultrapassado. Era de se esperar.

  Vendo a tal posição desconfortável que o mesmo se encontrava, se atreveu a tentar se levantar para buscar algum travesseiro ou algo do gênero, mas paralisou ao ouvir o mesmo resmungar.

  — Hum… Cesar…? 

  — Ai caralh-! - Parecia resmungar seu nome enquanto dormia, e o Cohen nunca havia visto seu amigo sonâmbulo. Até porque, ele nunca disse sobre ser. - S-sim? Joui?

  — Fica… A… Qui…

  E de repente, semi-abrindo seus olhos puxados, olhando para os de Cesar com uma certa intensidade, sua mão boba subia até seu rosto e o segurava, se aproximando, o que o arrepiava por inteiro. O mais velho o olhava assustado, com seu rosto queimando como brasa viva, enquanto sentia a ponta dos dedos do outro delicadamente se encontrar com a pele pálida que tinha. Mas tal foi apagada quando Joui ousou se aproximar mais e encostar seus lábios nos do outro. E acordou.

  —  AH! - Se jogou para trás. - O- O que tava… ?

  — Eu quem pergunto! Que isso Joui? 'Cê tava dormindo, e aí… Você… 

  Era um momento constrangedor, de fato: ambos com rostos corados, se olhando entre confusão e nervosismo, mas o asiático não demorou até tomar voz.

  — Ai meu Deus… A culpa é minha Cesar, me desculpa, eu… ! Eu nunca fui assim, eu juro!

  — Não, não, tudo bem, mas… Isso é estranho, não é? Tipo, não deve ter sido por acaso… Eu acho.

  — É… Acontece que não foi por acaso. - Dizia ansioso, sem achar as palavras certas que pareciam estar presas na ponta de sua garganta. Olhava para o homem à sua frente com incerteza e sentia seu coração bater forte, mas não podia evitar a força de vontade de lhe contar sobre seus sentimentos o mais rápido possível 



  TumTum… TumTum… TumTum…



  Seria essa a escolha correta?

  — Já faz um tempo já Cesar, que eu… Meio que… Gosto de você. Sabe? Tipo, te amo. - E sorriu.

 Esperava ansiosamente pela sua resposta, da mesma maneira que no fundo, bem no fundo, já sabia dela. O Cohen sempre foi um ótimo amigo e, em diversas situações, ele esteve contigo. Sabia lá no fundo que ele o amava de volta. "É, é isso! Ele me ama de volta! Ele-

  — Eh… Porra, é foda né? - Coçou a nuca. - Foi mal Jo, eu realmente gosto muito de você mas não nesse sentido. Eu to de boa, sabe?



  "Ah."



  — É um assunto meio complicado, até porque eu mesmo não me conheço ainda e… - Olhava para algum canto, tentando escapar sua visão de Joui, levemente desconfortável. - Me desculpa, de verdade, mas não tô legal. Podemos terminar por aqui? Por favor?



  "Ah."



  — … Tudo bem.




  E se foi uma noite, e o que não se deve fazer nela: uma declaração. 

Era uma vez, Uma Noite (e o que não fazer nela) - JoesarOnde histórias criam vida. Descubra agora