Capítulo Único

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Ele estava tão feliz lá. Brincando com os ilus na água, parecia tão vivo, e eu amava isso nele. Sua alegria contagiante, sua risada tão gostosa de se escutar, seu amor e cuidado pelos irmãos, os pontinhos brilhantes que se assemelhavam a estrelas em sua pele, seu cabelo com vida própria, e mais do que tudo, os seus olhos. Olhos dourados que tinham uma capacidade incrível de me prender neles, era como um ímã, eu não conseguia me afastar.

Ele ainda não tinha me visto, estava tão entretido com os animais marinhos que nem sequer percebeu minha presença. Fui me aproximando aos poucos, sem tirar os olhos do meu amado. Ah! Como ele era lindo. Queria ter uma daquelas câmeras, que ele tanto falava, para registrar esse momento.

- ei! - ele chamou, com um sorriso no belo rosto - amor, o que faz aqui?

O que eu poderia responder? Estava passando e te vi aqui, brincando com os ilus? Vim te ver pois estava com saudades?

- só queria te ver mesmo - respondi - só isso.

- ah, está bem então. Venha, a água está ótima!

Eu amo tanto esse homem.

- estou indo, meu amor.

Entrei na água. Realmente, estava na temperatura perfeita para nadar. Cheguei perto dele e o abracei por trás, dando um beijo em seu pescoço, recebendo em troca um leve suspiro de surpresa.

- eu te amo, ma'teyam - disse, baixinho.

- eu também te amo, ma'nung - respondeu.

- senti saudades.

- mas nos vimos ontem - ele disse, com certa confusão.

- venha, vamos nadar.

Pulei na água sem esperar por ele. Não queria continuar naquele assunto.

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Nadamos por várias horas. Apostando corridas inúteis, fazendo acrobacias, nos beijando de baixo d'água, até cansarmos.

Neteyam fez um sinal que precisava de ar, então subimos.

- eu ainda não sei como você aguenta tanto tempo sem respirar. Isso não parece normal! - disse indignado.

- prática meu amor, apenas prática - respondi - sem contar que eu literalmente nasci dentro da água, e que eu sou um Metkayina e que vivi a minha humilde vida todinha no mar. Então...

- ah, tá tá já entendi. Vamos pra praia?

- claro.

Fomos nadando até a margem, e deitamos na areia. Era um lado calmo da praia, sem movimento algum, apenas dos ilus. Era um lugar realmente muito bonito.

- Neteyam - o chamei.

- sim, meu amor?

- você me amaria se estivesse morto?

- que tipo de pergunta é essa, boca de peixe? - perguntou, com certa desconfiança.

Ficamos um tempo em silêncio, e ao que parecia, ele não iria me responder.

Já estava pensando em falar outra coisa quando ele disse.

- claro que eu te amaria, independente do seu estado. Morto, vivo, casado com outro. E você? Me amaria se eu estivesse morto?

Uh, Neteyam. Você nem imagina.

- obviamente - respondi, prontamente - nunca deixaria de te amar, e sempre esperaria pelo momento em que Eywa me juntasse a você.

- e se você estivesse casado? E se tivesse filhos?

- eu nunca, jamais, em hipótese alguma,  esqueceria de você e do nosso amor. E eu não teria coragem para me casar com algum que não fosse você. Eu vejo você, Neteyam

Você me amaria se estivesse morto?Onde histórias criam vida. Descubra agora