Capítulo 12 - Intrusa

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Comicamente quando pousou na Suiça, apesar do alívio que se apossou do seu espírito seu outro eu estava angustiado. Não revelou a ninguém sobre a sua chegada antes do previsto e foi direto para o apartamento, tomou banho e se jogou na cama se condenando por tudo que havia acontecido. Tomou três comprimidos e tentou dormir para aliviar a ansiedade. Mas não funcionou só piorou a situação causando uma sensação de doping.

Passou o dia inteiro rotacionando de um lado para outro sem conseguir pregar as pestanas. Só queria deixar de existir... Seu celular não parava de tocar, cobriu-se mais e escondeu a cabeça embaixo do travesseiro. Ele sabia que não estava agindo corretamente e não poderia fugir para sempre, por outro lado não estava com ânimo para seguir em frente, então só restava fingir que o tempo e o espaço paralisou lá fora.

Passou a noite em claro novamente, dominado pela insônia, o cérebro não estava funcionando bem repetindo palavras de ataque e culpa. Ele encarou a sacada do prédio que parecia da-lo uma resposta minimamente aceitável. Felizmente, alguém abriu a porta do apartamento antes que qualquer pensamento torna-se algo mais do que um vulto.

- Amím meu lindo, adivinhe quem logo estará de volta? - colocou na bancada respirando fundo enquanto o verdadeiro dono do ambiente a analisava com seus mirantes de boneca incrivelmente mais brilhantes hoje - Aquele moleque não toma conta direito de você, onde já se viu deixar algo tão pequeno solitário. - fez carinho na cabeça alisando cuidadosamente o cãozinho e pegou o saco de comida canina cortando a boca com a faca e despejando na vasilha. Ele foi comer satisfeito.

Marry o deixou sozinho, prosseguindo até o banheiro para lavar as mãos e percebeu a porta do quarto do primo semi aberta, ela sempre verificava e as deixava trancada, causando um mal estar no seu estômago. Pegou o desentupidor de vaso, caso precisasse se defender e afastou a madeira fazendo-a ronronar esquisito atirando o objeto no corpo estirado fazendo Lyan se mexer sem se pôr na defensiva, ele havia escutado a voz dela, mas acreditou fielmente que a moça não o descobriria.

- O que está fazendo aqui? - Marry o questionou apanhando o travesseiro enquanto ele se deitava novamente cobrindo o rosto desgostoso.

- Essa é minha casa. - ironizou - A intrusa aqui é você...

- Intrusa uma ova... - replicou revoltada e puxou as cortinas do quarto iluminando o ambiente - esqueceu que sou eu a única responsável pela sobrevivência do seu cachorro, ingrato! - reclamou enquanto ele se virava para o lado oposto ao sol que invadia as janelas de vidro o fazendo contrair a vista inconscientemente. - Chegou quando? Achei que só viria na sexta.

- Estou com sono, pode ir embora? - pediu ignorando-a.

- Você querendo ficar quieto? - articulou estreitando os olhos invocada.

- Será que você pode ir e fingir que não me viu? - requereu abraçando a almofada.

Ela fez o completo oposto, se achegou se sentando na beiradinha da cama e tocando os pés dele com carinho.

- O que aconteceu? Reconheço esse olhar perdido. - soou meiga e aberta a escutar

- Nada. - a deu as costas se voltando para a claridade - Só quero ficar sozinho.

- Vem... - chamou se posicionando graciosamente perto da mesinha de cabeceira - Vou preparar um café.

- Se eu me levantar daqui vai ser para chamar o porteiro e te expulsar do meu apartamento. - afirmou ferozmente.

- Claramente aconteceu algo... - Ele fingiu cair no sono levando uma travesseirada que o fez se impulsionar para frente e quase cair.

- O que você quer?! - suas bochechas pareceram inchar e seus olhos quase saltaram de cansaço e irritabilidade.

Flor do desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora