Sanji, o azarado

Capítulo Único

Foi em uma noite chuvosa que o pequeno Sanji de quatorze anos foi deixado pela primeira vez sozinho em casa. Zeff resolveu passar a noite limpando, com alguns funcionários, os estragos da enchente no Baratie, deixando assim o garoto só naquela casa escura. 

A princípio aquela foi a melhor notícia que Sanji poderia receber, ficar até tarde acordado, comer besteiras à vontade, jogar online sem ser interrompido e, quem sabe, buscar uns filmes adultos para assistir sem fone no seu notebook. 

Tudo perfeito, exceto pelo fato dele ter superestimado sua coragem, duas horas mais cedo conversava orgulhosamente com o marimo pelo telefone contando tudo o que pretendia fazer com o velhote fora e se gabando por não ter que trabalhar até tarde. Contudo, isso caiu por terra quando se viu sozinho em casa e ouviu o primeiro trovão alto.

No susto, ele desligou o videogame saindo da call com seus amigos. Só depois então percebeu seu erro ao se ver sozinho naquela casa escura e silenciosa, exceto pelo barulho da chuva e dos raios. O bairro estava completamente deserto. Não havia carros ou pessoas transitando. 

— Merda! Isso parece um filme de terror. — O loiro resolveu fechar as cortinas para não ter que encarar aquela paisagem mórbida. Ligou as luzes do quarto e se deitou debaixo das cobertas. 

Foram quinze longos minutos até ele sentir vontade de ir ao banheiro e mais vinte segurando xixi até se levantar andando apressadamente pelo corredor mais extenso do que lembrava. Se Luffy estivesse ali seria totalmente diferente, o moreno cabeça de vento não tinha medo de nada. Dormiria tranquilamente em um quarto todo escuro e ainda levaria de madrugada para fazer um lanchinho. Usopp, por outro lado, esconderia o máximo que pudesse o medo que sentia e ainda zoaria Sanji com todas as forças por estar numa situação parecida. Porém, ainda assim, só de estar com alguém de confiança já se sentiria mais tranquilo.

Ele aproveitou que já estava no banheiro para tomar um banho demorado, adiando ao máximo sua saída do cômodo. Porém, Sanji podia ser bem azarado às vezes. Assim que seu corpo estava relaxado debaixo da água quente, ele ouviu um estrondo tão alto que escorregou e teve que se apoiar no box para não cair de bunda no chão. Meio segundo depois o banheiro estava escuro, assim como todo resto do bairro. 

A princípio o loiro ficou ali parado esperando suas paranóias tomarem forma e toda hora encarava a porta com medo que esta se abrisse sozinha. O corredor então. Não queria nem chegar perto. Ficara ali parado alguns segundos, até que a água fria o obrigou a desligar o chuveiro, sendo assim ele aproveitou para se secar, mas não tinha trazido roupas para vestir. 

Então acabou concordando que o medo por si só já era ruim o suficiente, não precisava sentir frio também. Respirou fundo e abriu a porta cruzando o corredor quase voando e se trancou no quarto. Lugar seguro. Era só achar o celular e…

Tudo bem, talvez aquele não tenha sido o melhor momento para ele ter deixado para botar depois para recarregar. Ou poderia culpar novamente sua falta de sorte. 

Suspirando pesado, ele abriu as gavetas pegou qualquer roupa e vestiu. Afinal, poderia muito bem sentir medo estando devidamente vestido. 

Deitou na cama e tentou manter a mente ocupada contando carneirinhos. Já estava no cinco mil quatrocentos e vinte dois quando ouviu uma batida forte na porta. Sentiu seu coração parar. Da mesma forma que pensou ser mais uma de suas paranoias. 

Para o seu azar, ou não, não era. Assim, na segunda batida seu órgão pulsante já tinha saído pela boca e não pretendia voltar. Sanji se encontrava paralisado então, esperou as batidas cessarem na vã esperança da pessoa se cansar e ir embora. O que não aconteceu. Elas alcançaram um novo patamar de força e vinham em intervalos menores. Mas o loiro continuava inerte debaixo dos lençóis, até que ouviu: