Flor do deserto

Prefácio

"Era uma vez uma bruxa no alto do seu castelo, um castelo luxuoso, tinha um milhão de empregados, os talheres eram feitos de ouro e tinham diamantes cravados nas pontas, tudo era bonito nele, do piso ao teto. Mas tinha um porém, ninguém ousava ir a até  as redondezas do palácio, pois todos tinham medo da bruxa, já que ela amaldiçoava quem não realizasse seus desejos. O lugar que ela mais gostava era o terraço que ficava perto do céu, mesmo que ela nunca tentasse falar com Deus. O sol das seis era seu melhor amigo, ela fechava os olhos e esperava ele ir embora, para então poder abrir, assim nunca precisaria vê-lo  partir.

Ela colhia uma rosa do deserto no seu jardim magnífico todas as manhãs que morria no mesmo dia e depois era atirada pela janela. Certo dia, um rapaz apanhou a rosa que havia acabado de ser jogada ao vento  e levou para uma parte específica da extensão florida onde havia areia, abriu um buraco e replantou a flor que parecia dar seus últimos suspiros. Ele também, roubou, a água da fonte e deu um pouco para aquele ser vivo. Seus olhos, se cruzaram com as da bruxa que observava sua atitude do alto da sua varanda e diferente dos outros, ele não teve medo de encara-la. Na verdade, seus olhos brilharam ao perceber como os olhos dela tinham o mesmo tom de verde de uma árvore.

Ele voltou todos os dias que se seguiram para regar a planta que revivera e estava ainda mais bonita, ele sempre dava um sorriso e conversava com a rosa para anima-la. A bruxa gostava de encará-lo e por isso não o proibia de entrar escondido no jardim e até apreciava ouvir as histórias que ele contava. Um dia, ela tomou coragem e cansada de admira-lo de tão longe desceu e pela primeira vez foi até lá, onde só seus empregados podiam ir, quando segurou na flor ele segurou sua mão e a impediu que arrancasse.

- Não... - tocou a palma da mão dela e mostrou como ela deveria pegar, com delicadeza e respeito, comovido pelo olhos dela sorriu e a bruxa se apaixonou pelo sorriso dele. 

Todos os dias ele ia visitá-la e cuidava das flores com carinho a ensinando.

Porém, a bruxa tinha uma maldição, uma voz interior sempre a perseguia cochichando no seu ouvido palavras cruéis demais que a fizeram duvidar do amor do jardineiro, contrariando aquela voz foi visitá-lo na vila e convidá-lo para morar ao seu lado para que a sensação de solidão que ele deixava ao partir todos os dias desaparecesse. Os moradores não gostavam muito dela, pois ela havia amaldiçoado muitos deles, transformando-os em pedra ou sapo, teve até uma princesa que roubou suas maçãs e dormiu para sempre com gnomos tagarelas perto do seu ouvido.

Ainda sim, desviou dos olhares acusadores para encontrar o olhar afetuoso do seu florista. Mas percebeu que esse mesmo olhar estava brilhando para outra pessoa, ela voltou para casa e a voz não calou. No dia seguinte, como de costume, o florista foi visitá-la, mas ela não desceu e ele colheu uma das rosas, conhecida, por todos como 'rosa do deserto' ou 'rosa do milagre', colocou num vaso e bateu na porta do castelo que foi aberta por uma fada disfarçada de empregada que deixou que ele entrasse e fosse até o terraço. A esperançosa fadinha só queria ver a bruxinha sorrir daquele jeito que nunca havia visto até o dia que ela o conheceu.

Quando ele chegou ao terraço, ela não estava sorrindo, seus olhos verdes não estavam brilhando e sim mortos. Ele tentou entregá-la a planta, mas ela jogou no chão o presente que disse ser mesquinho espatifando-o. Depois também o amaldiçoou transformando-o em estátua. Antes que seu rosto endurecesse, ela viu o olhar decepcionado do jardineiro derrubar uma lágrima e dizer que a amava, mas era tarde, pois quando um feitiço era jogado jamais poderia ser remediado. Então, jogou uma maldição no próprio coração, o transformando também em gelo, pegou o roseiro e o jogou ao mar, amaldiçoada a não amar nunca mais."

FIM