- Aquele com o conselho -

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- O que é isso? - ele perguntou ao notar o incômodo sentado a mesa. - Tudo bagunçado. Moretti! Dá um jeito nisso, tudo revirado.

- Sanduíche. Quer? - o homem ignorou a reclamação.

- Seja mais civilizado. Desse jeito não dá! Olha como tá esse lugar.

- Tá, tá, tá, depois eu arrumo.

- Vou sair. - o advogado pegou as chaves e a carteira, pôs o celular no bolso, respirando fundo para não explodir de ódio. - Arruma essa bagunça.

Stenio saiu bufando. Quase dois meses desde que ele aceitara o amigo em sua casa, apenas pq queria dar uma ajuda, já que a situação dele não era favorável.
O homem não tinha ideia do que fazer com a sua própria vida.

Tudo começou a desmoronar com o divórcio, e a ex mulher ser uma vingativa incurável não ajudava em nada. Todos os conselhos que Stenio dera ao homem, foram em vão, ele se acomodou lá, e não dava sinais de que iria sair.

O advogado perdeu as contas de quantas vezes chegou a ponto de surtar com toda aquela aproximação exagerada, e toda a perseguição do cliente. Moretti sempre foi um homem de negócios, mas nos últimos tempos, desde a mudança, só sabia reclamar, e pegar no pé dele.

Todas as oportunidades que Stenio tinha com Heloísa, eram desperdiçadas por uma estupidez ou uma ligação dele. Ele não se sentia mais um amigo advogado, ele estava se tornando um pai, uma babá... um amante?

O homem perdeu completamente a noção do ridículo. Perdeu a capacidade de pensar racionalmente, e virou um idiota. Toda e qualquer oportunidade que tinha, arranjava problemas para si, e consequentemente, para Stenio.

As dores de cabeça o acompanhavam 24 horas por dia, e o único lugar que parecia ser analgésico para ele, era a casa da ex mulher, de preferência na companhia da própria. Ele se dirigiu até o carro, na intenção de aliviar a dor que sentia nas têmporas desde o início da manhã, indo ver a única pessoa com quem conseguia conversar.

Passeou pelas ruas, quase desertas pelo horário tardio, ansioso para ver o rosto dela. Lembro-se que ela poderia estar cansada e estressada pelo trabalho, e resolveu parar para comprar o chocolate preferido dela.

Heloísa sempre se sentia melhor depois de comer aquele chocolate. Ele se lembrava de quantas vezes ela havia devorado uma caixa daquelas após chegar muito irritada em casa, e ele a presenteava com eles. A mulher abria sempre um largo sorriso, toda a tensão parecia deixar seu corpo instantaneamente.

Não era tão eficaz quanto uma garrafa de vinho, mas ele sempre conseguia um ou dois beijinhos. Depois uma massagem nas costas e nos pés era tiro e queda. Aquela memória o fez rir, e quando a take yo praise tocou no som do carro, Stenio apertou ainda mais o acelerador.

Chegando ao prédio, e andando em direção a portaria, ele não tinha mais o mesmo sorriso de antes, pq sabia que a noite poderia piorar se Heloísa apenas o expulsasse de lá, sem ao menos ouvir suas angústias.

Pegou o elevador apreensivo, pensando que talvez aquela não tivesse sido uma boa ideia, ainda mais pq teria que voltar decepcionado para casa, e se frustraria ainda mais por causa do homem instalado em seu sofá.

A porta do elevador se abriu, revelando a ele um pequeno corredor, onde ele caminhou em direção a porta registrada com 2,0,2 na frente. Ele encarou o pedaço de madeira marrom claro, e pensou se não seria melhor dar meia volta e parar em um bar no caminho, onde tinha certeza que teria um resultado menos frustante.

Por fim, ele bateu na porta. Algumas vezes. Heloísa abriu a porta, e ele a viu dentro daquela camisa enorme, que a deixava linda. O decote, sua marca registrada, era bastante atraente, porém ele o encarou apenas por alguns segundos. Não queria deixar a morena irritada tão rápido.

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