Capítulo 9

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Robert

Depois dos parabéns ao meu irmão Cristian, o salão virou uma mini balada. De repente tiraram uma caixa de som, não sei de onde e uma seleção de músicas agitadas começaram a tocar.

Eu estava no meu canto, observando a animação dos convidados ao dançarem. Até mesmo meus pais pulavam entre os jovens e Cristian havia arrastado Dona Marta, a governanta, para dançar também. O ambiente estava à meia luz, minha mãe havia improvisado uma iluminação interessante com castiçais. Victor se aproximou de mim com dois copos de uísque e me ofereceu um, que eu aceitei de bom grado.

— Obrigado. Não vai dançar? — eu perguntei a ele, enquanto sorvia o líquido amarelado.

— Nem pensar. Sou muito descoordenado, ia passar vergonha.

— Essa eu queria ver — eu ri. — Cadê sua acompanhante?

— Tive que mandar para casa de táxi. Longa história. — Ele voltou o olhar para os que dançavam — Aquele moço que seu pai convidou, se ele não estivesse com a namorada aqui diria que ele é viado. Olha o jeito que ele rebola...

— Victor, é melhor nem fazer esse tipo de comentário. Você viu que meu pai tá respondendo um processo por homofobia?

— Coitado do seu pai! — Victor virou o restante do conteúdo do copo de uma vez só — Seu pai é um homem de mente aberta e muito compreensivo. Quem dera se o meu pai fosse um pouco como ele.

— O vagabundo que abriu o processo contra ele tá fazendo isso porque foi mandado embora por justa causa. Quando mostrarmos para o juiz o desvio de dinheiro que ele fez enquanto gerenciou o setor de compras, ele vai cair do cavalo.

— Com certeza. Mas é difícil tirar a mancha que fica sobre a imagem de vocês.
— Isso é verdade — concordei. — As más notícias correm mais rápido que as boas.

Voltamos a ficar em silêncio, observando as pessoas dançando. Todos pareciam um pouco bêbados e se moviam de um jeito muito engraçado. Eu mesmo já estava um pouco alto, pois o copo de uísque que Victor me serviu não era o primeiro que eu tomava naquela noite.

Vi uma figura se afastando da bagunça e saindo para o jardim. Demorou um pouquinho para eu distinguir a silhueta de Theodora. Ela parecia mancar e isso me deixou muito curioso.

Esperei que o namorado ou a irmã a seguisse até o lado de fora, entretanto minutos haviam se passado e ninguém parecia ter se importado com o sumiço dela.

Quando dei por mim já estava pedindo licença ao Victor e caminhando para fora do salão.

Nosso jardim é grande e muito bonito, um dos grandes orgulhos de minha mãe, com uma grande variedade de rosas, folhagens coloridas e num canto uma pequena estufa onde gostava de cultivar orquídeas e morangos.

Caminhei entre as cercas vivas de cluses que chegavam à altura da minha cintura e encontrei Theodora sentada no banco de concreto, escondida pela sombra da noite. Ela havia tirado as sandálias e massageava um dos tornozelos.

— Você está bem? — Eu me aproximei, preocupado.

Ela levou um sobressalto quando me viu emergir do meio das plantas. Quando a luz da lua iluminou parcialmente meu semblante, Theodora me reconheceu e eu pude perceber seu lindo sorriso.

— Robert? O que faz aqui?

— Estava abafado lá dentro, então eu quis tomar um ar. Mas e você? Parece machucada.

— Eu acho que bebi um pouquinho mais do que estou acostumada. Aí me confundi na hora de dançar e pisei em falso.

Sem cerimônia, me sentei ao lado dela. O perfume que ela exalava era o de flores e me pegou em cheio. Ela cheirava tão bem.
— Posso?

— Não precisa.

Eu peguei a perna dela e coloquei sobre meu colo. Fiz uma breve avaliação e vi que não estava inchado.

— É só uma torção, já aconteceu antes — ela disse, eu percebi que a voz dela estava levemente ofegante.

— Talvez melhore com uma massagem.

Como ela não protestou, eu segui massageando o tornozelo esguio e seguindo para os pés. Ela fez uma careta de dor e eu tentei ser mais gentil.

Meu coração começou a palpitar descontroladamente. Isso só tinha acontecido na adolescência, e desde então eu criei uma autoconfiança tão grande que nunca mais me senti ansioso diante de uma mulher. Tocando ali, em uma pequena parte dela já me senti inquieto, como seria então se eu pudesse tê-la por inteiro?

Obviamente ela sentia algo parecido, senão os olhos verdes não estariam cintilando tanto no escuro, ela não estaria mordendo os lábios daquele jeito, como se estivesse se contendo. Minha mão subiu um pouco mais e alcançou o joelho, com as pontas dos dedos no início da coxa macia. Ela suspirou e parecia estar no meio fio.

Se eu tivesse conhecido Theodora um pouco antes, a história seria diferente. Eu com certeza a deitaria no gramado macio e provaria de todos os seus doces encantos, mas eu queria ser um homem diferente do meu pai, queria ser melhor que ele.

Hoje quem visse o casal Servantes tão feliz não poderia imaginar o quanto minha mãe sofreu nos primeiros anos de casamento. Eu ainda me lembro de vê-la chorar e brigar com meu pai que não conseguia ser um marido fiel. Ela me colocava para dormir e entre lágrimas me dizia que quando eu fosse me casar, eu deveria ser um homem decente e não uma galinha que faz a esposa sofrer.

Hoje, anos depois, eu ainda me lembrava disso. Tive uma vida com muitas mulheres, porém tinha em mente que quando me comprometesse com alguém eu seria um marido melhor que meu pai.

Infelizmente a presença tentadora daquela ninfa negra na minha frente desviou toda a minha boa intenção. Minhas mãos pareciam ter vida própria e eu acreditei que meu coração até poderia saber pela boca.

— Eu agradeço, já estou melhor. — Theodora puxou o tornozelo de volta, como se compartilhando das mesmas preocupações que eu — Talvez seja melhor...

— Shiii!!! — eu falei, colocando o dedo indicador sobre os lábios dela. — Fique caladinha. Deixe-me olhar para você, tocar em você.

— É melhor não, Rob. — Ela falou meu apelido de forma tão íntima que me encorajou ainda mais.

— Por favor, Theodora.

Eu desci meu dedo dos lábios dela e fiz o contorno do queixo e descansando a mão em seu pescoço. Me aproximei mais para aspirar o perfume de Theodora enquanto senti—lhe a mão afundar em meus cabelos. Nos encaramos por um tempo e eu me perdi naqueles olhos que pareciam enxergar bem no fundo da minha alma.

Então ela arfou, aborrecida.

— Assim fica difícil resistir… — E me capturou num beijo.

Se eu estava conseguindo me conter até aquele momento, minha resistência caiu toda por terra quando os lábios deliciosos se esfregaram nos meus. Qualquer alerta de perigo se desligou da minha mente e eu enfiei minha língua na boca dela, com um sentimento de urgência que jamais vivi. Os braços dela envolveram meu pescoço e eu experimentei os pequenos seios tocarem em mim, me senti excitado e o volume em minha calça começou a crescer notavelmente.

—Você é deliciosa.

— Continue me beijando. — O pedido parecia desesperado demais para eu não atender.

Voltei aos lábios de Theodora, beijando-a com tal intensidade que parecia que em algum momento eu iria me fundir a ela. Minha língua fez o caminho até o pescoço e mesmo sabendo que poderia deixá-la marcada, suguei a pele como um vampiro sedento por sangue. Os gemidos dela me instigaram ainda mais. Apertei a cintura, trazendo—a para mais perto de mim.

— Com licença. — A voz masculina chamou nossa atenção.

Theodora se afastou de mim num pulo e eu vi meu pai parado há poucos metros de nós. Eu me posicionei no banco de maneira a esconder Theodora atrás de mim, mas eu sabia que o gesto era em vão.

— Moça, vi seu namorado procurando por você. Acho que é melhor você ir atrás dele — meu pai falou. O tom de voz dele era sereno e eu não sabia dizer o que ele pensava naquele momento.

Theodora se levantou, visivelmente envergonhada e saiu sem dizer uma palavra.
— Passe no banheiro antes porque seu batom está borrado.

Vi no rosto do meu pai que ele estava se divertindo com o constrangimento de Theodora.

— Sim, claro, obrigado. — Ela não ousava encará-lo e saiu correndo de volta para a mansão.

Eu me levantei do banco de concreto e andei em direção ao meu pai.

— Então é aqui que você se meteu.

— Olha pai, a Theodora...

— Eu já tinha percebido como você estava olhando para a nora do Toninho e eu sei que ela não tinha a menor chance de resistir à você. — Deu um tapinha no meu ombro — Você lembra muito eu mesmo quando jovem. Se eu queria uma mulher, seja lá qual fosse, eu sempre conseguia.

Ser comparado a ele naquele quesito me deixou de cabeça quente. Sempre admirei Octávio Servantes como pai, profissional e amigo, mas não o marido galinha que ele foi.

— Eu não sou como você!

— É claro que é — ele riu. — Você é um caçador, tá no seu sangue. Mas meu filho, tudo tem seu lugar. Betina está nessa festa e não gostaria que seu relacionamento com ela terminasse antes mesmo de ter começado. O pai dela é nosso maior parceiro comercial.

— Eu não ia trair a Betina... — Me defendi, mas eu mesmo não acreditava nessas palavras.

— E a moça está com um dos convidados. O Toninho é um homem muito agradável e praticamente já me decidi por fechar o negócio com eles.

— Entendo — eu disse, pois apesar de meu pai ser um homem baixinho, era eu que me sentia pequeno perante ele. — Não vou causar problemas.

— Excelente. Vamos esquecer isso — riu. — Você é homem e eu sei como é. Apenas escolha outra garota para se divertir e faça isso bem longe dos conhecidos. Achei que fosse mais esperto.

Ele saiu e me deixou sozinho, com meus próprios pensamentos.

Insaciável - Quero devorar você! (Amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora