Frio: A sensação produzida pela falta de calor em um corpo ou matéria. Era assim que me sentia desde que ela partiu na última noite de outono, desde então os calafrios percorrem meu corpo e sigo em busca de um calor, mas não um calor qualquer, precisava ser o dela.
Costumava dizer que ela era quente, como o sol de verão, capaz de acalentar qualquer matéria existente. Ela dizia que eu era fria, como uma noite de inverno, porém não um frio dolorido, mas sim um frio confortável que se faz necessário. Éramos a harmonia dos contrários, tão diferentes, mas juntas tornavam-se um só, um só corpo, um só dia, uma só noite, um só desejo.
Recordo-me dos nossos momentos, de como presenciamos os nasceres do sol até ele se pôr, de como sua pele irradiava um brilho tão único que era capaz de iluminar o ambiente, de como você me fez sentir pertencente a algo, a alguém!
Eu não posso negar que me levanto ao amanhecer pensando em ti, que no anoitecer você ainda está lá! nos meus sonhos você permanece, um grande ciclo vicioso de como minha mente ficou após você. E eu não sei porquê mas você nunca encontrou sua maneira de sair dali.
Paro para pensar em como era a sensação de viver ao seu lado, é como se eu voltasse no tempo, como se você ainda estivesse aqui, como se eu pudesse sentir o teu calor. Mas você não está mais, não presencialmente.
"O verão sem você é frio como o inverno.
O inverno sem você é ainda mais frio."
Ainda consigo enxergar as folhas de outono, de vermelho e ouro. Eu vejo seus lábios, nossos beijos quentes em um dia de verão, de como era o gosto deles, adocicado de uma maneira em que nenhuma substância é capaz de reproduzir.
Suas mãos queimadas pelo sol, as mãos que eu costumava segurar, as mãos tão delicadas que me tocavam como se eu fosse uma deusa pertencente ao monte olimpo, que merecesse tal veneração. Foram essas mãos que me fizeram tocar ao céu. Com você descobri que prazer está muito além do físico, você não me tocava, você amava a mim e a minha alma.
Quando você partiu, os dias passavam tão devagar, o único antídoto era aquela antiga canção de inverno que sempre estava a postos na vitrola. Frank Sinatra foi o único que presenciou dos nossos maiores amores às nossas maiores brigas, mas nunca a nossa despedida. Tola, nunca chegamos a nos despedir, por que não me deu esta chance Soraya Thronicke?
Eu sinto sua falta, sinto mais do que tudo minha querida. E quando as folhas de outono começam a cair, te vejo sair por aquela porta e nunca mais voltar. Meu primeiro e único amor acabava de me deixar em murmúrio pela eternidade.
Foi naquela última noite de outono que meu mundo desabou. Você era meu mundo, era o que me fazia seguir, era o meu oxigênio diário, tal qual uma planta precisa do sol para a fotossíntese. Quando você se foi, levou não apenas uma parte de mim, mas meu ser por completo! Tive que aprender a ser alguém, a ser Simone Tebet sem você! Essa foi a minha maior lástima pelo resto da vida.
Durante toda a minha vida, acreditei que bastava uma pessoa ler muitos livros para ser capaz de resolver um problema. Qualquer problema, seja ele trivial ou insólito. Agora, não tenho tanta certeza disso.
Li milhares de livros, de contos até às coletâneas de poesias mais simples, mas aprendi que "o que você não lê é muitas vezes tão importante quanto o que você realmente lê."
Me questiono em que ponto nos perdemos, onde deixamos de ser harmonia para nos tornarmos apenas contrários. Posso lhe jurar que não me recordo, não recordo quando o amor começou a falhar, quando o companheirismo se esvaiu, quando meu toque parou de ser suficiente, não recordo quando deixamos de desejar uma a outra pois ainda te desejo, e é um desejo que queima todo meu ser de corpo e alma.
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Harmonia dos Contrários - [Simone x Soraya]
Conto"Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas quanto maior é a perda mais profundo é o corte. E mais difícil é o processo pra ficar inteiro novamente." Dois opostos em harmonia, uma vida juntas, um amor sólido, forte, que perdurará por gerações, mas...