Desde pequeno, Shuu tinha brontofobia. Sempre que chovia, escondia-se debaixo das cobertas ou era acalentado pelos braços de Kaeki, seu pai, que cantarolava até que o filho adormecesse, garantindo que tudo ficaria bem.
Ainda assim, o reluzir estridente dos raios e o ribombar dos trovões lembravam rosnados de monstros assustadores, prontos para devorarem-no quando colocasse os pés fora de casa.
No fim, o destino fez pior que isso, e não teve piedade. Afinal, quem poderia imaginar que esses mesmos monstros matariam seu pai?
Com um longo suspiro, ele voltou a se recostar no sofá preto da churrascaria, passando a mão pelos cabelos brancos como a neve, cada vez mais inquieto. Todavia, procurou manter o foco no clima chuvoso lá fora, as ruas encharcadas refletindo o brilho úmido dos faróis e outdoors luminescentes de Kanto.
Shuu não ouvia mais os rugidos dos monstros de minha infância. Aquele garotinho triste e solitário cresceu, afinal, tornando-se um homem de trinta anos calculista e decidido, que não media esforços para alcançar suas ambições almejadas.
Naquela noite, porém, confiança era a última coisa que prevalecia em seu interior. Ele iria reencontrar alguém que não via desde a adolescência, ainda que trouxesse lembranças dolorosas com o calor de seus olhos cor de avelã, junto ao sorriso torto de sua boca tentadora, os cabelos azuis turquesa escuros bagunçados.
De repente, ele ouviu aquela voz se aproximar da mesa que reservou para os dois. Ela parecia um pouco diferente, mais máscula e amadurecida de um modo charmoso, mas ainda do jeitinho que eu recordava.
— Ora ora, se não é o nosso rockstar favorito. Quanto tempo! — saudou-me com entusiasmo, seu olhar felino concentrado no meu.
Este homem deslumbrante é Rain Shizui, seu primeiro amor.
🌧️
12 anos atrás
Ambos se conheceram no Ugetsuyu Daichi, o internato do qual Shoji Takahashi, o tio de Shuu, era o diretor. O lugar onde ele morou peloo resto de sua adolescência após a perda de seu pai.
A mudança foi difícil e lenta no começo, até entrar para a banda de alguns colegas tão desajustados quanto ele, a Water Dragons. Dali em diante, sua fama de popular só cresceu, a música tornou-se um refúgio inseparável para o seu coração vazio. E foi graças a ela que, numa tarde quente de show de talentos, conheceu a pessoa que tiraria sua vida dos eixos.
Shuu estava fumando do lado de fora do prédio. Sua banda havia se apresentado poucos minutos antes, e pesar de gostar dos caras malucos que tocavam ao seu lado, ainda não se acostumara com a multidão, precisava ficar sozinho às vezes.
Infelzmente, o clique repentino de uma câmera fotográfica tirou sua paz, atraindo seu olhar afiado na direção do som, a tempo de ver uma silhueta correr.
Shuu tinha o humor impassível, dificilmente algo o perturbava, a não ser uma coisa: quando invadiam seu espaço pessoal sem permissão.
— Aí, aonde você pensa que vai? — grunhiu ao prensar o rapaz contra a parede pela gola da blusa, impedindo-o de fugir.
— Wow, wow! Calma lá, bonitão, eu me rendo.
Um par de olhos castanhos brilhantes encontrou os seus, seguido de um sorrisinho cínico que aumentou sua raiva. Shuu o conhecia de vista, todos conheciam o dono daqueles cabelos azul turquesa escuros e longos - naquela época, eram na altura dos ombros -, aqueles traços esbeltos que eram herança de sua mãe japonesa e seu pai estadunidense, seus trajes sempre chamativos e estilosos.
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Temporal
Short Story"Separados, somos tormenta e desastre. Unidos, somos eletrizantes" Shuu Takahashi odiava chuva. Por causa dela, na infância, ele perdeu o pai amado, tornando-se uma tempestade durante a adolescência: os olhos cinzentos sem brilho, a calmaria selvag...