Se tem algo que odeio, é a arrogância que as pessoas possuem. Eu acho que a pior das arrogâncias, é fingir saber de algum assunto, mas é ao contrário, a pessoa se baseia no que pensa. Eu trataria isso como preconceito, se não fosse comum hoje em dia. Era meu primeiro dia no batalhão B3, eu estava sentada em uma fileira, havia várias fileiras com pelo menos outras vinte e oito pessoas da minha idade, cruel.
- Sejam bem-vindos recrutas, vocês sabem muito bem porque estão aqui- Disse um homem mais velho, ele estava em um palco com um microfone, atrás dele haviam alguns capitães, tenentes e sei lá oque mais- Vocês serão profissionalmente treinados para lutar contra essas aberrações- Falou o senhor, cruzei meu braços e provavelmente fiz uma cara irritada, se eu fosse essas criaturas também ficaria irritada com os humanos.
A palestra deve ter durado pelo menos 1 hora, porque haviam tantas pessoas dormindo ou jogando, ao acabar recebemos nossos uniformes quase que de imediato, e neste momento estávamos todos indo para os dormitórios. Meu batalhão havia cerca de quatorze pessoas, algumas estavam tão animados, outros mais cabisbaixo.
- Ei, qual o seu nome?- Perguntou uma menina loira, ela era bem mais alta que eu, tinha olho castanhos e parecia ser uma das animadas
- Lily, e o seu? - Perguntei dando um leve sorriso, era irônico porque não era sincero. Ela estendeu sua mão para um aperto, e eu apertei.
- Sou Kate, você é tão fofinha- Ela disse logo em seguida, confesso que eu não esperava isso, quantas vezes fui elogiada em minha vida? Três vezes? Não faço a mínima ideia, mas logo me enturmei com o resto do batalhão graças a ela, valeu Kate.Por incrível que pareça, eu dormi perfeitamente bem. Acordei com um traço de luz solar em meu rosto, grunhi um pouco, excesso de luz doía bastante. Sentei em minha cama e olhei ao redor, todos estavam dormindo ainda, uns quase caindo da cama até. Sai da cama, entrando em contato com o chão gelado do dormitório, era realmente terrível esse ambiente, mas seria essa minha vida até a última missão. Arrumei minha cama, e peguei meu uniforme, fui ao banheiro me trocar.
Coloquei a farda, e me olhei no espelho. Esses cabelos pretos com está farda escura nunca combinou tanto, mas está tudo bem, nada combina comigo de certa maneira. Arrumei meu cabelo, coloquei uma presilha em formato de estrela na tentativa de prender uma parte de minha franja, que irritava meu olho. Sai do banheiro e todos continuavam dormindo ainda, então olhei meu relógio e vi que eram 05:55 ainda. Apenas os batalhões da ala A estariam acordados em treinamento, então, por que não vê-los?
Girei a maçaneta cautelosamente para não acordar a todos e sai do dormitório. Andei pelos corredores gigantes que haviam pelos dormitórios, só de pensar que esse era o primeiro prédio de dormitórios e haviam mais cinco, era assustador. Quantas pessoas já morreram e que dormiam na cama aonde eu durmo? Fico pensando nisso. Desci as escadas devagar, haviam alguns veteranos subindo e descendo, alguns conversando, outros mais sérios, e mais outros carregando roupas e cartas. Cheguei no local de treinamento, era barrado por cercas de madeira, era perigoso mexer nesta cerca, tantas farpas. Fiquei ali em pé, observando o treinamento, igual a algumas outras garotas. Aquele batalhão era o A2, os veteranos da ala mais jovem, seria estranho eu falar que conheço pelo menos três pessoas deste batalhão? Desde o dia que cheguei aqui, na ala órfã e vim para o exército, eu conheci três pessoas que sempre estiveram aqui comigo e por mim. Liam era o mais velho, tinha dezoito anos já. Há boatos que falta pouco para ele virar capitão de seu batalhão, por ele estar a mais tempo. Digamos que ele é o mais animado ai, o metido e oque as garotas mais amam, irritante mas engraçado. Stan era o do meio, dezessete anos, ele tinha uma cara fechada que fazia as meninas se apaixonarem nele, era rude com todos, frio e desigual, mas tinha um senso de humor incrível também. O último é Rick, ele tem dezessete também, mas faz aniversário por último, ele é o palhaço deste trio, o preguiçoso mas um ótimo conselheiro.
Eu não havia reparado, mas o treino deles havia acabado e Rick percebeu minha presença, arrastando os outros dois em minha direção.
- Lily! Ai meu Deus! - Disse ele sem fôlego, soltando os dois de sua mão, pondo uma delas em seu peito para rrecuperarsua respiração - Você realmente conseguiu entrar no exército!- Disse ele fazendo uma cara de 'estou orgulhoso de você'.
- Cheguei ontem nesta ala- Eu disse fazendo um cara animada batendo as mãos, não era tão animador saber que metade de meus amigos morreriam mas era divertido participar junto a eles.
- Seja bem-vinda ao inferno- Disse Stan, puxando de seu bolso um maço de cigarro, pegando um e acendendo com seu isqueiro, logo pondo em sua boca- Talvez você perca um dedo, quem sabe dois- Disse ele rindo, confesso que também ri um pouco.
- Vocês quatro, bom saber que pelo menos uma recruta do B3 está acordada- Disse o capitão do batalhão deles, logo mantemos posição, e ele nos deu sinal de descanso - O batalhão A2 e B3 irão a uma missão juntos, os veteranos ajudarão os novatos, estão ouvindo?- Disse o capitão quase berrando no ouvido dos três, e só ouvi um "sim capitão" vindo dos três, e bem alto.- Quem diria que iriamos te ajudar na sua primeira missão, Lily!- Disse Rick com um sorriso enorme em seu rosto, ele pulou a cerca e me deu um abraço muito inesperado, era possível pular aquela cerca naquela velocidade? Acho que isso foi um sim.
- Larga a coitada, vai ficar sem ar e morrer antes da primeira missão- Disse Liam
- Isso merece uma comemoração, não concordam? Depois que acabarmos sua missão!- Disse Rick se afastando do abraço mas ainda agarrando meus ombros, acho que estou meio tonta
- Claro por que não- Eu disse tentando afastar um pouco ele.
- Se vemos lá!- Os três saíram acenando para mim, e eu fiz o mesmo. Olhei meu relógio e vi o horário de 06:40, hora de tomar o café gosmento da cafeteria.O chiado de um walkie talkie é definitivamente o barulho mais irritante que ouvi, está na minha lista de piores barulhos da humanidade, atrás de unha em um quadro negro. Aquela caminhonete carregava tantos soldados, incluindo eu e aquele trio, mas não havia aquela energia de sempre. Todos pareciam cansados, talvez com medo. Estar nervosa era comum? Será que eles também ficaram com medo em sua primeira missão? Abri a boca para falar algo, mas soltei um longo suspiro, dando uma olhada rápida em Stan que estava ao meu lado. Me virei para frente e puxei um pouco o ar para falar.
- Stan, qual foi sua motivação para estar aqui?- Eu perguntei sem virar meu rosto para ver o dele, mas devo ter pego desprevenido, pois vi de recanto seu rosto virar imediatamente para o meu
- Provavelmente a quantidade de mortos que saiam, por dia - As duas últimas palavras saíram com um tom mais forte, possivelmente raiva, oque me fez olhar para ele, com uma cara meio cabisbaixa, acredito eu - E você lily? - Confesso que fui pega desprevenida, mesmo esperando está pergunta
- Acho que ver meus pais sendo mortos teve um certo impacto sobre mim- De certo modo, eu não estava mentindo. "Corre lily" e "Corre filha" foram as últimas palavras deles, quando virei para trás para vê-los, eles estavam sendo devorados, vivos.
Fechei um pouco meus olhos, sentindo um pouco de agonia só de imaginar aquela cena grotesca, metade deles ali no chão, e outra na boca das criaturas, era tanto sangue que com certeza iria reabastecer as campanhas de doação de sangue por meses, ou até um ano. Voltei pra realidade quando senti uma mão em meu ombro, era Stan que me olhava da forma mais suave e gentil possível, mas também preocupado
- Me desculpe- Eu disse me recompondo, não há mais oque fazer a não ser acabar com esta onda de terror, pelo menos, é oque me falaram.
Chegamos no local e todos saiam rapidamente da caminhonete, era um armazém escuro, quase sem nenhuma iluminação. Coloquei em meus olhos os óculos de visão noturna para me auxiliar na missão, e todos também estavam fazendo o mesmo
- Um veterano para cada novato- Disse o capitão fazendo um sinal de dois com seus dedos - Vamos cercar a criatura por todos os lados- Assenti junto dos outros, Stan estaria ali para me ajudar de qualquer forma. Fomos para os fundos junto de mais quatro duplas, ele estava um pouco a minha frente caso aconteça qualquer coisa(eu diria fofo se não fosse trágico, de certa forma), porém, não adiantará de muito se houver mais de uma criatura. A primeira dupla, contendo o Capitão Philip e o tenente Carl (de meu batalhão) estavam na frente de todos ali presente, logo abriram a porta dos fundos, por dentro era ainda mais escuro e assustador. O ambiente em si dava um frio na espinha, parecia úmido, frio e bem tenebroso. Senti algo pingando em meu cabelo, olhei para cima e vi oque seria a baba desses monstros, oque me fez sentir um leve repulso, mas Stan me puxou pelo pulso devagar, para seguirmos em frente.
- Não pode se distrair assim- Disse ele, quase sussurrando, era bem suave mas tinha um tom bravo em sua voz.
Não demorou dois, ou três minutos para que um grito da porta da frente tivesse sido ouvido, e um ruído alto o suficiente para ser escutado do armazém inteiro ecoasse por todo o local. Tampei de leve os ouvidos e ouvi o capitão falar algo como "Acharam ela".
Todos corremos até lá, e era a criatura que precisava ser morta. Era feita de carne, aquela bem vermelha que temos debaixo da pele, um formato humanoide também. Havia cabeça, torso, braços, pernas e pés. Gritava como uma pessoa, sofria como uma também, oque me deixou bastante aguniada. Na tentativa de esquecer aquela cena grotesca virei o rosto e me deparei com algo brilhante, era um traço de luz lunar, iluminava outra criatura mas desta vez criança, e ela chorava, baixinho.
Havia uma criança, afinal de contas. Só consegui ouvir seu grito agudo e seu rosto ofuscando fogo, estava sendo queimada viva também.Isso, isso era arrogância. Era crueldade.
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Entre Dois Mundos
Ficção CientíficaEm algum ponto da história, não se sabe ao certo, humanos não seriam os únicos seres humanoides a existir. Diversas criaturas, denominadas 𝘦𝘴𝘤𝘢𝘮 𝘩𝘶𝘮𝘢𝘯𝘰𝘪𝘥 (Carne humanoide), que tinham como propósito proteger laboratórios, se revoltaram...