Capítulo 10

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Theodora

Eu voltei para dentro da mansão com o rosto em chamas. Estava tão desorientada que não sabia para onde ir. Por sorte, Kaique e Lisa me interceptaram logo que me aproximei do salão e juntos subimos as escadas que davam para um imenso corredor.

— Dona Ofélia já me mostrou o meu quarto — Lisa indagou, me puxando pela mão.

Entramos todos no cômodo e, se o momento fosse outro, eu teria me encantado com o papel de parede em tons de camurça e branco. Eu apenas sentei na cama despejando todo meu peso nela, como se fosse um saco de batatas.

— Menina, o que aconteceu? Você saiu da pista e depois reapareceu com essa cara — Kaique disse.

— Eu torci o tornozelo — comecei dizendo.

— E você não foi ver se ela estava bem? — Lisa interrogou Kaique que se fez de desentendido — Você é um péssimo namorado!

— Você também estava ocupada demais com o caçula dos Servantes, que eu vi. Eu te trouxe aqui para dar apoio à sua irmã.

— Gente, não precisam discutir por minha causa — eu pedi com voz cansada.

— É que você está com uma cara péssima. — Lisa se abaixou para examinar meu tornozelo — Ta doendo tanto assim?

— Não, senti mais na hora.

— Então porque está desse jeito?

— Ai gente, eu fiz merda. — Mordi o lábio inferior — Fiz merda, Kaique.

— Querida, conte o que aconteceu e vamos avaliar juntos se realmente é algo ruim. Você tem uma tendência a dramatizar tudo — meu amigo disse, se sentando ao meu lado na cama e pegando em minha mão. — O que aconteceu?

— Eu beijei o Robert...

— O filho mais velho do Sr. Servantes? — Kaique arregalou os olhos.

Lisa caiu na gargalhada e olhou para mim como quem dizia: "eu sabia que isso ia dar nisso".

— Como isso foi acontecer? — Agora Kaique parecia preocupado.

— Eu fui para o jardim porque torci meu pé, estava um pouco alta também e queria tomar um ar. Um tempo depois o Robert apareceu, rolou um clima e nos beijamos — expliquei.

— Quem iria imaginar...

— Ah! Tá falando sério, Kaique? O cara não conseguia disfarçar que estava caidinho pela minha irmã — Lisa olhou em reprovação para meu amigo. — É claro que você não notou, porque abandonou ela sozinha nessa festa.

— Tá, já ouvi! Garota chata — resmungou e voltou-se para mim. — Ok, não é nada demais. Essas coisas acontecem e vamos fingir que nada aconteceu...

— Mas não acabou aí. — Eu mordi ainda mais forte os lábios, já prevendo a reação do meu amigo — Estávamos nos beijando quando fomos interrompidos. Era o Octávio Servantes.

— Não!! — Lisa exclamou. — Sério? Que bosta!

— Tessy! — Kaique levantou na mesma hora e parecia que ia ter um chilique — Como você deixou isso acontecer?

— Perdão! — implorei. — Eu juro que tentei resistir, mas... não sei explicar. Quando ele está perto de mim eu não consigo pensar direito — confessei.

— Ah caramba, você também está muito afim dele. — A cara do Kaique não era boa — Vão achar que sou corno agora. Eu queria mostrar que...

— Desencana, colega! — Lisa veio em minha defesa — Isso é bom para você. É um álibi para terminar com a Tessy. Você não disse que teria que encontrar uma desculpa para terminarem?

— Pois é...

— Além do mais, eu escutei que esse negócio do velho ser homofóbico é balela. O funcionário usou desse artifício para fugir da demissão por justa causa.

— Você ouviu isso? — Me interessei.

— De fonte confiável — Lisa disse. — Cristian e o amigo chato dele estavam falando disso hoje na piscina.

— Amigo chato?

— O tal de Victor. Aliás, ele não foi com a minha cara — ela reclamou.

— Você sempre acha que as pessoas estão encanando com você, Lisa.

— Então esse nosso teatrinho foi a preço de nada? — Kaique começou a falar enquanto andava de um lado para o outro do quarto — Só que agora eu não posso simplesmente desmentir, seria ainda pior.

— Sempre achei tudo isso uma péssima ideia — retrucou Lisa.

— Eu também — informei. — Mas você e seu pai pareciam muito determinados.

— Meu pai enfiou essa paranóia em mim. E o contrato é um grande negócio pra gente.

— Bom galera, segue o plano. — Lisa era a mais tranquila de nós, mas também não tinha nada a perder — Amanhã vocês continuam fingindo que são um casal. Você, Tessy, fica longe do filho mais velho do Servantes, ok? Você estava um pouco tonta por causa da bebida, isso é sempre uma boa desculpa.

— Lisa tem razão. Quem nunca bebeu e beijou quem não devia?

— Então assunto encerrado. Tessy, você viu que tem uma cama de casal aqui, pode dormir comigo .

— Obrigado Lisa. Parece que prepararam um quarto para mim e para o Kaique. Te amo, amigo, mas prefiro dormir com minha irmã.

— Sem crise. E ninguém vai estranhar caso percebam que você não dormiu lá comigo. Lisa bebeu horrores e todo mundo deve pensar que ela vai passar mal a noite toda.

— Eu estou excelente, Kaique. Sóbria.

— Então vou deixar as moçoilas por aqui. — Kaique nos cumprimentou com beijinhos no rosto — Durmam bem. E nada de surpresas amanhã, viu Tessy!?

— Eu prometo me comportar.

Kaique saiu, nos deixando sozinhas. Como não estávamos preparadas para passar a noite, tiramos os vestidos e nós deitamos de lingerie. Lisa apagou as luzes e nos cobriu com o edredom.

— Ao menos valeu a pena, Tessy?

— Oi? — Eu estava quase dormindo e mal ouvi o que minha irmã dizia

— Eu perguntei se o beijo valeu a pena.

— Sim, muito.

E adormeci.

No dia seguinte eu acordei muito cedo. Lisa dormia profundamente ao meu lado.

Tentei esquecer Robert, contudo a cada minuto o rosto dele vinha à minha mente. Nunca um beijo foi tão bom assim. As mãos deles pareciam mágicas...

Se eu tivesse sentindo metade disso quando namorava Ector, talvez o sexo tivesse acontecido.

Coloquei o vestido de verão que usei quando cheguei na mansão. Passei um pouco de maquiagem e desci. O café da manhã ainda não fora servido, porém alguns convidados já estavam na área da piscina conversando.

Logo Ofélia me viu e se aproximou de mim. Mesmo sorrindo, achei que o olhar que me dirigia era um pouco suspeito.

— Dormiu bem?

— Sim, muito bem.

— Marta arrumou um quarto especial para você e seu namorado, já que era a primeira vez de vocês na nossa casa.

— Minha irmã bebeu bastante e não estava passando bem, por isso achei melhor dormir com a Lisa e ficar de olho nela.

— Entendi, é uma pena — Ofélia respondeu. — Bem, o café vai demorar mais alguns minutinhos para ficar pronto. Quer aproveitar para conhecer meu ateliê?

— Sim, eu adoraria.

Segui mulher até o terceiro piso onde um ateliê foi montado com vista para a área de lazer. Ali do alto era possível vislumbrar outras três mansões igualmente magníficas.

— Esses foram os últimos. — Ela apontou e me deixou à vontade para observar os quadros.

Eram muitos e apesar de bonitos eram mais do mesmo, as paisagens eram muito parecidas entre si.

— Robert gosta dessa. Prometi dar a ele, quando se casar.

— É realmente um belo trabalho — eu respondi.

— Betina também gostou desse. Ela é uma excelente garota, sábia?

— Sim. — Eu comecei a ficar apreensiva — Ela foi muito gentil comigo.

— Então ela foi gentil com você... e mesmo assim você beijou o noivo dela? — ela me perguntou, ofendida. — Eu abri as portas da nossa casa para você e é assim que retribui?

— Eu não...

— O meu marido contou. — Ela me olhou com os olhos acusadores — Octávio estava se vangloriando do filho.

— Eu não tinha a intenção. Juro! Além disso, eu bebi um pouco também.

— Sei.

— E seu filho é quem apareceu atrás de mim. — Me defendi.

Ofélia voltou-se para um dos quadros semi-acabados, e continuou a falar, de costas para mim.

— Eu realmente notei que ele não tira os olhos de você, mas você parecia tão bem ao lado do seu namorado que não achei que ia ser tão fútil.

— Dona Ofélia, não é justo que eu leve a culpa sozinha. Seu filho veio atrás de mim...

— E você não conhece os homens? — me repreendeu. — Tem um bicho insaciável dentro deles, nós mulheres é quem devemos ser o freio. Cabe a mulher dizer não.

Eu não concordava com aquilo. Não era justo e eu queria gritar com ela, mas senti que só pioraria a situação. Estava muito constrangida e apenas ouvi calada.

— Por sorte, Betina estava dançando com os amigos. E santa menina, não notou toda a malícia que estava rolando entre vocês. Se depender de mim, nem vai notar, Theodora. Não quero que pense que não gosto de você, mas quero que meu filho seja para Betina, um marido muito melhor que o pai dele foi para mim.

— Me desculpe.

— Aceito a desculpa e peço que fique bem longe do Robert. Quando ele for na sua direção você vai para outra .

— Pode deixar.

— Ótimo. Bem, já devem ter servido o café da manhã.

Ela saiu na frente e eu fui atrás dela uns vinte passos.



Insaciável - Quero devorar você! (Amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora